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A falência da Rhythm and Hues e a indústria de efeitos especiais.

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Estão vendo a imagem acima? Quando eu a vi no cinema, quase no final de As Aventuras de Pi, eu já tinha me acostumado com a ideia de que aquilo no colo do protagonista é um tigre. O assombro pelo realismo do felino digital passa depois de seus primeiros minutos em cena. Acreditem se quiser, essa tomada quase não custou dinheiro nenhum.

Quando estava no processo de pré-produção, o diretor Ang Lee foi até a Rhythm and Hues e ofereceu a eles fazer os efeitos do filme. Na oferta, a empresa deveria fazer o trabalho com um grande desconto porque As Aventuras de Pi não era só mais um filme de explosões, mas um filme de arte. Portanto seria bom para a empresa ter no currículo a obra artística.
Trabalho de computação gráfica em pós-produção rende salários baixos nos Estados Unidos. Os caras não são valorizados. Por esse motivo, a Rhythm and Hues já estava mal das pernas quando aceitou o acordo com o diretor chinês. Com os quatro anos trabalhando por quase nada pela arte de As Aventuras de Pi, a Rhythm and Hues foi à falência. Tendo que demitir 250 funcionários que não haviam recebido seus salários, nem nunca viriam a recebê-los.
Quando questionados sobre o assunto, Ang Lee e o editor do filme, Tim Squyres, disseram apenas que quando uma empresa que consegue fazer algo como aquele tigre lá em cima vai à falência é porque tem algo muito errado na indústria. Tendo lido isso, senti que precisava dar minha opinião.
Vejam os três seguintes casos. Um aconteceu com um amigo, outro é a trama de um filme e o terceiro foi na indústria de games:
1 – Designer de logos e identidade visual recebe uma proposta. Fazer uma marca para um “gatil”, um canil para gatos. Quem fez a proposta disse que não haveria pagamento porque seria para ajudar os bichinhos e porque seria bom para seu portfólio. O designer riu e fez da história uma piada.
2 – Não sei se já declarei isso por aqui, mas um dos filmes que eu mais odeio é Rent. Poderia discorrer bastante sobre o filme, mas vou apenas dizer que se trata de um grupo de artistas que repudiam contratos e salários pois estão abrindo mão de suas artes ao vendê-la para o diabo, como é sugerido na obra.
3 – Jonathan Blow, criador independente de Braid, um dos maiores sucessos indies na indústria, anunciou que seu próximo jogo seria lançado no vindouro Playstation 4. Os defensores de jogos indies berraram chorando que Blow havia traído o movimento.
Blow passou anos trabalhando sozinho, sem ganhar dinheiro e juntando dívidas para poder lançar seu Braid. O resultado foi um sucesso e Blow ficou milionário da noite para o dia. Agora com reconhecimento, ele vai gastar mais dinheiro em outra obra sem garantia ou fazer um acordo com uma grande empresa para continuar trabalhando e se expressando sem preocupações financeiras?
Ou artistas devem passar fome e morrer como mártires apenas porque não querem trabalhar?
Ainda, meu amigo deve fazer trabalho voluntário pelas causas dos outros?
Fechando minha lógica, os artistas da Rhythm and Hues devem trabalhar de graça por quatro anos, perder o emprego no final para que a visão de um homem ganhasse vida?
Ainda foi revelada uma carta do Ang Lee reclamando do valor gasto com a computação gráfica no filme. Honestamente, sou fã de Lee como artista. Mas o Ang Lee pessoa perdeu o respeito que eu tinha por ele. Que certamente não fará falta.
Fico muito triste pelos profissionais da Rhythm and Hues e fico ainda mais triste pelos “artistas” que vivem neste nosso mundo.
Para concluir, aquela imagem lá em cima foi construída em cima dessa aqui.
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Só para dar uma ideia do trabalho envolvido no filme.
 
GERÔNIMOOOOOOOOO…

1 comentário em “A falência da Rhythm and Hues e a indústria de efeitos especiais.

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