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Amor por Direito (Freeheld – 2015)

Ellen Page abraça a Julianne Moore doente na praia.jpg

Tempo pós Oscar e pré verão americano. O resultado aqui nos cinemas brasileiros é o lançamento de diversos filmes feitos para concorrer às premiações que nunca chegaram longe nem em fama, nem no meio crítico. Amor por Direito é um dos resquícios da corrida de 2016 que chega com cara de retardatário, o que não é negativo em termos de qualidade de produção.

Como em tramas típicas de filmes de premiações, a história real de Amor por Direito é trágica: Laurel Hester (Julianne Moore) e Stacie Andree (Ellen Page) vivem juntas há três anos, o que lhes garante o título de união estável, porque não podem se casar de acordo com a legislação de 2005 dos Estados Unidos. Laurel descobre ter câncer de pulmão em estágio terminal e que deve morrer em breve. Como ela é quem sustenta a casa com o salário de policial, se preocupa em deixar uma pensão para que Stacie possa ficar com a casa, mas o conselho que dirige a cidade se recusa a dar o direito que dão sem problemas para casais heterossexuais.

Linguagem clássica, com bastante melodrama e duas atrizes que são carimbadas como oscarizáveis. O enredo trata de homossexualidade, o que já foi muito relevante em disputas anteriores. O filme foi feito para emocionar, na linha “comercial artística” para que pessoas saibam quais as produções elas devem assistir para se manter “antenadas”. Com muita frequência, isso rende filmes coesos, bem escritos e bem dirigidos. Pelo menos com boas interpretações.

Esse é o grande destaque de Amor por Direito. Se o cacife dos nomes Ellen Page e Julianne Moore não é suficiente para que o espectador casual não saiba se verá boas atuações, somam-se a elas talentos como Michael Shannon, Steve Carell e Josh Charles. Na verdade, o filme é mais de Shannon e Charles que das duas. Não necessariamente por conta da qualidade das interpretações, mas por causa do roteiro.

steve carell lidera movimento
Steve Carell faz ponta rápida e divertida como manifestante gay.

O texto de Ron Nyswaner, que escreveu pérolas como Filadélfia e Despertar de uma Paixão, sofre mais com a falta de material para fechar o tempo de um longa metragem que com alguma falha do roteirista. O filme se divide em três partes. Primeiro a dificuldade de Laurel para esconder a sexualidade dentro de uma instituição tipicamente patriarcal e o romance secreto com Stacie. Depois ela descobre o câncer e rapidamente, a produção é sobre este melodrama trágico. Então, no final, se torna um drama político. O que não é necessariamente negativo, mas fica realçado quando o protagonismo muda. Na primeira parte, as duas são o foco, depois muda para o parceiro dela na polícia, Dane Wells (Shannon) e um dos representantes do governo, Bryan Kelder (Charles), que precisam lidar com o preconceito de maneiras diferentes.

Como o foco principal da fita é a questão da pensão de Laurel, é a parte com mais tempo. As duas mulheres estão em casa ou no hospital para cuidar da saúde da mais velha. Elas mesmo não correm muito atrás do benefício. Elas sequer passam por transformação de ideologia, como ocorre normalmente com protagonistas. É Dane o verdadeiro personagem principal da produção. Ele não é homofóbico, mas tem muito preconceito enraizado. Para ajudar a parceira, ele precisa evoluir em relação a isso e enfrentar a instituição na qual trabalha como ela nunca precisou antes. Shannon é um grande ator e apenas por isso, rouba o filme das duas. Com jeito bronco, parece constantemente incomodado com as situações constrangedoras nas quais se encontra, mas a vontade de encontrar justiça dele é tão grande que não se importa de dar a cara a tapa.

O personagem Bryan Kelder é o único representante da administração local que percebe imediatamente que o pedido de pensão é legítimo, mas como é apenas uma voz em um conselho, precisa aparecer como um dos homens intolerantes com os quais trabalha. Isso repercute na vida familiar. O ator Josh Charles é um desses rostos que você já viu antes, mas não lembra de onde. O que é uma pena. Ele é ótimo e lida com essa tragédia do papel com muita elegância.

Michael Shannon intimida
Michael Shannon. Verdadeiro protagonista do filme.

O diretor Peter Sollet é um dos mais inteligentes em lidar com a temática gay no cinema. O outro grande filme da carreira é o fraquíssimo Nick & Norah: Uma Noite de Amor e Música, referência na forma de representar os personagens homossexuais dentro da trama. Aqui ele não se revela, mais uma vez, um grande realizador. Tecnicamente correto, não é expressivo ou usa os enquadramentos de forma significativa. Inclusive, nem tenta enriquecer o filme com diversas histórias paralelas que seriam interessantes. É visível que duas personagens coadjuvantes, a mãe de Stacie e a irmã de Laurel, não possuem mais que duas falas cada porque não houve pesquisa das pessoas reais ou por simples preguiça. Quando as duas aparecem aos prantos no final, não há envolvimento emocional com elas. É problemático tanto do roteiro quanto da direção.

Quem prestar atenção vai notar o nome do Hans Zimmer na composição musical. É um caso interessante para prestar atenção porque a trilha é minimalista. O contrário do que o músico gosto de trabalhar. Também é notável que a música da Miley Cyrus cantada nos créditos finais foi feita com o intuito de ganhar alguma indicação de melhor canção original caso o filme tivesse chegado às premiações.

Infelizmente, como todo o resto da produção, nada parece ser um destaque. A história das duas mulheres que sofreram injustiça é bonita, mas certamente não era a grande preocupação de ambas no momento. O homem que carrega a trama é tratado como uma figura unidimensional. Ele existe unicamente para ser o cara que representa Laurel quando ela não pode ir para as reuniões do conselho. Não é ruim ou negativo, mas nunca parece mostrar a que realmente veio. Ainda vale mais que assistir a qualquer sessão de filme ruim.

 

ALLONS-YYYYYYYYYY…

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