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A Esposa (The Wife – 2018)

Após ser chamada de Jean, Joan Castleman (Glenn Close) apenas rebate: “Não se preocupe. Não tem importância.” A resposta dada em prontidão reflete toda a vida da protagonista no casamento com Joe (Jonathan Pryce). Elegante, educada, quase uma secretária do marido, e apagada. Não é apenas uma esposa troféu, mas retrato do que uma sociedade voltada para o patriarcado faz com as mulheres.

Ele foi chamado para receber o prêmio Nobel de literatura na Suécia. Na viagem, são acompanhados pelo filho David (Max Irons) e seguidos pelo autor de biografias Nathaniel Bone (Christian Slater). O grupo e a situação levantarão os fantasmas das vidas passadas dos Castleman.

Logo no início, há um incômodo crescente na relação apresentada pelo diretor Björn Runge quando o casal recebe a notícia da nomeação. A vida dos dois é mostrada com naturalidade, como pessoas normais, mas é possível ver nas reações dela a todas as animosidades dele uma tristeza contida.

Joe e Joan são abordados por Bone no voo para a Suécia.

Em todas as cenas, o diretor e a roteirista Jane Anderson criam momentos em que Joan precisa esconder uma angústia por ser apenas a esposa de um grande romancista, o que pode ser bastante repetitivo. Quando o foco não é essa construção, é o desvendar do passado dos dois. Cinquenta anos antes, Joan era uma ambiciosa aluna de Joe.

Passado e futuro são mostrados em paralelo até chegar ao final do filme, quando as duas linhas narrativas revelam parte do que os realizadores querem refletir. Joan suporta vários abusos por parte de Joe através da vida, mas ela também compreende as dores e motivações dele. E o ama acima de tudo isso.

A condução é quase teatral, uma vez que a história se desenrola por meio dos diálogos dos personagens em ambientes fechados. E Runge faz com que câmeras estáticas reforcem a sensação. No entanto, é na direção de arte e em pequenas alegorias que ele usa a linguagem cinematográfica para contar a história.

Joan e Joe na juventude. Relação que se esvai com os anos.

Os cenários e figurinos são tomados das cores vermelhas e azuis, com uso do vermelho quando as relações entre as pessoas são de aproximação. O azul toma o ambiente quando há distanciamento. Em ocasiões, as tonalidades dividem os enquadramentos e separam os personagens na tela.

A melhor alegoria do filme se encontra com um poema recitado por Joe inúmeras vezes no decorrer da história. Ele narra a tristeza e o valor da vida com a noção da queda da neve. O fenômeno natural, no fim do filme, será um reflexo da vida dele com Joan.

Close e Pryce protagonizam diálogos inteligentes em cena. Nas trocas, eles se amam e têm problemas ao mesmo tempo, como em todos os relacionamentos reais. Ela, no entanto, rouba todas as cenas em que aparece por esconder o desconforto constante da personagem com rápidas torcidas nos lábios e leves giros de cabeça. É possível ver o cérebro da personagem por trás de cada fala, e é mérito da atriz.

Um conto sagaz e atual sobre relacionamentos, sobre como o machismo poda mulheres na sociedade, e sobre uma personagem poderosa, mas forçada a esconder tanta força por trás de um papel social.

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