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Hebe – A Estrela do Brasil (2019)

O Brasil produz três tipos de sucesso para o cinema: o filme para festivais, as comédias e as cinebiografias. Desde que Cazuza estreou o filão, figuras populares na memória afetiva brasileira têm ganhado protagonismo nas telas. Passou por populares compositores mortos como Renato Russo e Tim Maia, chegou aos vivos com o Erasmo Carlos e o Paulo Coelho, e até aos infames, como o Simonal. Agora é a vez dos apresentadores de TV, com a estreia da icônica Hebe Camargo (Andréa Beltrão).

Ao contrário da maioria dos listados acima, Hebe não acompanha a vida inteira, ou toda carreira da artista. Quando a produção começa, Hebe já é a apresentadora famosa com toda a carreira de rádio no passado e com um programa bem sucedido na Rede Manchete. Com os fins da ditadura militar, ela ainda luta pela queda da censura para poder ter no palco pessoas transsexuais. Ao mesmo tempo, tem que lidar com o ciúme a violência do marido, Lélio Ravagnani (Marco Ricca).

Assim, Hebe faz algo raro diante das outras cinebiografias nacionais. Ele conta uma história fechada. Ao mesmo tempo em que tenta prestar homenagem à pessoa real, demonstrar as facetas dela e divertir os fãs com as memórias.

Hebe em momento icônico para a televisão com a Roberta Close.

O que mais incomoda mesmo, são pequenas falhas no roteiro de Carolina Kotscho. Ao buscar uma narrativa fechada de estilo mais clássico, ela esquece de dar para a trajetória de Hebe contra a censura um clímax. A apresentadora começou a falar mal dos congressistas brasileiros, que responderam com processos internos contra ela e contra a emissora SBT. Mas esses antagonistas políticos não ganham face e nem aparecem. O conflito fica distante, em recortes de jornais e na televisão.

A roteirista prefere dar destaque para as repercussões pessoais. Como ela buscava apoio com o filho, Marcello (Caio Horowicz), e se resignava nos conflitos que carregava para o programa que apresentava. Por isso, mesmo que o filme termine em um ponto de triunfo após a vitória contra a censura, não parece que houve um fim.

Isso não é suficiente para estragar a experiência maior proporcionada pelo diretor Maurício Farias. Ele dá ritmo ao texto de Kotscho, que escreve ótimos diálogos. Então ver Hebe transitar da Manchete para o SBT é divertidíssimo porque a apresentadora era uma presença divertida. O que faz da espetacular performance de Beltrão algo fundamental.

Os dramas familiares são a segunda cara do filme.

Beltrão consegue mimetizar os trejeitos famosos de Hebe até o sotaque e ao timbre da voz. Chega a ser difícil reconhecer a atriz em diversos momentos. E Farias aproveita para fazer com que a intérprete se sobressaia aos outros nos enquadramentos, para reforçar como a personalidade da mulher que inspirou o filme se destacava em qualquer ambiente.

Para dar o tom da vida televisiva de Hebe, e reconstruir o fim da década de 1980 e o início da próxima, Farias conta com uma direção de arte extraordinária. Desde os vestidos vultuosos, passando pela casa repleta de curvas nos detalhes, chegado aos carros mais poligonais da época. E filma como se o filme fosse um programa de auditório brasileiro. A câmera está sempre abaixo dos atores, como a TV busca aumentar as celebridades. Além disso, aproveita cinematografia digital para estourar a entrada de luz como o videotape fazia no período retratado.

É uma cinematografia cuidadosa que faz com que a própria Hebe escrita por Koscho guie o espectador até que os créditos finais rolem. Assim, o filme diverte muito, mesmo que não tenha uma conclusão satisfatória. Vale ainda mais pelas ótimas interpretações.

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