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Gravidade

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De vez em quando surge um filme que faz lembrar porque eu amo cinema. Faz lembrar porque eu gastei todo aquele tempo estudando o assunto e agora estou tentando tanto trabalhar na área. Não é surpresa que o filme da vez venha das mãos do Alfonso Cuarón. Mas Gravidade consegue ser ainda mais do que isso.

Uma médica que criou uma tecnologia nova vai para o espaço instalar sua invenção no Hubble. Durante a missão destroços de um satélite passam destruindo tudo fazendo com que ela e o comandante da missão sejam os únicos sobreviventes à deriva em órbita da Terra.

A doutora e o comandante perdidos no espaço.
A doutora e o comandante perdidos no espaço.

Gravidade foi concebido após Cuarón assistir ao curta documentário da Imax, Hubble 3D. As imagens e a experiência foram tão impactantes que o diretor elaborou toda uma história de transformação pessoal e grandiosidade humana em torno do drama de uma mulher tentando sobreviver em espaço aberto.

O filme é calculado para ser essa experiência. Foi filmado para salas Imax e foi convertido para o 3D com um cuidado absurdo na mixagem de som para garantir o máximo de imersão. A ideia é que o espectador se sinta solto no vácuo do espaço junto com a protagonista, a doutora Ryan Stone.

Tudo isso serve a um propósito específico. Falar sobre perda, desapego e vontade de viver. A doutora Stone perdeu uma filha antes dos eventos do filme. Toda a luta por sobrevivência está conectada diretamente a isso. Não é nada novo. Principalmente porque o roteiro possui a velha estrutura clássica.

O que faz a diferença é a forma como isso é feito. Toda a jornada é tão imersiva e com uma profundidade quase espiritual. Tudo devido à habilidade de Cuarón como diretor. O filme abre com um plano sequência de quase vinte minutos com direito à câmera mudando de enquadramentos em menos de um minuto. Ela gira no espaço junto com os objetos, depois ela pára e fica observando as coisas girando, entra no capacete de um personagem, acompanha o ângulo de visão de um em um ponto para voltar para outro logo em seguida.

É claro que não foi tudo filmado de uma única vez. Existe muita simulação de continuidade de movimento. Mas é tão bem orquestrado. São uns cinco minutos sem trilha sonora. O áudio é o do rádio da comunicação entre os astronautas. Então eles escutam a estrutura da nave e do satélite porque a vibração chega através dos objetos. Quando eles não estão ligados, não é possível ouvir nada, mesmo quando as coisas estão se desfazendo em explosões. Quando esse plano sequência gigantesco acaba. Já estamos com as mãos doloridas de tão forte que apertamos o que estiver ao nosso alcance, seja a cadeira, seja as próprias mãos.

A trilha sonora faz algo muito semelhante com tudo o que já foi feita em grandes filmes no espaço. Mas com simuladores. É interessante e diferente. Também é poderosíssimo. A trilha é peça fundamental para a potência da experiência criada por Cuarón.

O filme termina com outro plano longo. Um enquadramento significativo relacionado a diversos temas propostos por grandes nomes como o Neil deGrasse Tyson. Com aquela trilha sonora impactante e a força da interpretação da Sandra Bullock eu saí do cinema tremendo, conversando embasbacado com os outros jornalistas sobre o que foi aquilo que vivenciamos.

Mas não é um filme impecável. As leis da física não são respeitadas o tempo inteiro. Com direito a uma cena em que algo absurdo acontece. Tão absurdo em termos científicos que a parte dramática da cena perde a força. O que é triste pois temos tanto o George Clooney quanto a Sandra Bullock em um de seus melhores momentos no filme.

Clooney. Grande interpretação e participação na escrita do roteiro.
Clooney. Grande interpretação e participação na escrita do roteiro.

Por sinal, diversas vezes existem quebras de coisas básicas na lei da inércia. Coisa que criança vai poder perceber que não faz sentido. São coisas pequenas, mas que quebram um pouco a magia aqui e ali.

Outra coisinha que incomodou foi o diálogo excessivamente expositivo que fecha o segundo ato. É estranho porque ele está muito sutil e eficiente. Mas ainda fica com uma carga de auto ajuda incômoda. Descobri depois que essa parte foi escrita por Clooney. O que faz sentido. É muito bem escrito, apesar de causar um pouco de descrença.

Essa parte, porém, possui uma das coisas mais interessantes do filme. Abre espaço para uma discussão sobre a interação dos dois. É quase uma experiência religiosa. Ao mesmo tempo em que é cientificamente plausível. Obviamente, se não fosse das mãos de um bom diretor, essa discussão seria vazia. Mas ganha uma força maior dentro de todo o contexto do filme.

Gravidade foi mais que um filme que me fez lembrar de porque amo o cinema. Ele foi uma experiência. Alguns diriam que é espiritual. Outros diriam que foi uma epifania. Não sei, nem vou ser orgulhoso de tentar explicar. Apenas gostaria que todas as pessoas pudessem passar por algo parecido quando forem assistir.

 

GERÔNIMOOOOOOOOOOO…

5 comentários em “Gravidade

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