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Somente o Mar Sabe (The Mercy – 2018)

Este texto também pode ser lido no Sete Cultura.

Colin Firth dentro do barco.jpg

Este Somente o Mar Sabe parece um filme perdido. Do diretor de um dos queridinhos do Oscar de alguns anos atrás, com uma história trágica real e um elenco extraordinário, era de se esperar uma produção badalada. Porém, basta perceber que o tal diretor é James Marsh, o ser humano que cometeu A Teoria de Tudo, para entender como a obra entra discretamente em cartaz no circuito nacional.

Ele conta a história de Donald Crowhurst (Colin Firth), um velejador amador que participou de uma corrida ao redor do mundo em 1964 com um barco não terminado e cheio de problemas. Como ele colocou a casa em risco caso não terminasse o trajeto e não tem condições de fazer parte do percurso, ele passa a mentir sobre as posições em alto mar para garantir a renda da família que construiu com a esposa Clare (Rachel Weisz).

Essa premissa deixa óbvio duas coisas. Primeiro que se trata de um drama trágico, com grande potencial para emocionar e levar os públicos às lágrimas. Mas mais importante, que só há três finais possíveis para as mentiras de Donald. E isso já era notável desde o material de divulgação.

a esposa e os filhos esperam no porto
Clare espera no porto pelo marido.

É também o maior problema do filme de Marsh. Ele não tem muito a mostrar em tela para enrolar até a conclusão, que é telegrafada com mais de uma hora de projeção antes de acontecer. Desde a cena em que Donald se veste para embarcar no trimarã, que já revela que o homem sabia que não tinha como cumprir o que prometeu, até pequenas cenas em alto mar onde o diretor tenta fazer metáforas sobre o que vai acontecer.

Donald vê cavalos mortos na água, corta uma corda feita para que ele não se perca do barco caso caia dele, e joga um peixe que morreu no mar. É apenas repetição de uma mesma ideia, o que faz com que o ritmo seja cansativo e revela o fim antes da hora. E não ajuda a construção que Marsh e o roteirista Scott Z. Burns fazem das motivações do protagonista.

À princípio, ele quer fazer algo que dê valor à vida dele. É compreensível, ainda mais em uma cena belíssima em que ele se abre para a esposa sobre nunca ter realizado nada. O problema é que, assim que ele coloca a casa em jogo, a motivação dele se torna egoísta e faz com que ele perca a empatia do espectador. O que também faz com que não haja lágrimas pelo sofrimento dele até o fim da história.

casal na praia
Bela vida dos Crowhurst é colocada em jogo por egoísto do protagonista.

Marsh dirige com baixa tonalidade na fotografia e um granulado forte para dar uma sensação de película de super 8. O que funciona bem na excelente construção de época da direção de arte que acerta nos cabelos e nas roupas dos personagens. Mas o verdadeiro trunfo está nos dois atores principais.

Firth consegue exprimir emoções e sentimentos mesmo em cenas tão paradas e mal construídas, que é possível sentir o sofrimento de Crowhurst no desenrolar. Já Weisz esconde em olhares rápidos para baixo que a esposa quer o marido de volta mesmo quando precisa ajuda a promover a tentativa dele de dar a volta ao mundo.

Outro crítico se abriu ao fim da sessão para falar que pelo menos é melhor que A Teoria de Tudo. O porém é que isso não quer dizer muita coisa uma vez que aquele é uma produção tão ruim. Este pelo menos conta com um espetáculo de interpretações, ao contrário daquele.

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