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Trumbo: Lista Negra (2015)

trumbo diante do congresso

Quem não conhece um pouco sobre a história da indústria de cinema dos Estados Unidos, não sabe sobre a famosa caça às bruxas marcada pela participação do senador Joseph McCarthy. Foi um período sombrio na história do país no qual um grupo de conservadores radicais foi contra a constituição do país numa insana busca contra os “comunistas” durante a guerra fria. De vez em quando surge um filme sobre o período, como este Trumbo, sobre uma das figuras mais importantes dessa história.

O famoso e talentoso roteirista de cinema, Dalton Trumbo (Bryan Cranston), era líder do partido comunista dentro da indústria. Até o ano 1947, quando o congresso americano iniciou um registro público de todos os comunistas numa tentativa de destacá-los como traidores do país e agentes secretos da União Soviética. Todo mundo da indústria que entrou na lista deixou de conseguir contratos em filmes. Trumbo começa, então, uma corrida desesperada para sustentar a família e os amigos desempregados.

Adaptação do livro que revelou os anos de dificuldades de Trumbo enquanto essa lista horrorosa fez milhares de vítimas, o filme se propõe a fazer o mesmo em diversos níveis. Como a lista teve influência sobre a família de Trumbo, as amizades, a saúde de diversos daqueles homens, o convívio social com vizinhos.

amigos em conflito
Os colegas do partido comunista. Roteiristas e atores perseguidos.

Existem dois pontos que se destacam em Trumbo, o roteiro e os atores. O que é uma combinação de ouro para cinema. Um bom texto interpretado bem gera grandes momentos, não importa quantos defeitos a mais o filme tem. Os diálogos são feitos de grandes falas, principalmente as de Dalton Trumbo. Como um bom criador de textos, o personagem também era ótimo para soltar analogias e argumentos através de figuras de linguagem ricas. Ele e o amigo Arlen Hird (Louis C.K.) discutem a participação dele no partido comunista. Como Trumbo era rico antes da perseguição política, a posição dele era questionada. Então ele solta “Como pobre você pode lutar com a nobreza de Jesus, mas como rico, você luta com a astúcia do diabo”.

John McNamara, o roteirista, trabalhou apenas com TV e a experiência reflete na produção. Ao mesmo tempo em que cria excelentes falas, ele conta toda a história através dos diálogos. Não há espaço para desenvolvimento narrativo visual. Tudo é contado pelos personagens que explicam a trama. Além disso, no começo do filme, um texto aparece para explicar a formação do partido comunista. Outros textos explicam os rumos dos personagens depois que ele termina. É preguiçoso tanto por parte de McNamara quanto do diretor Jay Roach.

Este tem a carreira feita apenas de comédias. Literalmente, Trumbo é o primeiro drama dele. A noção de ritmo cômico serve bastante às ironias dos diálogos, mas a inexperiência em elaboração de linguagem narrativa o impedem de ter muita autoria no filme. Principalmente com um texto tão bom. Mas Roach acerta nas escolhas de reconstrução de época. A direção de arte é bela e elaborada. Nos anos 1940 os ternos e gravatas são detalhados e coloridos. As paredes, os carros, a maquiagem. Tudo acompanha cada época. A iluminação reflete as formas de filmar de cada período. No começo, quando o cinema era preto e branco, luzes duras servem de contraluz para destacar os contornos. Com a evolução tecnológica e o advento das cores, as técnicas mudam e a iluminação fica mais naturalista.

com a Elle Fanning
Com a filha interpretada pela Elle Fanning. Repercussão familiar.

Bryan Cranston recria diversos trejeitos de Trumbo, mas vai além disso. O personagem é mais velho e tem condições de saúde piores que a do ator. Existe um desconforto e uma rabugentice em todas as demonstrações de sentimento. Mesmo quando demonstra carinho pela família, dói para Trumbo o esforço de ir até os locais para encontrar com a filha mais velha ou com a esposa. A Elle Fanning está cada vez melhor. Ela cria um misto de adoração com ódio na relação com Trumbo, o pai da personagem. Além dos dois, o resto do elenco parece apagado. Diane Lane, Helen Mirren, John Goodman, Alan Tudyk e Louis C.K. estão todos bem e cada um tem bons momentos. Mas possuem participações pequenas demais para se destacarem.

Um grande retrato da tragédia humana e ideológica que foi a perseguição sofrida por aquelas pessoas. Infelizmente, reflete muitos absurdos que surgem no cenário político brasileiro atual. A noção de que pessoas com ideias diferentes devem ser rechaçadas e impedidas de se expressar é perigosa e, como se retrata no filme, gera apenas vítimas. Importante para levantar uma reflexão necessária.

 

ALLONS-YYYYYYYYY…

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