Por Quando o diretor Robert Zemeckis faz um filme, é regra: vamos assistir. Um dos raros casos de artista capaz de controlar o ritmo e a qualidade do que ocorre em cena mesmo que o roteiro seja bom ou ruim. Vide o excelente A Travessia, filme que acompanha um desenvolvimento desnecessário até um clímax extraordinário. É a mão do diretor que faz com que o filme seja divertido do início ao fim.
Quando ele recebe um bom roteiro, a qualidade é ainda maior. No caso deste O Voo, ele vendeu que o grande momento da produção seria o espetacular acidente aéreo… Que ocorre nos primeiros minutos do filme. Era um engodo, porque a produção é sobre os valores morais do personagem Whip Whitaker, vivido por Denzel Washington. E o clímax é sobre ele, e não sobre o espetáculo.
No entanto, foi uma coisa especial assistir a cena em companhia de uma amiga que tem medo de voar de avião. Zemeckis constrói aos poucos o desespero da cabine dos comandantes quando o avião embica. Mas preste atenção em quantos detalhes acrescentam ao momento. A perda do volante, a forma como a câmera parece ficar para trás pelo corredor quando a nave começa a cair, o desespero do co-piloto enquanto Whip fica calmo. Como cada tentativa técnica falha, como um pedaço do trem de pouso ser arrancado pelo vento.
Depois começa a parte que mais enche os olhos, Whip vira o avião de cabeça para baixo. O que corta a queda. Ao mesmo tempo, Zemeckis cria mais tensão com os passageiros. Uma aeromoça bate a cabeça ao tentar controlar o suporte de bagagens de mão. O protagonista fala para a aeromoça que o ajuda para se despedir do filho na caixa preta. E então uma pessoa desligada do momento exclama o quanto a situação é impressionante quando vê o avião passar por cima dele no céu.
Para fechar, quando Whip consegue planar no eixo normal, vê-se uma torre de uma igreja acertar uma das asas do ponto de vista da cabine. Isso com uma aeromoça pendurada pelos pés enquanto um passageiro vomita e uma colega quica pelo espaço. Papéis voam para todos os lados e a palavra final de Whip acerta em cheio. Ele fez tudo o que podia, e agora é esperar pelo impacto.
Cinemão.