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Kingsman: Serviço Secreto

The Secret Service KSS_JB_D01_00106.tifA carreira de Matthew Vaughn no cinema é interessante. Ele começou como produtor dos primeiros filmes do Guy Ritchie. Quando o amigo foi para os Estados Unidos, Vaughn assumiu a cadeira de direção e fez o elogiadíssimo Layer Cake. Em seguida, fez Stardust e depois Kick-Ass. Pago dos bolsos do próprio diretor, o filme revelou os trunfos de Vaughn na direção, fundamentais para que Kingsman seja tão bom.

Após perder o colega Lancelot em uma missão, Galahad (Firth), um agente secreto de uma agência acima dos níveis governamentais, indica o jovem Gary “Eggsy” para assumir o cargo. Ao mesmo tempo, ele toma para si as investigações do amigo e descobre uma conspiração do brilhante empresário Richmond Valentine (Jackson). A ideia é muito semelhante a Kick-Ass e à trilogia do cornetto. O filme emula e brinca com um gênero do cinema. Neste caso, os filmes de espionagem. Sobra para todo mundo, Jason Bourne, Jack Bauer e, principalmente, o 007.

Anedota interessante. Vaughn adaptou Kick-Ass da HQ homônima do autor Mark Millar. Durante as gravações daquele filme, os dois tiveram a ideia de fazer um misto de brincadeira com homenagem aos 007 clássicos. Millar não deixou a peteca cair e criou o gibi Kingsman, do qual Vaughn tirou inspiração para este filme novo.

O roteiro, escrito com a parceira usual de Vaughn, Jane Goldman, nunca para de jogar ação na trama, mas coloca pequenos conflitos dramáticos no meio. Assim, nunca enjoa com a ação absurda e constante. Principalmente porque esses dramas são o mínimo para que o espectador se importe com os personagens enquanto estes se encontram em perigo. A dupla tem talento para escrever diálogos que são sérios e absurdos ao mesmo tempo. O absurdo faz parte da zombaria com os filmes de espionagem e a seriedade vende o universo. Parece tudo uma grande e divertida brincadeira até que o grande vilão e o herói trocam um diálogo e explicam o filme. O charme está na extravagância. Um plano de destruição global megalomaníaco, um herói extremo e impossível e a venda de ideais românticos e tradicionais. Esta troca entre os personagens também está cheia de mensagens escondidas entre os dois.

maxresdefaultSamuel L. Jackson como o vilão. Diálogos inteligentes.

A inteligência de Vaughn é transmitida para a direção. Ele parece usar mudanças de enquadramentos repletas de efeitos digitais para parecer propositadamente falso. Como os exageros de filmes de espiões normalmente são. Ainda assim, a ação é muito bem realizada. Os takes contínuos entre as lutas fazem com que elas pareçam mais reais e a participação dos atores nelas dão a impressão de que os personagens estão realmente lá. É tudo muito coreografado e acelerado, mas muito bem feito e envolvente. É o grande talento de Vaughn. Ele consegue colocar emoção em cenas de violência estilizada e envolver e fazer rir ao mesmo tempo. Isso se dá por conta dos riscos bem explicados, do cuidado em fazer com que a violência tenha alguma verossimilhança com os takes contínuos, mesmo que os movimentos não sejam realmente realistas.

A montagem acelerada conduz o ritmo até um clímax em que tudo vira uma grande e divertida brincadeira. Com direito a zombaria com o Obama, sexo anal, cabeças que explodem como fogos de artifício e ironias com comparações entre as bugigangas dos mocinhos e dos vilões. A trilha sonora brinca com os trompetes dramáticos do James Bond. A direção de arte participa de uma discussão levantada no filme sobre os valores de cavalaria ao dar para os heróis elegantes ternos à prova de bala e roupas “descoladas” para os vilões.

Em certo ponto da trama, Galahad cita Hemingway: “Ser melhor que os outros não tem relação com ser cavalheiro. Ser cavalheiro é se sentir bem consigo mesmo.”. O personagem assume relação paterna com o jovem Eggsy, que se recusa a assumir função tão pomposa. A discussão se desenvolve para conduta pessoal e valores de pessoas. Os ricos não são superiores. Mesmo alguém de origem humilde como Eggsy pode ser um cavalheiro honrado. A relação entre os dois dá liga emocional. Ao fundo, existe uma discussão sobre o aquecimento global e até uma zombaria com conservadorismo exacerbado, quando o filme sugere que extremistas religiosos são pessoas piores que um vilão que pretende promover um massacre global.

20-kingsmanEggsy. Temor de virar um esnobe.

Colin Firth é o ator certo para o papel de Galahad. Ele é elegante e faz as próprias cenas de ação. O desconhecido Taron Egerton segura as pontas como o garoto revoltado que aprende que os valores humanos são maiores que posses. Samuel L. Jackson está brilhante. Ele esconde a voz e a fala poderosa por trás de um problema de fonética e revela um personagem vulnerável como ele poucas vezes fez antes. É um vilão inteligente, com uma motivação surpreendentemente crível. Ele anda acompanhado de uma capanga com pernas que misturam andadores e espada. A atriz, Sofia Boutella é ótima e faz muito bem as cenas de ação contra os protagonistas. O Michael Caine tem uma pontinha tímida, mas rica em detalhes. O Mark Strong faz um tipo de Q dos Kingsman. Ele aparece pontualmente por trás dos panos e dá conta de muitos momentos hilários com rápidas observações. Vale notar a participação relâmpago de Mark Hamill, eterno Luke Skywalker e dublador do Coringa em animações, como um professor universitário. É menos de dez minutos, mas é de rasgar o bico.

Enfim, Kingsman é um filme extremamente divertido. Seja pelo humor despudorado e bem misturado com a narrativa, seja pela ação estapafúrdia que ainda envolve ou pelo comentário sarcástico que alfineta em diversos níveis e diversas pessoas.

 

GERÔNIMOOOOO…

 

4 comentários em “Kingsman: Serviço Secreto

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