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Sem Escalas

Desde que estourou com Busca Implacável, Liam Neeson vem assumindo o cargo de herói de ação, mesmo depois de o ator ter passado de seus 50 anos. Seus personagens brucutus sempre usam o keysi como técnica de luta e lidam com algum suspense alucinante que evoca um clima de Sessão da Tarde. Mas eis onde entra a grande vantagem dessas produções com o ator. Elas são sempre muito bem acabadas.

O personagem da vez é Bill Marks, um agente federal aéreo. Sua função é viajar em vôos comerciais e garantir a segurança dos passageiros contra ameaças de qualquer tipo. Durante um vôo internacional, enquanto o avião se encontra sobre o Atlântico, ele começa a receber ameaças de alguém prometendo matar um passageiro a cada vinte minutos a menos que receba 150 milhões de dólares.

É um suspense bem rápido. Bill começa a tentar lidar com a situação à medida em que ela escala. A princípio não acredita que a ameaça seja verdadeira, mas vem a primeira morte e todas as pistas começam a indicar que o próprio personagem é o vilão. A intenção é ser um suspense puramente divertido e tenso.

Sem Escalas é a segunda parceria de Neeson com o diretor Jaume Collet-Serra e segue uma estrutura muito parecida com o filme anterior dos dois, Desconhecido. Collet-Serra faz um ótimo trabalho em construir suspense e tensão. O ritmo é bom e é fácil se identificar com o protagonista.

No momento mais exagerado. Supostamente a grande cena de ação do filme.

Principalmente com um primeiro ato tão bem feito. A produção começa com Bill se preparando para o voo. No rádio, escuta de um superior que tem um dos melhores empregos possíveis. Não é todo mundo que ganha para viajar por todo o mundo em assentos da primeira classe. O problema é que Bill tem medo de voar e a cada passeio de avião se pega em frangalhos.

Collet-Serra não coloca falas ou diálogos sem sentido para explicar cada pequeno detalhe. É tudo através do visual. Mostra detalhes de cada passageiro importante do vôo através da visão de Bill. Como parte de seu trabalho, ele analisa com cuidado cada pessoa antes e durante a viagem. Para representar essa atenção aos detalhes do personagem, Collet-Serra diminui a profundidade de campo da lente deixando em foco sempre as características que Bill está observando.

Ao mesmo tempo, pequenas pistas sobre o passado sofrido de Bill são reveladas. É um amuleto que remete à sua filha aqui, pistas de que ele é alcoólatra (e que demonstram sua relação com a aeromoça) ali e interações completamente naturais com outros passageiros antes do embarque.

Funciona muito bem e conta a história. Os problemas do filme surgem próximo do terceiro ato, quando Bill começa a resolver os problemas com discursos que caem no pieguismo e o suspense equilibrado abre espaço para longas sequências de ação que chegam ao clímax cheio de pequenos conflitos resolvidos com ações convenientemente heroicas do personagem. Fica tão absurdo que estraga a ambientação.

Julianne Moore. Com ela, o filme contabiliza cinco ruivas.

Ainda assim, o filme tem muitas coisas interessantes. Todas as interações e os conflitos servem para uma espécie de redenção do personagem. Seja a menina que está viajando sozinha, seja pela constante tentação de tomar alguma bebida para relaxar.

A trama é toda cercada ao redor da paranoia estadunidense desde os atentados do 11 de setembro. Há um médico muçulmano, um casal estrangeiro que zomba dos americanos, pequenos comentários sobre os exageros nas seguranças do sistema aéreo.

Liam Neeson está bem sem muito esforço. A Julianne Moore também sustenta bem a produção, mas o estilo de filme destoa do resto da carreira da atriz. Além dos dois, se destacam as duas aeromoças principais. Uma vivida pela Lupita Nyong’o (concorrendo ao Oscar pela participação em 12 Anos de Escravidão) e a outra pela Michelle Dockery (uma desconhecida que é linda de morrer).

Sem Escalas é um filme muito divertido e serve bem ao que pretende ser, um suspense rápido no melhor estilo Sessão da Tarde. Desenvolve bem os personagens criando empatia, é bem dirigido, bem atuado e possui um ótimo acabamento técnico. Apesar dos últimos dez minutos serem muito implausíveis, sustenta-se muitíssimo bem.

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