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O Som ao Redor

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O cinema pernambucano vem chamando a atenção por suas obras de qualidade que tem sido lançadas. A novidade da vez é O Som ao Redor. E essa é das grandes. Reconhecimento internacional garantiu seu lançamento em várias regiões do Brasil. Ao mesmo tempo que isso é bom, também tem seu lado ruim.

O Som ao Redor é sucesso garantido entre quem gosta de filmes difíceis. Agora entre o grande público ele é completamente desconhecido. Eles vão preferir assistir De Pernas pro Ar 8000 ou qualquer imbecilidade com o Bruno Mazzeo. E aqueles que se meterem a testar uma sessão do pernambucano não vão entender e vão distribuir suas opiniões com o eterno “chato pá caralho”.
O filme acompanha algumas famílias de classe média de uma mesma rua. Uma dona de casa mãe de família que não aguenta sua rotina mas tampouco tem coragem pra sair de casa, um neto de uma família rica que mal fica no apartamento e um grupo de amigos que se autointitulam seguranças e começam a vigiar a rua durante a noite.
E a história? Não tem. Apenas acompanhamos essas pessoas por duas horas. O objetivo não é contar uma história, mas mostrar o terror que cerca a classe média. Um homem vai visitar o primo e parece um filme de terror. Um casal resolve dar uma fugida de seus trabalhos para fazer sexo e tomamos um susto maior que na maioria dos filmes de terror dos últimos dez anos.
É aquela velha questão dos encarceramentos da população dentro de suas próprias casas. Mas o filme não se sustenta em colocar apenas as questões da classe média. É sobre as diferenças. Por mais que os personagens se tranquem e escondam suas casas, vivem com estranhos dentro delas. Empregados, entregadores de móveis, vizinhos, os latidos do cachorro da casa ao lado, zeladores, câmeras de segurança.
O medo e a paranóia da vida urbana fazem com que comecem a tratar os outros como inferiores das mais diversas formas. Desconfiando dos próprios seguranças, xingando um empregado. O preconceito vem de todos os lados, os bandidos odeiam os “endinheirados”, os subordinados odeiam seus chefes e os indivíduos da classe média têm medo de todos.
O ódio cria ódio que gera violência potencial. Em um ponto um senhor resolve sair de noite e o clima é de perigo velado. Até os vizinhos são ameaçadores, como a dona de casa que vive sendo atacada pela vizinha pelos motivos mais absurdos, tipo o fato de ter uma TV com mais polegadas.
A trilha são sons do lado de fora, representando sempre as ameaças. Uma batida, um pega de carros na madrugada, alarmes e uma bateria com ritmo lento e incômodo.
O diretor é o estreante Kleber Mendonça Filho, que está de parabéns. Assim como no neo-realismo ele coloca atores inexperientes para interpretarem os personagens principais. O resultado é uma sensação de realidade paupável. Tudo parece tão familiar e próximo que incomoda.
A direção de arte é um primor. E Mendonça a filma de maneira inteligente. Quanto mais cercada a casa, mais quadrados veremos no ambiente, dando uma impressão de grades de prisão. Quando o lugar é praticamente aberto, as paredes são lisas e as pessoas invadem.
Lá pelo meio comecei a rir do filme. Porque era isso ou chorar. Filme dificílimo, mas uma reflexão inteligente.
 
GERÔNIMOOOOOOOO…

4 comentários em “O Som ao Redor

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