Questão de Tempo

Questão de Tempo está chegando aos cinemas de fininho. Sem fazer muito barulho. O primeiro trailer foi lançado meses atrás e já foi esquecido por todo mundo. Ou seja, quase ninguém sabe que filme é esse. Mas a verdade é que se trata de uma das grandes surpresas da vez.

Tim é um jovem britânico que descobre ao completar 21 anos que os homens de sua família possuem o poder de viajar no tempo. Nada muito exuberante, apenas viagens ao próprio passado sem alterar o mundo. Daí em diante, Tim começa a usar os poderes para fazer com que sua vida possua o mínimo de erros possível.

Com essa premissa, parece uma ficção-científica ou uma fantasia. Realmente é algo do tipo, mas no estilo inglês. O diretor e roteirista é ninguém menos que Richard Curtis. Conhecido pelo roteiro de inúmeras comédias românticas, Curtis vem se revelando um excelente diretor. O que ele sabe fazer como poucos é criar um ambiente divertido e íntimo de pessoas comuns.

Com diversas câmeras na mão, atores carismáticos, fotografia bonita e trilha acolhedora, Curtis faz com que a vida de Tim pareça extremamente comum, ao mesmo tempo que calorosa e extraordinária. A viagem no tempo não é um fator de grandiosidade, é apenas ferramenta para a reflexão.

Sabe aquela vontade de poder voltar no tempo e fazer as coisas de forma diferente? Tim pode fazer isso. Até certo ponto, é igual sonhamos. Principalmente quando o jovem conhece a mulher que acredita ser o amor de sua vida. Um erro e a perde. Uma viagem no tempo e a reconquista. Vira um vai e volta até conseguir ficar com ela de forma definitiva.

Mas a reflexão vai além disso. Tim não é capaz de impedir a morte, nem de que certas coisas ruins e comuns aconteçam. No final das contas, os dias de Tim são como os de todo mundo. Às vezes não importa o que façamos, teremos que lidar com chefes irritados e pessoas de quem não gostamos. Às vezes não se pode evitar um dia ruim ou coisas negativas da vida.

Apesar disso, não se pode tirar o valor das coisas positivas e dos dias bons. É uma mensagem muito parecida com a do único episódio de Doctor Who que Curtis roteirizou. Naquele episódio, o alienígena dá para Vincent Van Gogh a experiência de sua vida. Mesmo assim não consegue impedir que o artista clássico cometa suicídio por conta de sua depressão.

Uma experiência boa não anula as ruins, mas nem por isso deixa de ser boa. Curtis dá muita profundidade para essa mensagem sempre que Tim é obrigado a fazer escolhas significativas relacionadas a isso. Em certo ponto precisa escolher conhecer uma pessoa especial ou ajudar um amigo a lançar sua nova peça de teatro.

Para coisas pequenas e às vezes significativas, os poderes de Tim e de sua família fazem diferença. Mas, no grande esquema, é o mesmo estilo de vida. São escolhas e riscos que fazemos todos os dias.

Lá pelo meio, enquanto constrói a vida de Tim com a esposa, o filme cria uma pequena barriga. Poderia ser mais rápido e resumir esta parte. Mas mesmo este trecho tem o seu valor porque ajuda a sentir a transformação e amadurecimento do personagem principal.

Parte disso se dá porque acompanhamos a vida de Tim avançando. Outra parte porque o ator, Domhnall Gleeson, é excelente. Mais reconhecível como um dos irmãos do Rony em Harry Potter, depois o ator roubou a cena da Keira Knightley, do Jude Law e do Aaron Taylor-Johnson em Anna Karenina. Agora ele ganha um merecido papel principal. Completamente diferente de sua participação em qualquer dos filmes anteriores.

Nem mesmo a ótima Rachel McAdams consegue se destacar diante de Gleeson. Ela está completamente adorável aqui. Faz uma interpretação de uma mulher um tanto insegura, mas inteligente e apaixonante, mas o foco, apesar do que o marketing tenta vender, não é o romance. Do meio para o final do filme a atriz fica apagada por falta de espaço na história.

Outro que se destaca é o Bill Nighy. O ator veterano trabalha sempre com o diretor pois reconhece a coragem dele de tratar da temática do amor. Seja entre casais, amigos, pais e filhos, todos esses tipos presentes em Questão de Tempo.

Chegando ao final, fica difícil não segurar as lágrimas enquanto Tim aprende suas últimas lições sobre a vida e a viagem no tempo. Um excelente trabalho por parte de Curtis e seus atores.

 

ALLONS-YYYYYYYYY…