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O Homem Mais Procurado

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Os filmes baseados em obras do John Le Carré não são as obras de espionagem mais acessíveis. Você não vai encontrar grandes tiroteios, explosões ou cenas de perseguição neles. As histórias do escritor se sustentam em segredos que são obtidos de maneiras que beiram a ilegalidade, com discrição e paciência.

Um checheno muçulmano fugido da Turquia aparece em Hamburgo, na Alemanha, procurando pelo banqueiro Tommy Brue (Dafoe). Annabel Richter (McAdams) é uma advogada a favor de ajudar refugiados políticos e resolve ajudá-lo. À princípio, o espião Günter Bachmann (Hoffman) o investiga com suspeita de terrorismo, mas acaba por ver nele a oportunidade para capturar um peixe maior. Em seu caminho, Martha Sullivan (Wright) é uma superior que Günter precisa convencer a seguir a lógica de seus planos.
Parece confuso, mas é mais simples do que aparenta. A complicação se encontra, como quase tudo na vida, na forma como as coisas acontecem. Não tem cenas de personagens sentando e explicando a trama. É preciso prestar atenção nos eventos e no que é dito para juntar as peças aos poucos e a trama fazer sentido. As informações levantadas são conseguidas através de espionagem real, com levantamento de dados e pessoas disfarçadas entre suas fontes. O suspense reside nos momentos em que os planos são postos em práticas.

A-Most-Wanted-Man-3Annabel, Tommy e o suspeito checheno. Segredos sussurrados.

O roteiro constrói a história através de momentos entre pessoas e o diretor Anton Corbijn valoriza isso dando espaço para os atores explorarem os sentimentos dessas situações. Ele permite que as cenas se desenvolvam movendo sempre a câmera até apresentar um novo elemento em primeiro ou segundo plano no canto dos enquadramentos. Quando Günter ou seus espiões estão ouvindo uma conversa alheia, eles aparecem sutilmente nos planos. Se o espectador não prestar atenção, talvez nem os perceba ali.
A câmera está sempre tremida, como se tudo fosse filmado por uma pessoa escondida em uma situação tensa. Faz com que o espectador seja um espião do filme. A fotografia tende para cores como verde ou amarelo porque tenta levantar a sensação de ambientes artificialmente iluminados. Cria uma claustrofobia e uma ambientação de escritório.
Günter carrega no passado um grande erro de espionagem. Esse erro não foi dele, mas de superiores americanos (o personagem é alemão). Por isso não confia neles. Sabe que eles não se importam com as pessoas e agem quebrando regras e leis. Fazem ações militares onde não tem autoridade e simplesmente desaparecem com inimigos e suspeitos. Esse é o grande medo do protagonista. Não quer ser injusto com nenhum dos suspeitos e por isso precisa manipulá-los e enganá-los. Se não o fizer para descobrir a verdade, os americanos simplesmente vão fazer com que um monte de inocentes sumam.

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Günter manipula Annabel. Culpa que atormenta.

É onde entra o valor de Philip Seymour Hoffman. Com poucos trejeitos e variações ele representa toda a culpa de um homem que brinca com os sentimentos alheios para objetivos próprios. A Rachel McAdams está ótima como uma pessoa que se tortura emocionalmente em nome de um bem maior. Não fosse por ela, a dor de Günter pareceria não ter motivo. O Willem Dafoe também está muito bem, mas seu papel não tem tanto destaque, assim como o Daniel Brühl. A Robin Wright brilha como uma luz de esperança dentro da frieza calculista norte americana.
Um filme que constrói suspense no movimento de um homem segurando uma caneta é digno de muita atenção. Infelizmente, para construir esse tipo de tensão, precisa de ritmo lento. Ainda assim, a forma inteligente como a história é contada já faz com que a obra conte como algo fora do comum.
 
GERÔNIMOOOOOOOOO…

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