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Tudo Vai Ficar Bem (Every Thing Will Be Fine – 2015)

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Filmes do Wim Wenders são sempre um evento. Ainda mais quando ele não faz documentários. Dono de uma sensibilidade única, o diretor alemão sabe criar visuais do simples. Por isso surgiu uma expectativa muito alta quando ele lançou este Tudo Vai Ficar Bem, que passou por aqui no começo do ano.

Longos silêncios de situações simples são usados para contar a história de Tomas Eldan (James Franco), um escritor em crise criativa que se isola para buscar inspiração. Durante uma volta de carro, acidentalmente atropela uma criança. O evento terá influência sobre a vida dele, da mãe do menino, Kate (Charlotte Gainsbourg), e de quem se envolve com ele.

Não é um filme fácil, por diversos motivos. Um dos principais é a lentidão que Wenders aplica à narrativa. Não é uma trama contada por diálogos ou interpretações dramáticas. O diretor prefere fazer com que os sentimentos sejam demonstrados de forma mais profunda, com longos silêncios e pessoas estáticas. O pesar é claro, mas não há lágrimas ou gritos. O acidente é simples, mas os sentimentos que acontecem por conta dele são extremamente complexos.

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Tomas com Kate. Muita coisa que precisa ser dita.

A escolha de não explicitá-los com diálogos não é apenas do diretor, mas também do roteirista norueguês Bjørn Olaf Johannessen. Em alguns momentos rápidos e pequenos, os personagens têm pequenas explosões de sentimento. Tomas leva um tapa de um antigo amor. Um rancor do passado invade a casa dele. As consequências, porém, não são extraordinárias. O interessante não é ver alguém buscar uma vingança extrema ou realizar alguma ação maior que a vida. A própria vida comum é interessante por si só, porque apresenta desafios maiores, como tentar estabelecer contato com um jovem que te odeia e você sequer conhece.

Um dos problemas de tanto silêncio e falta de explicação é que o filme se torna muito subjetivo. Tanto que é possível tirar diversas análises diferentes das propostas e dos significados. Talvez exista uma metáfora sobre os valores de uma tragédia. Tomas consegue ficar inspirado e virar um escritor de sucesso depois do acidente, mas com o custo de ter a culpa e uma tristeza constantes. Talvez seja sobre como o luto se transforma, mas uma faceta dele se mantém na vida mesmo depois que a pessoa consegue seguir adiante.

Ao mesmo tempo, existe um suspense terrível na incapacidade de compreender os sentimentos. Em certo ponto, Tomas passa um período com Kate. Não fica claro se ela o odeia, se sente simpatia pelo sofrimento dele. Da mesma forma, não é possível dizer por que ele a procura. É tenso, mas não pelos motivos que suspenses normalmente o são. Ainda assim, a trilha sonora com cordas lentas e notas que se repetem em uma batida constante é de suspense.

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Cena repleta de luzes douradas para expressar o nível do rancor.

A fotografia varia do dourado para o branco para expressar as intensidades dos sentimentos. No começo, com a primeira namorada de Tomas, Sara (Rachel McAdams), os personagens se afastam quando ambos estão perdidos em um enquadramento pálido. Quando ele não consegue decidir se quer ficar com ela, metade do rosto está dividido pelas cores. Mas o dourado também pode encher uma cena com ódio ou tristeza.

Charlotte Gainsbourg e Rachel McAdams tiram de letra o estilo lento e ponderador do filme. O problema maior do elenco é Franco. Ele é ótimo para assumir estilos e estereótipos, mas ficar calado e triste não tem muita variação. Como o papel dele é basicamente de pesar por quase duas horas, não há muita mudança no rosto do ator.

Dito isso, Tudo Vai Ficar Bem é um ótimo filme difícil. A lentidão é pesada. Pode não ser a função padrão do cinema, o que é maravilhoso, mas também torna a obra muito menos acessível. Recomendado para momentos de reflexão da vida. Mas não assista se estiver melancólico demais.

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