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Vai que Cola 2 – O Começo (2019)

Com a estreia deste Vai que Cola 2 – O Começo, há dois filmes nacionais produzidos por Carlos Diegues em cartaz. O outro é o extremo oposto Bacurau. É quase irônico assistir a ambos em sequência. As produções envolvem inversões de valores e são praticamente antíteses uma da outra.

Este conta uma história prévia às sete temporadas da série de TV e ao filme anterior. Assim, acompanha a mudança de Ferdinando (Marcus Majella) para o Rio de Janeiro e como ele se encontrou com Jéssica (Samantha Schmütz), Terezinha (Cacau Protásio), Máicol (Emiliano d’Avila), Velna (Fiorella Mattheis) e Lacraia (Silvio Guindane) na pensão da dona Jô (Catarina Abdalla).

E como uma comédia típica feita para arrecadar muita bilheteria (o primeiro filme levou mais de 3 milhões de pessoas aos cinemas), sobram estereótipos e fantasias para fazer com que a jornada desses personagens faça rir e os leve a ficar juntos. O meio dessa história, porém, é vazio.

Majella rouba o filme ao ser sincero com os sentimentos de Ferdinando.

Ferdinando gera humor devido à homossexualidade e à falta de forma dele. A piada é ver um homem não corresponder ao papel masculino e querer ser feminino. Principalmente um que mantém a barba ao se travestir.

Da mesma forma, há um reforço da imagem de pobres cafonas. As mulheres negras usam cabelo escovado e pintado de loiro. Em certo ponto, alguém fala que decote só fica bom quando mostra parte do sutiã. Grande parte das piadas envolvem ignorância e grosseria dos mesmos. Como a Terezinha, que grita à roda e é constantemente zombada pela parte técnica por ser obesa.

A câmera treme quando ela anda. Os personagens rebolam e se jogam em cena de forma caricata. Os cenários e figurinos são construídos meticulosamente para ter cores saturadas. A intenção é ser brega, como se a ignorância dos que vivem lá transparecesse em uma espécie de mal gosto.

Mesmo cartunesco, Fábio Lago não deixa de ser genuíno com cada olhar.

Isso se reflete na fotografia, que se limita a iluminar tudo o que possa estar nas sombras. Para dar um tom mais escuro para as partes de perigo e de vilões, cores vermelhas e verdes tomam a tela. Nos corredores repetidos em que as cenas são filmadas, remete ao movimento Giallo. Será que era a intenção de César Rodrigues? Especialmente quando ele nunca deixa que nenhum momento deixe de ter piada.

Entre as interpretações cartunescas, é preciso dar destaque para Majella, que transborda sinceridade mesmo nos momentos mais absurdos de Ferdinando. Outro que merece atenção é Fábio Lago, em uma ponta. Mesmo com os diálogos exagerados, cada olhar dele é genuíno.

Para quem gosta desse tipo de humor, o filme oferece mais do mesmo. Para quem está cansado de estereótipos de gordos, gays, pobres, baianos, vale olhar a concorrência do mesmo estúdio e dos mesmos produtores. Lá, a população pobre pode ser engraçada pelos tipos, mas é inteligente e é reconhecida pela linguagem do filme como mais que fonte de piada.

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