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Sete Psicopatas e Um Shih Tzu

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Assisti o trailer de Sete Psicopatas e Um Shih Tzu e não o entendi. Só compreendi que tinha um sequestro de um cachorro de um mafioso e muita confusão. E também que seria um filme muito divertido. Ficou na memória a fala do Christopher Walken “FUCK THE COPS! FUCK’EM! No fucking cops.” Ri muito disso. Depois descobri que o filme repetiria a dobradinha Colin Farrell e Martin McDonagh. Ator e diretor respectivamente de Na Mira do Chefe.

Na Mira do Chefe certamente entra na lista dos melhores filmes sobre os quais a maioria das pessoas nunca ouviu falar. Temos o Colin Farrell brilhante, como ele normalmente não é. Uma comédia inteligentíssima. Bem dirigida, irônica e um filme muito subestimado. Saber que tinha a chance de ver outro filme do nível me deixou muito feliz. Infelizmente, Sete Psicopatas estreou muito tempo depois do lançamento de seus trailers. E para piorar, o material de divulgação nunca chegou a passar no Brasil. Vi tudo em sites americanos e só.
Como o título do filme resume muito bem, a história é sobre sete psicopatas e um shih tzu. E ao mesmo tempo é muito mais que isso. A sinopse que compreendi do trailer também é correta. Mas acho que a forma mais correta de explicar a história do filme é dizer que é um filme sobre um filme. Ou ainda mais completo, é um filme sobre um roteirista escrevendo um filme sobre sete psicopatas.
Isso mesmo, é um filme metalinguístico. E como todo filme metalinguístico, a obra dentro da obra discute sobre a própria obra. Normalmente não gosto do recurso porque esses filmes tendem a ser muito auto explicativos. Mas aqui funciona muito bem. Porque Sete Psicopatas é tão bem dirigido que ele nunca é super expositivo. As discussões sobre o roteiro são bem óbvias. Explicam que é um filme sobre cinema.
Mais especificamente sobre o cinema estadunidense. Zomba constantemente da violência plástica e ridícula padrão, zomba do cinema “ultra intelectual europeu” e zomba acima de tudo de si mesmo. É fascinante. Quando o filme chega na metade ele literalmente se explica. O personagem fala qual a estrutura, o que aconteceu até ali, como vai se desenvolver e qual a mensagem. E é sensacional. Porque engana.
Fala que é um filme sem violência sobre sete psicopatas. Depois fala que vai ter um tiroteio final, mas vai ser sobre paz, tanto de espírito quanto no mundo. Isso tudo acontece, mas ainda não é previsível. A trama do cachorro e os psicopatas lembra um filme pulp. Cheio de reviravoltas onde nada nem ninguém é o que parece. Tudo costurado por uma irônia brilhante em cenas e diálogos maravilhosos. Por sinal, o filme aponta os próprios defeitos, como a superficialidade das personagens femininas.
Cada cena que apresenta um psicopata é uma construção linda, digna de um curta sozinha. Tanto é que a primeira metade do filme parece um conjunto de curtas. E não é episódico. Por mais que cada uma funcione individualmente, elas dão continuidade uma para a outra e dão um ritmo delicioso para o filme. Uma vez finalizadas as apresentações e a construção da trama, o filme muda para o deserto e se foca na interação entre os três personagens principais e a preparação para o final. E nessa preparação vem a discussão sobre o caminho que devem percorrer. Devem apelar para a violência total ou abraçar as filosofias pacíficas que podem levá-los a ficar em paz.
McDonagh se revela um grande diretor. Planos lindíssimos, cortes bem planejados. Uma mise-en-scène brilhante. Os atores saem e entram no enquadramento, controlando a tensão e construindo o humor. Diversos takes são longos, com movimentos elaborados de câmera. Uma cena começa com um plano detalhe de um retrato de um personagem enquanto ouvimos uma mulher gemendo de prazer, a câmera se afasta, revela uma embalagem de camisinha ao lado do retrato, se afasta ainda mais e mostra a mulher seminua com alguém “trabalhando nela”, depois a câmera abre e revela que o homem não é o mesmo do retrato. Engana, revela aos poucos e conta a história através do visual. Não precisa de um personagem dizendo que eles estão traindo alguém nem de quem ela é namorada.
A ironia é hilária. Em certas partes me peguei dando gargalhadas no cinema. As cenas constroem para mostrar algum tipo de clichê básico e se revelam diálogos comuns, do dia a dia. Em uma apresentação de um dos psicopatas, ele está prestes a matar uma funcionária. Ela diz que não é culpada do que ele diz que ela fez. Ele pergunta então porque ela fugiu se não era culpada. Ela responde que ele fica muito bravo e acabaria matando ela de um jeito ou de outro. Ele reflete por alguns segundos e acaba concordando com o raciocínio dela. É irônico, engraçado, inesperado e inteligente.
O Colin Farrell está genial de novo. Parece que o cara só funciona quando faz produções pequenas ou quando faz algum personagem extremamente canastrão. Acompanhando ele, estão Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson e o Tom Waits. Todos brilhantes. E é um deleite ver um grupo de bons atores, interpretando um bom texto com uma boa direção. Como disse lá em cima, o elenco feminino tem papéis fraquíssimos. Mas pelo menos temos as maravilhosas Olga Kurylenko e Abbie Cornish. Qualquer desculpa para vê-las é uma boa desculpa.

Olga Kurylenko. Porque sim.
Olga Kurylenko. Porque sim.

Abbie Cornish. Sim, sim, sim.
Abbie Cornish. Sim, sim, sim.

Infelizmente ninguém viu Sete Psicopatas porque ele não conseguiu virar modinha. Muito triste. Principalmente com uma comédia tão inteligente e gostosa. Sobre isso, deixo a mensagem da boca do próprio Christopher Walken.
[youtube=https://www.youtube.com/watch?v=Ow9jncNeTOA]
 
GERÔNIMOOOOOOOO…

1 comentário em “Sete Psicopatas e Um Shih Tzu

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