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Um Perfil para Dois (Un Profil pour Deux – 2017)

Pierre observa o casal

Com as mudanças dos valores de produção de filmes nos Estados Unidos nos últimos quinze anos e a realização de séries de TV, certos gêneros deixaram de ser feitos. Entre eles, estão as comédias românticas, que se tornaram muito caras para o retorno financeiro que fornecem aos estúdios. É uma pena, porque elas podem render filmes muito bons ou, pelo menos, obras leves e gostosas.

Não é à toa que o gênero tende a funcionar melhor quando feito na França. As produções do país europeu tendem a ser mais leves e sutis, o que é ótimo para comédias e romances. É uma das coisas que funcionam em Um Perfil para Dois. Ainda embasada em uma proposta de mal entendido que impede dois amantes de ficarem juntos, a profundidade dos personagens faz com que pequenas escolhas questionáveis sejam compreensíveis.

Especialmente com Alex (Yaniss Lespert), que é um homem sem capacidade de tomar iniciativas. Por isso, está preso na casa da mãe da namorada, que o sustenta. Essa passividade é o que faz com que o espectador acredite quando ele aceita o conflito do filme.

os dois conversam
Pierre e Alex desenvolvem amizade inesperada.

Para ganhar algum dinheiro, Alex aceita dar aulas de informática para o avô da namorada, Pierre (Pierre Richard), um viúvo de 79 anos. O senhor descobre um site de namoro online e começa a conversar com uma mulher de 31 anos. Quando ela pede para conhecê-lo, ele convence o jovem a ir no lugar dele.

Não é preciso pensar muito. Quem conhece o gênero já sabe que tanto Alex quanto Pierre vão se apaixonar pela bela e singela Flora (Fanny Valette). Também sabe que das situações inusitadas desse mal entendido são feitas cenas cômicas variadas. A diferença da sutileza francesa é que esse humor nunca se rende ao pastelão fácil.

Não tem cena de mulheres desvairadas que gritam de raiva com ninguém. Não tem ninguém em um momento constrangedor com alguma dança que desconhece ou que precise se comprovar de alguma forma. A graça está em pequenos momentos, como a cena em que Flora tenta falar chinês com Alex, porque o perfil dele informa que ele é fluente na língua, ou em uma hilária espiada de Pierre no primeiro encontro do casal.

Fanny pede silêncio
Flora: personalidade conveniente ao roteiro.

Além disso, a comédia ganha com a interação entre os dois protagonistas. Pierre ainda está de luto pela morte da esposa e vive preso em casa, enquanto Alex está estagnado. Quando os dois são forçados a conviver, parecem dar vida nova um para o outro. O jovem ganha o que fazer com o tempo dele, enquanto o velho volta a sentir vontade de sair e fazer coisas.

Por outro lado, Flora é mal explorada. Ela é o sonho perfeito para os dois personagens. Atraente e compreensiva, ela atende à lentidão de Alex e dá uma vida mais excitante que com a namorada atual. Inteligente e também viúva, ela é uma das poucas mulheres que pode entender o luto de Pierre. E, a cada reviravolta da trama, ela apenas faz o que é útil para o roteiro, como se não tivesse personalidade ou vontade própria.

Isso determina um filme previsível e de soluções fáceis, o que não compromete a produção como um todo, mas certamente diminui a qualidade. Ainda assim, como se trata de uma obra que busca a leveza, tudo serve para essa graça que deve acompanhar o espectador após a sessão. Não é a melhor coisa a ser vista no cinema, porém, funciona.

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