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Terapia de Risco

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Terapia de Risco é supostamente o último filme do Steve Soderbergh. Ele já havia anunciado sua aposentadoria três filmes antes e por isso mesmo esses filmes receberam mais atenção de seus fãs e da crítica. Soderbergh é só um dos diretores mais importantes dos últimos trinta anos. Sem ele não teríamos experimentado o cinema independente das décadas passadas. E seu adeus ficou com gosto amargo.

Emily é uma mulher que sofre de uma depressão pesadíssima. Seu marido, Martin, está preso por venda de informações financeiras. Por conta disso, a fortuna da qual os dois viviam com tranquilidade foi perdida. Ela teve que arrumar um emprego opressivo e ele precisa recomeçar do zero.
Em um ato de desespero, ela tenta se matar dirigindo seu carro contra uma parede. O psiquiatra designado para seu caso acaba lhe receitando um remédio em fase experimental com diversos possíveis efeitos colaterais. Esses efeitos colaterais acontecem e Emily acaba cometendo um crime em um estado de sonambulismo.

Emily e sua depressão. Construção belíssima.
Emily e sua depressão. Construção belíssima.

Fazer uma sinopse desse filme é muito complicado. O que já foi escrito até o momento é aproximadamente metade do negócio. Ao mesmo tempo não é a sinopse completa. Porque pela sinopse até ali, só parece um drama. Mas é um suspense policial.
Soderbergh é um grande diretor. Começa o filme mostrando a rotina de depressão de Emily. É um drama maravilhoso sobre a condição psicológica. Ele dura aproximadamente uns vinte minutos. É quando Emily tenta se matar. Então somos apresentados subitamente ao personagem do psiquiatra. Ele não pensa duas vezes antes de começar a receitar remédios e coquetéis químicos para Emily.
O universo ao redor de Emily passa a ser sobre discussões relacionadas a remédios. Uma amiga dela passa remédios para os quais a garota não possui receita. É uma crítica bem clara ao mercado de consumo de remédios dos Estados Unidos. Eles resolvem quase todos os seus problemas com químicos e os trocam como crianças trocam figurinhas.
Emily pede para que o psiquiatra receite o tal do remédio experimental por conselho de uma amiga. Ele tem algumas ressalvas mas preenche a receita. Com o novo remédio, parece que a personagem está curada magicamente. Ela volta a ficar animada, a trabalhar bem, a ter relações sexuais satisfatórias com o marido.
Ao mesmo tempo ela parece mais cansada, começa a ter sonambulismo. Acorda o marido às 4 da manhã andando pela casa arrumando a mesa e colocando música alta. Quando o médico sugere retirar a medicação, ela pede para continuar. Apesar dos pesares, estava melhor que antes.
Rooney Mara como Emily. Prova de que é uma grande atriz.
Rooney Mara como Emily. Prova de que é uma grande atriz.

Com isso vão mais uns vinte ótimos minutos de filme. Um drama interessante com uma reflexão interessante. Tudo muito bem dosado por Soderbergh.
Numa das noites de sonambulismo, Emily acaba cometendo um crime. Começa outra discussão. De quem é a culpa? Da Emily, que estava dormindo? Do psiquiatra, que receitou o remédio e o manteve mesmo depois de aparecerem efeitos colaterais? Da empresa farmacêutica, que fabricou o medicamento? Para o Estado, é preciso haver algum culpado.
É mais uma reflexão interessante. Afinal, por que a culpa não é dessa cultura maluca de remédios e medicações para tudo? Infelizmente, essa parte dura mais cinco minutos. Estamos na metade do filme e de repente tudo muda.
Não vou dizer o que acontece. Apenas que o filme vira um suspense policial. Assim, do nada. O drama bem conduzido e interessante deixa de ser isso para ser um amontoado de pistas nessa segunda metade do filme. De repente aquela cena incrível da Emily tendo uma crise no trabalho passa a ser uma evidência na cadeia de eventos que levaram à investigação.
O suspense é bom. Muito bem conduzido. Terapia de risco possui uma direção de fotografia maravilhosa. Soderbergh aplica sua estética padrão para criar uma Nova Iorque opressiva e sombria. Closes bem fechados cheios de focos profundos tornam os ambientes misteriosos e quase irreconhecíveis.
Seria um suspense incrível, não fosse o fato de que joga fora tudo o que foi construído antes. Todo aquele drama, aquelas discussões. Vai tudo pela janela. O que fica é a tentativa de um ótimo suspense nos moldes de Um Corpo que Cai, do Hitchcock. Chega perto, muito perto mesmo.
É uma busca de obsessão. Mas os eventos são altamente questionáveis. A resolução final é forçada e não faz muito sentido. Parece feita só para termos aquele gostinho de final feliz.
Channing Tatum. O carisma em pessoa.
Channing Tatum. O carisma em pessoa.

O elenco é maravilhoso. A Rooney Mara prova que é uma excelente atriz, mesmo sem o David Fincher a dirigindo. O papel possui semelhanças com sua Lisbeth Salander, mas com tons diferentes. Jude Law cria um psiquiatra obcecado com a verdade. Catherine Zeta-Jones surpreende com o quanto se contém por trás de sua personagem. E o Chaning Tatum cada vez me convence mais que tem o talento e o carisma para se tornar um grande nome em Hollywood, é a sua terceira parceria com Soderbergh.
A primeira metade é bem legal, a segunda também, apesar de ser outro filme. O ritmo é bizarro e o final estranho. Só por ter tantas discussões e pelo possível adeus do diretor já merece uma conferida.
O filme deve estar chegando por aqui no dia 17 de maio. Deve porque já foi adiado diversas vezes. Sabe-se lá quando o veremos nos cinemas daqui.
 
ALONS-YYYYYYYYYYYY…

2 comentários em “Terapia de Risco

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