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RoboCop (2014)

RoboCop

Este RoboCop começou com um grande erro, ser o remake de uma obra que não precisa ser revisitada desta forma. O clássico de 1987 só envelheceu nos quesitos de efeitos especiais. Não foram todos e diversas das cenas que dataram são donas de um charme visual muito elegante. O importante é que as discussões e os pontos levantados lá atrás ainda são válidos hoje. O que inutiliza refazer a bagaça. Ainda assim, esse foi o único erro da produção.

A história é parecida com o original. Em algum ponto do futuro, uma empresa de tecnologia bélica criou robôs que auxiliam em situações de guerra ao redor do mundo. O único lugar onde a tecnologia não é aceita é nos Estados Unidos, porque o público não aceita ser protegido por coisas sem sentimento. Eles pegam então um policial ferido e criam o primeiro ciborgue policial, feito para ganhar a opinião pública.

Da lista de acertos do remake, a primeira pista de que o filme poderia dar certo foi a contratação do brasileiro José Padilha. Padilha é um diretor que não aceita fazer ficção com facilidade, a menos que realmente veja uma mensagem que acredita ser necessária nas produções. Além disso, a escolha é extremamente semelhante à do original. Um diretor estrangeiro com filmes premiados e violentos na carreira.

Quando saíram as notícias sobre as dificuldades da produção, Padilha foi pessoalmente dar diversas informações explicando como estava tendo liberdade para fazer o filme que queria. Ou seja, chamaram um diretor internacional com background para fazer filmes com críticas políticas e sociais com muita violência e lhe deram liberdade criativa.

Acima de tudo, Padilha é um diretor excelente. Foi justamente o papel que exerceu no filme que estreia nesta sexta. Padilha acrescenta à lista de críticas e discussões do antigo a política belicista estadunidense e mantém questões sobre corporativismo, mídias manipuladoras e a humanidade por trás de máquinas.

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Onde termina o homem e começa a máquina?

Padilha usa uma estrutura de roteiro assustadoramente semelhante à do antigo. Mas a cada passo a história ganha pequenos detalhes diferentes que são muito mais atuais, realistas e críticos. Desde a abertura, uma brincadeira muito engraçada (e crítica) com a logo da MGM, até o desfecho repleto de opções inteligentíssimas de Padilha como diretor.

As críticas sobre a mídia perdem as propagandas de TV para ganhar um apresentador manipulador. Murphy nunca chega a perder a identidade quando vira o ciborgue, mas perde o controle sobre suas emoções. Os cientistas envolvidos em sua criação ganham tons de tragédia pessoal que fogem muito do maniqueísmo padrão. E o que realmente é um avanço em relação ao anterior, as relações entre os vilões não são tão coincidentes.

Murphy renasce diante do criador de sua tecnologia. Tragédias pessoais para todo mundo.
Murphy renasce diante do criador de sua tecnologia. Tragédias pessoais para todo mundo.

Tudo com enquadramentos que contam a história com muita inteligência e eficiência. Uma cena em específico corta de um sonho de Murphy para a realidade agressiva em que passa a viver simulando um plano contínuo. É elegante e realça a crueldade da situação para o personagem.

Quando o filme chega nas cenas de ação, causa vibração. O espectador regozija quando vê Murphy superando os controles emocionais e indo atrás de seus assassinos. As cenas de ação que se seguem são muito bem dirigidas e animam muito. É tudo bem violento, mas muito leve se comparado ao original. Porém, a violência exacerbada não faz falta com a ação mais movimentada e bem dirigida, que ganha estilo de guerrilha urbana.

O elenco do filme é um atrativo à parte. Joel Kinnaman segura bem o papel de Murphy equilibrando os momentos impulsivos do personagem com a insensibilidade robótica a qual ele chega em certo ponto. Michael Keaton surpreende com um personagem bastante diferente do que ele fez durante sua carreira. Gary Oldman é o cientista dividido entre as realizações tecnológicas e o mal que pode estar fazendo para Murphy. O ator cria essa tragédia através da culpa com muita sensibilidade e rouba a cena com frequência.

Jackie Earle Haley complementa o elenco como uma ameaça ao personagem bastante iminente e consegue ser assustador em diversos momentos. Junto a ele, Jay Baruchel faz uma ponta pequena, mas consegue acrescentar às suas cenas muito humor como um diretor de marketing inescrupuloso. E Samuel L. Jackson está maravilhoso ao interpretar um apresentador de TV que remete facilmente aos programas extremos e parciais que vemos com frequência aqui no Brasil.

No final, o remake de RoboCop nunca foi necessário. Ainda assim, é um filme excelente que não faz feio diante da comparação ao original. Ouso dizer que talvez seja até melhor. Um filmaço que merece ser visto no cinema para sentir toda a sua força na tela grande.

 

ALLONS-YYYYYYYYY…

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