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Sem Evidências

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É possível que qualquer pessoa já tenha ouvido falar sobre o famoso caso dos três de West Memphis. O julgamento de três adolescentes pelo assassinato de três crianças pequenas no estado de Arkansas, no sul dos Estados Unidos. O caso ficou conhecido porque era bastante óbvio que os três garotos considerados culpados não cometeram os crimes.

Em uma tarde de 1993, três crianças de oito anos de idade desapareceram após saírem para dar uma volta de bicicleta. As investigações da polícia levaram a três adolescentes indicando que a motivação foi realizar um ritual pagão. O filme se foca exatamente nos dias do julgamento, com as análises das evidências juntadas e dos interrogatórios das testemunhas. Dando foco em dois pontos de vistas diferentes, o da mãe de um dos meninos mortos e no investigador que auxiliou a defesa.
O foco nos dois personagens é inteligente. Assim o espectador consegue ver o julgamento do ponto de vista de alguém do lado da acusação e de alguém do lado da defesa. Porém, o filme está tão interessado em mostrar como o julgamento foi injusto que esse equilíbrio não existe no filme. Não apenas porque a personagem da mãe começa a ver que os adolescentes não são culpados, mas também porque o foco nos pontos de vista dos dois não chega a fazer com que nenhum seja o protagonista. O filme passa a maior parte do tempo exibindo os eventos relacionados ao crime, à investigação da polícia e ao julgamento. Os personagens principais ficam apagados em comparação e o filme sofre da falta de um ou mais mocinhos por quem torcer ou se identificar.

DevilsKnot3Reese Witherspoon como uma das mães. Drama sem foco.

O roteiro de Scott Derrickson e de Paul Harris Boardman (parceiros em filmes como O Exorcismo de Emily Rose) adapta o livro da autora Mara Leveritt com fidelidade demais. Na mídia literária, o foco apenas nos eventos e não nos personagens pode até funcionar, mas no cinema causa um pequeno desinteresse nas histórias isoladas. O diretor Atom Egoyan aparenta querer retratar a história de forma realista, como se quisesse dizer que as coisas aconteceram exatamente igual no filme. Por um lado é bom porque cria cenas de diálogos e interpretações contidos. Por outro lado, ele também se perde nos problemas de ritmo do roteiro.
Mas, se os protagonistas não criam empatia, o julgamento em si o faz. A injustiça contra aqueles jovens é tão revoltante que é impossível não sentir raiva do comportamento das autoridades relacionadas. É onde Egoyan acerta mais. Com uma montagem inteligente, ele acompanha as investigações da polícia. A princípio revela a descoberta dos três adolescentes. Depois o testemunho de uma criança que diz ter escapado do evento e a confissão de um deles. Assim como os investigadores, o espectador fica convencido da culpa dos três. Surge Ron Lax (Firth), investigador privado de fraudes de seguro. Quando fica sabendo que o interesse do estado é a pena de morte para os três adolescentes, ele se voluntaria para ajudar a defesa. Sob o ponto de vista dele, revendo as evidências e os testemunhos, pequenos detalhes que foram escondidos por Egoyan nas investigações iniciais começam a ser revelados. Não é preciso mostrar tudo, com cinco minutos do envolvimento de Lax já fica claro que os adolescentes não são os assassinos e que o estado terrivelmente conservador do Arkansas queria usar os assassinatos para se livrar daqueles meninos tão diferentes.

1Colin Firth. Investigação e revelações perturbadoras.

O envolvimento com o caso é fácil de ser criado. Basta mostrar a injustiça do evento e o espectador estará fisgado. A escolha de Egoyan e da montagem em mostrar as faltas de evidências conclusivas e a forja de outras circunstanciais trabalha bem em cima disso. Porém, tirando essas escolhas inteligentes, o filme não tem o mérito pelo sentimento evocado, os fatos sim. E como nem Egoyan nem os roteiristas se dão ao trabalho de focar em algum núcleo dramático, a condução em si não é muito boa. Eles não parecem saber qual história estão contando, se é o drama da mãe, se é o suspense do investigador ou o drama dos adolescentes.
Colin Firth se contém muito bem como um investigador sem autoridade, revelando a raiva com o olhar de alguém que não pode fazer justiça com as próprias mãos. A Reese Witherspoon quer fazer uma interpretação poderosa, mas o estilo contido da produção a segura e ela fica perdida entre cair no melodrama ou seguir a linha do resto do filme. Outros nomes famosos agraciam a produção, como o Alessandro Nivola (excelente), o Kevin Durand, Stephen Moyer, Martin Henderson, Bruce Greenwood, Elias Koteas e o Dane Dehaan.
A história dos eventos é motivo suficiente para o espectador assistir. O caso é assustador e merece ser descoberto pelas pessoas. Egoyan acerta com sua excelente montagem, mas a condução da história tem alguns problemas.
 
ALLONS-YYYYYY

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