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Casablanca

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De vez em quando algumas pessoas explicam filmes ruins com o argumento de que o roteiro não estava pronto quando a produção começou. Certamente sobram exemplos desse tipo de problema, mas também existem muitos grandes filmes que foram feitos desse jeito que são, sem dúvida, muito bons. É o caso de Casablanca. Nem os atores sabiam como o filme terminaria no primeiro dia de filmagem.

Em meio à Segunda Guerra Mundial, existia uma rota de transporte aéreo que permitia a refugiados escaparem da Europa para os Estados Unidos. A última parada dessa rota era Casablanca, uma cidade em Marrocos que tinha vôos que saíam de lá para a América. Rick (Bogart) é um americano dono de um café e cassino onde muitos negócios escusos são feitos. Um salvo conduto cai nas mãos de Rick e muita gente fica interessada em comprar dele. No mesmo dia, Victor Laszlo (Henreid) aparece na cidade. Laszlo é um rebelde contra os nazistas e precisa escapar para os Estados Unidos para ajudar na guerra. O problema é que a esposa dele, Ilsa (Bergman), tem um passado conflituoso com Rick.

A proposta é simples. Fazer um filme romântico e trágico em tempos de guerra. Existe um amor idealizado, daqueles que o cinema vendeu como sonho para grande parte das pessoas do mundo como sonho de felicidade extrema. E a grande tragédia, como sempre deveria ser, é que existem coisas mais importantes que esse grande amor. Em meio a tantos sentimentos vividos ao máximo, o tom é obviamente de melodrama.

casablancaVictor com Ilsa e Rick. Triângulo amoroso trágico.

Melodrama, deve ser lembrado, não significa falta de qualidade. Alguns dizem que é irreal ou inverossímil, mas todo dia acontecem coisas do tipo em tudo quanto é lugar. Principalmente quando o tema é amor romântico. Ou como diz a versão do Robert McKee em Adaptação: “Todo dia alguém, em algum lugar, toma a decisão consciente de magoar outro alguém.”. E as consequências dessas mágoas, como demonstra Casablanca, podem ser muito maiores que um simples término.

Rick e Ilsa possuem um daqueles amores enormes. O tipo de amor com que mais da metade das pessoas sonha e pelo qual grandes contos, poesias e obras clássicas foram realizados. A tragédia não se dá pela morte de um grande número de pessoas ou pela destruição de cidades, mas pelo fato de que esse grande amor não é a coisa mais importante que existe. Mas o que faz de Casablanca tão bom é a capacidade de envolver com o suspense em relação ao salvo conduto e como cria identificação com Rick, homem com ódio por causa do abandono. Por isso mesmo é que, quando Ilsa questiona se ele tem o direito de destruir o mundo por ter o coração partido, o espectador responde sim. Qualquer um sabe como é sentir esse egoísmo.

imagem32833_1O eterno Rick’s Cafe. Sam canta a música que virou tema da Warner.

O ritmo é rápido, a fotografia é expressionista e a sessão passa rápido. Entre as tiradas sarcásticas nos diálogos, as muitas indiretas escondidas nas ações dos personagens e as repercussões dramáticas, o espectador sempre tem alguma coisa para prestar atenção na tela e se diverte entre a tensão, o humor e o envolvimento com o conflito de Rick. Ficar com a mulher amada, ou ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.

No final, mil e um clichês foram inventados pela produção. É impossível assistir ao filme pela primeira vez e não perceber as inúmeras referências populares que se repetem através de séries e filmes. A adoração tem boa razão. Casablanca não é inovador, nem quer ser. Ele é tão bom porque acertou tudo o que pretendia ser com o que era feito na época. É o ápice do que era realizado no cinema americano do período.

 

ALLONS-YYYYYYYY…

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