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The Post: A Guerra Secreta (The Post – 2017)

Hanks e Streep tomam café da manhã em restaurante

Filmes sobre casos reais de apurações jornalísticas que mudaram a história são uma constante em Hollywood. A nova produção de Steven Spielberg relata os bastidores do jornal Washington Post durante a apuração do escândalo dos papéis do Pentágono. Será que o diretor veterano consegue fazer algo comparável com clássicos como Todos os Homens do Presidente?

A história é famosa. Durante a administração do presidente Nixon, o secretário Robert McNamara (Bruce Greenwood) pediu um levantamento do histórico da Guerra do Vietnã com resultados avassaladores. Os dados vazaram para a imprensa e, pela primeira vez na história dos Estados Unidos, o governo tentou censurar os jornais.

Com foco no editor chefe do Washington Post, Ben Bradlee (Tom Hanks), e na dona da rede que contava com o jornal, Kay Graham (Meryl Streep), o filme propõe uma discussão sobre o papel da imprensa em relação ao governo e à população.

Porque os papéis levantam um questionamento moral que nunca se abateu sobre eles. Os chefes de jornalismo se tornavam amigos de pessoas dos círculos que cobriam, e não lidavam com situações em que essas amizades viravam conflito de interesses. Mas McNamara era amigo íntimo de Kay, e certamente não queria que as informações vazassem.

equipe lê os documentos
Bradlee lê os documentos vazados com a equipe.

Para quem não sabe, a pesquisa revelou que o governo dos Estados Unidos sempre soube, desde o começo da guerra, que se envolver com o Vietnã seria um erro. Mas a cada governante que tomou o cargo de presidente, mais soldados eram mandados para a morte. E a revelação disso justamente no governo Nixon, causou muitos problemas.

Tanto Spielberg quanto os roteiristas Liz Hannah e Josh Singer acertam em dar destaque para este choque. Em parte porque gera um suspense para todas as decisões dos personagens, mas principalmente porque critica o presidente atual do país. É muito fácil ligar a gestão de Nixon com a de Donald Trump. Inclusive na relação com a imprensa. Mas também ganha uma repercussão maior acidental. As tentativas de censura representadas no filme não são incomuns à imprensa brasileira.

E o conflito de Kay é ainda maior porque ela herdou o império de mídia em uma época em que as mulheres deviam sair da sala de jantar quando os homens discutiam política. Entram em cena os talentos já reconhecidos de Hanks e de Meryl. Ele apresenta o desdém comum de jornalistas experientes que buscam a verdade e zombam de quem não concorda com eles. Mas ela rouba cada cena (nada incomum) com uma mulher que precisa ser forte ao mesmo tempo em que é contida pelo lugar social em que se encontra.

redação assiste TV
Redação do Washington Post acompanha notícias sobre a perseguição do governo.

Com frequência, Spielberg aproveita desse contexto para retratar essa diferença absurda na sociedade. Em uma reunião com os acionistas, ela passa do corredor tomado por secretárias de vestidos coloridos para a sala de reunião com homens de ternos escuros. O diretor faz a cena com câmera subjetiva, para fazer com que o espectador sinta a pressão de Kay.

Em outro ponto, ela sai vitoriosa de um ambiente e se recusa a lidar com um mar de repórteres também de terno. Quando se vira para outra direção, passa por um grupo de mulheres que a olham admiradas. Ela não pode e talvez até não compreenda a necessidade de ajudar outras que sofrem com o machismo, mas serve de exemplo de como superar.

A fotografia típica do diretor toma conta aqui. Com cores cinzentas e contraluzes duros, ele segue o padrão de colocar sombras para esconder personagens confusos, enquanto iluminação por trás deles indica fonte de sabedoria. Um diálogo de Bradlee com a esposa tem a luz como um halo de luz atrás dela, justamente quando ela o faz ver como Kay era quem mais tinha a perder com o caso investigado.

Trata-se de um grande filme sobre jornalismo, ética, moral, condições de mulheres na sociedade e suspense. Porém, ao mesmo tempo em que acerta no tom de cada objetivo, The Post pode ficar confuso sobre qual a proposta principal. Ainda mais quando chega ao fim com uma adoração aos jornalistas com uma frase ufanista de um dos personagens.

Esta e outras críticas também podem ser lidas no site Sete Cultural.

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