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O Voo

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Se você tem algum tipo de problema com alturas, viagens aéreas ou qualquer coisa do tipo, fuja de O Voo. Uma cena no começo é desesperadora. Você sente que está dentro do avião caindo e sofrendo o acidente junto com os personagens. Se você não tem nenhum problema e já está acostumado com qualquer tipo de turbulência, vá ver O Voo sem medo.

Quando o trailer foi liberado meses atrás, ouvi pessoas dizendo que quase tiveram ataques com a cena rápida em que o avião aparece voando de cabeça para baixo. Depois do lançamento, uma amiga que tem problemas com aviões disse que quase não aguentou a cena do acidente.
Parece ruim, mas na verdade é uma demonstração da capacidade de direção do Robert Zemeckis. A cena que vai servir de base para todo o resto da trama do filme não é a cena que abre a produção. Ela acontece com quase meia hora de projeção. Essa meia hora apresentam o piloto Whip Whitaker, seu relacionamento com a aeromoça Trina, a coadjuvante Nicole e os vícios dos três. Vemos a rotina de Whitaker acordando de ressaca, cheirando cocaína para deixá-lo em condições estáveis, se preparando para o vôo, chegando à aeronave, conhecendo o novo co-piloto, interagindo com as aeromoças, levantando o avião do solo, passando por uma turbulência monstruosa logo no começo da viagem e seguindo sem preocupações.
Fazer isso torna a ambientação mais crível. Os detalhes técnicos são tão precisos que é impossível não acreditar que aquele é um voo de verdade. É importante porque quando o acidente acontece e a queda se torna iminente tudo ganha um realismo assustador. É uma cena longa, mostrando uma queda detalhada, com o drama das aeromoças tentando ajudar os passageiros e o drama dos pilotos na cabine tentando salvar o avião em paralelo.

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Whip, viciado e herói.

Zemeckis quase nunca mostra o avião por fora, o que nos faz sentir que estamos lá sofrendo a queda. Nos momentos com maior vertigem, a câmera faz um movimento sutil da parte da frente da aeronave para trás. Parece que ela está passando por nós, insegura e incontrolável.
Quando Whip acorda no hospital e descobre que apenas seis das 102 pessoas no avião morreram, fica claro que ele conseguiu um feito impressionante. Ele é reconhecido como herói nacional, até que as investigações sobre o acidente começam e o exame toxicológico indica que ele estava com um nível alto de alcóol no sangue.
Parece que vai desenrolar um drama/suspense de tribunal, com Whip e seus advogados tentando defender sua causa. Mas o que acontece de verdade é um drama sobre um homem viciado. Um viciado que é incapaz de reconhecer sua condição e de se ajudar. Whip tenta repetidas vezes se livrar do alcóol, mas sempre acaba bebendo de novo. Pessoas tentam ajudá-lo e não conseguem.
É um retrato do vício, simples assim. O personagem mente, foge de sua culpa, tenta manipular os outros, sofre e sempre acaba caindo na mesma espiral de desespero. O acidente e a trama sobre a sua possível prisão é apenas uma forma de colocar o personagem lidando com a culpa e a punição pela sua condição.
Palmas para Denzel Washington. Ele faz um viciado perfeito. É fácil ver nele todas as características que vemos em pessoas naquelas situações. Mesmo assim, nos simpatizamos com ele. Queremos que ele fique bem.
O final é corajoso. Leva o personagem até o limite extremo e lhe dá uma escolha. As consequências dessa escolha são simples e brilhantes. É previsível, mas a proposta não é ser imprevisível, e sim retratar o vício e suas consequências. Faz isso muito bem, graças ao roteiro muito bem escrito, à direção eficiente e à interpretação majestosa de Washington.
Chamo atenção para a participação da Kelly Reilly, uma presença de tela absurda e linda de morrer. Também prestem atenção à cena em que Whip, Nicole e um paciente de câncer conversam nas escadas. É sensacional.
 
GERÔNIMOOOOOOOO…

2 comentários em “O Voo

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