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Uma Viagem Extraordinária

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Uma Viagem Extraordinária é um filme conflitante. É ultra colorido, com um protagonista infantil e trata sobre uma viagem de uma criança através dos Estados Unidos por conta de uma premissa puramente ingênua. Porém, é um dos filmes mais tristes que estão passando atualmente nos cinemas. Ainda me pego com a dúvida de que é um filme infantil ou um drama adulto focado em uma criança.

T.S. Spivet cria um projeto para uma máquina de movimento perpétuo e a envia para o Smithsonian. A invenção vai ser agraciada com um prêmio e requer que ele vá lá recebê-lo. Sem avisar a família, T.S. viaja através do país para chegar em Washington. A sinopse parece boba, mas ela esconde os verdadeiros motivos do menino de 10 anos. Spivet não se importa com o prêmio que pode vir a ganhar. Ele está viajando por sentir a chamada culpa de sobrevivente. Um mal que já é ruim por si só, mas que se torna ainda mais triste e mórbido por estar representado na figura de uma criança tão indefesa e solitária.
O que faz do filme algo digno de atenção é a direção de Jean-Pierre Jeunet. Dono de um dos estilos visuais mais fortes e impressionistas atuais, a curiosidade era forte para ver o que ele faria com uma obra infantil. E o que é mais curioso é que ele fez algo muito semelhante ao seu grande sucesso, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. O mundo de Spivet tem cores de saturação forte e tonalidades baixas e parece, em muitos momentos, uma pintura de um livro para crianças. Porém, por mais fantástico e absurdo que pareça visualmente, é um mundo de consequências bastante reais e assustadoras.
Poderia facilmente seguir estilo infanto-juvenil de aventuras oitentistas, mas a viagem de Spivet através do país não é feita de episódios empolgantes com bandidos e humor. A única vez em que o garoto precisa fugir de alguém e se arrisca para conseguir acaba seriamente ferido, o que o limita fisicamente pelo resto do filme. Com poucos minutos de filme, Spivet revela com sua narrativa em off que seu irmão gêmeo morreu em um acidente com uma arma de fogo. Por isso mesmo a vida familiar não é a da típica família feliz. Ninguém fala sobre o evento terrível que se abateu sobre eles, mas todos vivem em luto. Principalmente o pobre garoto, que sofre tanto por ter sido o que sobreviveu que chega a conversar com o irmão com frequência. Seja o irmão sua imaginação ou um fantasma.

l-extravagant-voyage-du-jeune-et-prodigieux-ts-spivet-photo-52611e119ec3aA família Spivet. Tragédias que deixam marcas.

O ritmo é lento para dar sentido ao clima de melancolia e tristeza. Um ritmo que não é convidativo para os menores. Os diálogos do garoto acerca de conceitos científicos tornam o filme ainda mais difícil para crianças. Talvez eu esteja subestimando-as, mas realmente acho o filme denso demais e com pouco compromisso com entretenimento para ser de fato infantil.
Com isso dito, é preciso dizer também que Uma Viagem Extraordinária é um filme muito bonito sobre pessoas que vivem com o luto após uma tragédia. A culpa e a tristeza resultantes dão o tom para a produção e retratam que mesmo crianças não estão livres da crueldade tão comum nas vidas de todas as pessoas.
A única pessoa famosa do filme é a Helena Bonham Carter, que interpreta a mãe de Spivet. Sem sinal de seu sotaque britânico, a atriz dá conta de uma personagem sofrida e que beira a normalidade, não fosse o leve toque de fantasia do diretor. O menino que interpreta o protagonista, Kyle Catlett, é ótimo e se entrega para tudo o que é necessário para o filme. Seja a alegria exagerada até a tristeza sutil de pedir para a mãe parar de caçar insetos, atividade que ela assumiu para si após a morte do outro filho.
Um Faboloso Destino de Amélie Poulain com crianças. Pode-se dizer que é uma descrição apropriada para o filme. Ele não tem toda a qualidade da obra-prima de Jeunet, mas parece um drama adequado para o mesmo universo da francesa desiludida. Destaque para a música Leaving Earth, do jogo Mass Effect 3, que toca no momento em que Spivet se permite falar pela primeira vez sobre a morte do irmão. Quem diria que arte realizada para videogames seria tão adequada para um momento tão tocante.
 
FANTASTIC…

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