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Colette (2018)

A primeira reação ao ver o nome da Keira Knightley em mais um filme de época foi questionar se era mais uma produção em que ela assume uma heroína romântica ou trágica, como nas três parcerias com o diretor Joe Wright. Mas a expectativa se prova falsa rapidamente. Não apenas porque o comando fica por conta do inglês Wash Westmoreland, mas pelo que este Colette realmente é.

Principalmente porque a mulher real que dá nome ao filme, Sidonie Gabrielle-Collete (Knightley), protagoniza uma história curiosíssima sobre o papel das mulheres na sociedade. No primeiro casamento, com o escritor Willy (Dominic West), ela descobriu com as desculpas dele para infidelidade a liberdade para ser o que quisesse, mesmo que tivesse que enfrentar os valores sociais da Inglaterra na transição dos séculos IXX a XX.

Nas mãos de realizadores mais fracos, Colette seria um drama de tribunal ou uma análise sobre o processo criativo da escritora, mas o que importa para os roteiristas Richard Glatzer, Rebecca Linkiewicz e o próprio Westmoreland é a transformação.

Colette e primeira amante
Colette cria coragem para se arriscar em novas experiências.

Colette começou como uma garota vitoriana que apenas queria casar e ser dona de casa e, com o passar dos anos, se tornou um ícone feminista, uma das escritoras mais importantes da França, e alguém disposta a romper com o esperado. O fato de que os primeiros livros dela foram publicados pelo marido em segredo para vender mais como ele diz, é fundamental, mas não é a força motriz da trama.

Assim, Willy se torna um personagem importantíssimo. Representante da alta classe, ele não consegue não trair a esposa. Quando ela descobre e questiona, ele não promete que não vai dormir com outras mulheres, mas que não vai mentir sobre isso. Ela então, segue o caminho lógico de que pode dormir com outras pessoas.

O argumento dele é que os homens têm, por natureza, a necessidade de fazer sexo com várias mulheres. Com as falácias que um espectador atual facilmente percebe, ela cresce, ao invés de se deixar reprimir. Nesse caminho, o roteiro constrói as situações aos poucos, até que a Colette na tela não é mais a mesma que o espectador conheceu no começo. E acompanhar isso é extraordinário.

Colette e Willu novos
Willy e Colette no começo. Relação manipulada por ele.

Ainda mais com a dupla de atores principais. Knightley sempre foi eficiente, mas aqui ela revela uma faceta diferente. Menos introvertida e mais confrontadora, mesmo que ainda não se destaque. Principalmente ao lado de West, que aproveita a falta de bom senso de Willy para pular, gritar e brincar com estereótipos de homens vulneráveis à própria insegurança.

Westmoreland dirige com eficiência e sutileza. Quando Willy compra uma casa para Colette, o diretor os coloca em espaços separados do enquadramento, como se ela fugisse dele. No entanto, o ator se movimenta pelo cenário e sempre a alcança. Como um reflexo de que ela sabe que deve se afastar, mas ainda se sente apegada ao marido.

Outros detalhes nos figurinos também chamam a atenção. Como o uso constante de preto por Willy e de cores claras por Colette. No entanto, quanto mais ela se envolve nos esquemas e trejeitos dele, mais detalhes escuros ela ganha. Quanto mais ela se afasta, mais limpos ficam os tecidos.

Willy festeja
Dominic West se diverte com o personagem fanfarrão.

O resultado é um excelente filme questionador. E que choca quando se percebe que os erros sociais apontados continuam atuais. Nada melhor que a história para ensinar, certo? Ainda mais com uma obra divertida e que não segue pelos mesmos caminhos de sempre. Infelizmente, poderia abordar melhor a persona de Willy, mesmo que isso seja compensado pela interpretação de West.

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