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Anastasia (1997)

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Em 1997, quando esta animação foi lançada, o conto da princesa russa Anastasia era um mistério real. Hoje, já se sabe que ela morreu durante a invasão ao palácio em que desapareceu, mas é preciso admitir que a história desperta interesse. A ideia de uma pessoa comum que é realeza sem saber é atrativa por diversos motivos. Talvez fosse uma obra espetacular nas mãos da Disney, mas apenas a dupla Gary Goldman e Don Bluth seriam capazes de fazer algo com este peso.

Goldman e Bluth fizeram uma série de animações que tinham o diferencial de envolver temas mais sombrios e de usar técnicas incomuns. É o que acontece com Anastasia (voz da Meg Ryan) quando, ainda criança, perde a memória ao ter que fugir às pressas enquanto a revolução russa eclodia. Mais velha e com amnésia, ela acredita se chamar Anna e parte junto com uma dupla de impostores para tentar conseguir uma recompensa pelo reencontro com a princesa perdida.

É difícil dizer se este desenho se enquadra em algum gênero fílmico. Ele é romance, ação, horror, comédia, musical e drama. Num misto de estilos, ele tem, como tema principal, a identidade. Anna quer encontrar a si mesma enquanto tenta compreender o passado esquecido. Dimitri (voz do John Cusack) quer encontrar paz com a recompensa. Rasputin (voz do Christopher Lloyd) sacrifica tudo de si apenas pela honra do que já teve.

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Dimitri. Anti-herói décadas antes da Disney assumir o estilo de personagem.

A mistura de gêneros cria um problema curioso para Anastasia. A trama do vilão, Rasputin, parece vazia e desnecessária para o enredo principal. Tanto que ele só aparece como inimigo para os protagonistas no clímax. Antes disso, durante o desenrolar da história, ele até tenta matá-los, mas o fato de que eles nunca sequer percebem a ameaça como uma pessoa diminui a sensação de perigo. Com exceção do conflito final, quando ele solta um exército de riscos sobrenaturais sobre eles.

Junto com essa falta de medo pelos protagonistas, os gêneros horror e ação são enfraquecidos. A comédia é embasada em conceitos infantis, como um morceguinho branco que acompanha Rasputin e leves desentendimentos entre Anna e Dimitri. Como o contexto é muito sombrio e voltado para adultos, não funciona também.

Sobram musical, drama e romance. E é onde o filme brilha. O sentimento entre os protagonistas é óbvio, mas o texto entre eles é bom e a emoção é plausível. Começam com brigas e picuinhas típicas de pessoas que não sabem exprimir a atração mútua. Com o tempo, as ações individuais criam admiração e os dois passam a gostar honestamente um do outro.

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Vilão Rasputin tem a melhor cena musical do filme.

As tramas dos personagens não é das mais fáceis de se passar para crianças, mas é feito com elegância. Existe uma grande sensibilidade na forma como Anastasia, junto com outro personagem importante, entende que o crescimento pessoal dela fora dos círculos da realeza a fez ser alguém que não seria feliz naquelas condições. Sem muita exposição, a cena é feita apenas com falas de compreensão.

E as músicas são muito divertidas e dançantes. Bluth e Goldman não seguiam os estilos fantásticos de pessoas que voam e fazem coisas incríveis enquanto cantam. Todos os números seguem uma premissa mais verossímil, com algumas exceções, como a música de Rasputin, que solta a cabeça do corpo. Ela quica pelos cenários e canta das formas mais inventivas. Até dentro da própria caixa torácica.

O resultado é um drama com leves pitadas de elementos pesados que diverte e faz uma proposta interessante com questionamentos válidos. Infelizmente, é nas partes em que deveria empolgar mais para crianças, como as cenas de ação e a comicidade infantil, que ele tem mais problemas.

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