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A Menina da Bolha de Plástico (Tudo e Todas as Coisas – 2017)

Maddy e Olly separados pelo vidro.jpeg

Alguém lembra daquele filme feito para a TV nos Estados Unidos com o John Travolta? Se chama O Rapaz da Bolha de Plástico, e fez muito sucesso até no Brasil, apesar da baixa qualidade. Também houve aquele do Jake Gyllenhaal: Jimmy Bolha, outra coisa esquecível. Se um era um melodrama e o outro uma comédia besteirol, chegou a vez de tentar explorar a temática com um romance adolescente.

Desta vez, a pessoa com imunidade tão baixa que precisa viver em uma casa que a protege de todas as formas de infecções do mundo é a jovem Maddy Whittier (Amandla Stenberg), que se descobre perdidamente apaixonada pelo novo vizinho, Olly Bright (Nick Robinson), no dia em que completa 18 anos. Apesar de os dois desenvolverem uma relação forte por mensagens, sabem que jamais poderão se tocar.

Conflito interessante para um romance: casal se ama indubitavelmente, mas não pode ficar junto. É algo que já foi visto à exaustão em milhares de diferentes tramas. A originalidade não está na base do conflito, mas em como ele se apresenta; se juntar como casal pode, literalmente, significar a morte de um dos dois amantes.

Maddy encara vidro cheio de fotos
Fotografias no vidro ilustram os sonhos de Maddy.

O grande problema aqui é a obviedade. Existem apenas três finais possíveis para esta trama, e é difícil fazer com que qualquer um deles funcione. É justamente o que não acontece aqui: das três possibilidades de fim, Tudo e Todas as Coisas segue justamente pela que é mais fácil em termos narrativos.

E o faz de uma péssima forma, com melodrama. De um nível que chega a parecer uma novela mexicana. O que é um jeito fraco de fechar uma trama de fotografia sem personalidade, que apenas ilumina todo o ambiente, e uma montagem que corta e liga as cenas sem dar continuidade aos eventos. É possível ver que um personagem ia falar algo antes de ser fortemente trocado pela imagem de outro contexto da história.

Chega a ser indigno de outras grandes qualidades da produção, como a diretora Stella Meghie, que usa de muitos artifícios do livro em que o filme se baseia para construir pequenas estéticas que contam a história. Um dos melhores exemplos é o uso de subjetividade para mostrar como Maddy escapa da casa que a protege por meio da imaginação.

olly no telefone
Nick Robinson sustenta o adolescente apaixonado bem.

A personagem estuda arquitetura e se imagina nas construções que fez em maquetes. Então, a direção de arte brilha. Os ambientes sonhados por ela estão repletos de azul esverdeado, a cor favorita de Maddy. Neles, ela também se vê com Olly quando eles dialogam por mensagens de celular. Nessas ocasiões, a montagem quebra eixos de diálogo de forma a indicar como a mente dela pensa a forma como as conversas se desenvolvem. Eles têm um choque e, de repente, estão afastados no espaço imaginário dela. Eles estão bem e subitamente estão próximos.

Além disso, no mundo real, os dois quebram aos poucos os padrões de cores iniciais. Ela só usa branco e ele preto. O convívio com ele a faz se revelar mais quando ela assume tons florais como amarelo e azul esverdeado. Enquanto ele usa cada vez mais detalhes azuis e brancos entre o preto.

O outro grande trunfo do roteiro são os dois atores que o leem em tela. A breguice de um casal adolescente que se relaciona com inocência só funciona porque Amandla é uma atriz muito simpática, que vende as surpresas que Maddy sente por se apaixonar. Ela é tão boa que vende o conflito da garota. E Robinson é eficiente em ser um garoto que não sabe como lidar com a situação estranha que vive com a vizinha.

Surpreendentemente, Tudo e Todas as Coisas se sustenta por boas ideias na direção e pela ótima dupla de atores principais, que conseguem até criar empatia por personagens praticamente sem personalidades. Mas nada consegue tirar a sensação de um filme que segue os caminhos preguiçosos para tentar forçar o espectador a chorar. Vai agradar quem gosta de romances melosos.

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