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Precisamos Falar do Assédio (2016)

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Documentários são filmes diferentes, mas são filmes. E como tal eles trabalham com conceitos e mensagens que podem ser muito fortes. Podem ser divertidos ou chatos. Podem ser inteligentes e lentos. Podem ser rápidos e incômodos. Infelizmente, eles com frequência não têm narrativa. O que, deve-se dizer adiantado, não é obrigatório para filmes.

A proposta de Precisamos Falar do Assédio é bastante óbvia pelo próprio título. Falar sobre como as mulheres sofrem assédio diariamente. Mais especificamente, com personagens reais que explicitam para a câmera situações que ocorreram com elas. Para fazê-lo, a diretora Paula Sacchetta criou uma van estúdio e passou sete dias nas ruas para pegar esses depoimentos. Elas entravam na van e falavam abertamente sem a presença de ninguém da equipe. Caso quisessem manter algum anonimato, podiam usar máscaras e até pedir para alteração no som das vozes.

O resultado foram 140 testemunhos de abusos e violência por parte de amigos antigos, pais, sogros, assaltantes desconhecidos na rua, um passageiro no metrô, padres, pastores, pais de santo. Alguns relativos a estupros diretamente, outros a invasões mais veladas. Todos horríveis, traumatizantes e capazes de destruir vidas.

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A van estacionada para conseguir os depoimentos.

A ideia surgiu de movimentos que apareceram nas redes sociais. Basta lembrar das hashtags #meuprimeiroassédio, #meuamigosecreto e #agoraéquesãoelas que fizeram sucesso há pouco tempo. A intenção é a mesma de todas as ocasiões: revelar como a opressão contra mulheres é comum.

E Sacchetta tem êxito. O filme conta com cerca de 80 dos depoimentos totais. São histórias chocantes nos lugares mais usuais e corriqueiros. Não foi raro ouvir exclamações de horror dentro do cinema por conta das reviravoltas mais assustadoras. É chocante ouvir uma mulher dizer que a mãe perguntou se ela se insinuou ou ver uma garota fraquejar quando fala que a única vez que fez sexo foi um estupro.

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A diretora Paula Sacchetta. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

É tão horripilante que o filme gruda o espectador na tela durante a produção. Ainda assim, quase 90 minutos de histórias curtas sem nenhuma grande surpresa porque o espectador já sabe que vai ter algum tipo de abuso horrendo não tem liga. A quebra constante permite sair para conversar, atender o telefone, ir ao banheiro, voltar e não se sentir perdido em relação ao filme, porque não há narrativa e a continuidade não é importante para a função principal.

Para falar a verdade, se alguém acha que precisa ver os depoimentos para continuar a lembrar como o mundo é opressor para as mulheres, basta entrar no site oficial da produção, http://precisamosfalardoassedio.com/. Lá, é possível encontrar todos os 140 depoimentos feitos nos sete dias e ainda deixar novos. Assistir três seguidos ou um por dia é o suficiente.

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