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Lembranças de Waterworld (Máquinas Mortais – 2018)

Dizem as más línguas que o George Lucas zombou da adaptação de O Senhor dos Anéis do Peter Jackson ao dizer que apenas a empresa de efeitos especiais Industrial, Lights & Magic, dele, seria capaz de fazer os filmes. Jackson ficou em silêncio e respondeu apenas com os sucessos da trilogia nos anos seguintes. Por alguma ironia, hoje ele está em uma situação muito semelhante à de Lucas.

É a sensação com o lançamento deste Máquinas Mortais, em que cidades e prédios se locomovem com rodas enormes pelo mundo devastado após uma guerra apocalíptica. O que restou de Londres aborda pequenas construções para aderir cidadãos e recursos. Nessas condições, uma desconhecida mascarada chamada Hester Shaw (Hera Hilmar) tenta matar Thaddeus Valentine (Hugo Weaving), um dos líderes londrinos.

Quando ela é impedida pelo londrino bem intencionado Tom Natsworthy (Robert Sheehan), os dois são expulsos da cidade e precisam dar um jeito de voltar e atrapalhar a construção de algum tipo de invenção de Valentine. A sinopse é muito mais complexa do que a estrutura da produção, que não pretende ser mais que uma fantasia de aventura cheia de efeitos especiais e ação espetaculosa.

Hester Shaw e Tom Natsworthy. Casal se mete em perseguições grandiosas.

Chega a ser surpreendente o quanto a estrutura deste filme é redonda e fechada em si, quando se leva em consideração que é uma adaptação de uma franquia de livros com várias sequências. Todas as histórias de todos os personagens, assim como os conflitos e problemas são fechados antes do fim da projeção.

Por outro lado, o trio de roteiristas Fran Walsh, Philippa Boyens e Peter Jackson é também parte do que mais remove o espectador do filme no decorrer dele. Apesar de construírem enredos e narrativas fechadas para cada personagem, eles fazem com que os contextos do universo em que a história acontece seja cheio de buracos.

Logo no começo, dois personagens discutem uma guerra entre as cidades móveis e uma nação que decidiu se manter estável. Em certo ponto, alguém comenta: “Eu sou contra pessoas que impedem o progresso.” Mas não é explicado em nenhum momento do filme porque fazer com que as cidades se movimentem é útil.

Londres sobre rodas. Apesar da aparência divertida, não faz sentido.

Na verdade, é contraprodutivo. Por não estarem paradas em um lugar, elas não têm produção própria de matéria-prima, o que as força a predar outros edifícios e comércios. Essa mesma incoerência eventualmente se encontra na trama principal do filme, como a motivação de Valentine. Quando chega ao clímax, é possível ver todos os defeitos no plano grandioso dele.

Mas nada disso importa, porque o diretor de primeira viagem Christian Rivers não quer necessariamente fazer um filme sem falhas, mas duas horas que passam rápido e divertem. É onde o melhor dos efeitos especiais dos estúdios Weta entra em cena. A grandiosidade de uma metrópole em movimento é traduzida para a tela com verossimilhança. O que, por si só, é um espetáculo.

Para isso, ele mistura estéticas steampunk com art deco. Com isso cria uma noção de invenções futuristas com base em tecnologias ultrapassadas. Assim, os cenários ficam repletos de detalhes curiosos e interessantes sobre aquele mundo, ao mesmo tempo em que possuem uma beleza típica do início do século XX.

Valentine. Grande vilão, apesar de incoerente.

Para engrandecer ainda mais os cenários, Rivers usa lentes abertas, que chegam a distorcer os ambientes para pegar a maior parte deles. O que funciona, mas não é suficiente para contar a história. Ele concentra mais em closes nos atores para deixar que as interpretações deles façam com que a narrativa se desenvolva.

Mas como ele não tem muita experiência com a parte de pós-produção, parece que ele esquece de filmar imagens de ambientação. Não é incomum os personagens reagirem a uma explosão e o corte mostrar uma construção que desaba. Assim, parece que algo foi perdido na montagem.

Pelo menos os atores sustentam os dramas. E como os roteiristas se deram ao trabalho de dar até aos coadjuvantes conflitos interessantes, os intérpretes têm a oportunidade de prender a atenção. Pelo menos os melhores deles, como Weaving, capaz de engrandecer e de dar humanidade até ao vilão mais estereotipado, como Valentine.

Hester. Heroína forte e sem personalidade.

Tanto que os veteranos do elenco engolem os protagonistas desconhecidos. São todos jovens e belos, mas inexpressivos. E não ajuda o fato de que eles são os que têm menos personalidade e conflitos interessantes. A heroína, Hester, é forte e decidida até ficar confusa e se colocar constantemente em perigo para que alguém a salve.

O que salva aqui é o objetivo principal: espetáculo. Máquinas Mortais é cheio de detalhes sobre um mundo interessante e rico em contextos que despertam curiosidade. Mas não consegue deixar de ser um fábula sem originalidade e coerência. E efeitos especiais já não impressionam como antigamente. Ainda é uma sessão divertida de ação e visuais bonitos.

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