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Se a Rua Beale Pudesse Falar (If Beale Street Could Talk – 2018)

Depois do sucesso surpresa de Moonlight, o diretor e roteirista Barry Jenkins certamente recebeu mais poder financeiro para o próximo trabalho. O que também significa mais observação sobre a repercussão e o retorno deste Se a Rua Beale Pudesse Falar.

Não é à toa que ele resolveu adaptar a forte e honesta história de amor de Tish (Kiki Layne) e Fonny (Stephan James), um casal negro no Harlem do início dos anos 1970. Após a prisão por um crime que ele não cometeu aos 22 anos, ela descobre que está grávida aos 19, e terá que fazer de tudo para comprovar a inocência dele.

A última frase é de suma relevância para a trama. Tudo é o que ela pretende, mas não é tudo o que ela pode. Isso porque a Nova Iorque de 1970 tinha um destino certo para os negros, a opressão. O que faz da ida de Fonny para o encarceramento quase natural. As famílias de ambos, assim como os dois, quase não se surpreendem com o fato.

Tish com a família. Apoio incondicional.

Mas é onde se encontra a verdadeira intenção de Jenkins. Quando se fala de preconceito estrutural, muitas pessoas não compreendem porque ele é feito em pequenas atitudes e negações. Mas aqui, o diretor mostra todos os níveis em que ele ocorre na época em que os negros saíam da condição de pobres afastados para conseguir renda e moradia mais próxima do centro.

Porém, Jenkins prefere focar na beleza das relações entre eles sem deixar de ser honesto. Tish, Fonny, pais, mães e irmãs são claros no estilo do Harlem de 1970. Falam com gírias, diminuem verbos e sabem ofender como poucos. As discussões dos progenitores dele são tensas e hilárias ao mesmo tempo.

Jenkins marca o filme com imagens longas, lentas e belas dessas pessoas. Especialmente do casal principal. Há um misto de adoração e cuidado nas atitudes e nos olhares dos dois. O que apenas faz com que as crueldades que caem sobre eles doa mais no espectador.

Regina King como a mãe de Tish. Performance maravilhosa.

Além disso, o diretor usa de saturação de cores nos cenários e nas vestimentas para dar mais vida e calor àquelas relações. O que funciona muito bem. Por outro lado, ele escolhe deixar o ritmo dominar até o fim da produção. Mesmo quando o clímax se aproxima e Tish e Fonny descobrem o que será das vidas deles. Jenkins continua com cenas de transição lentas e longas. O que cria cansaço no fim do filme que distrai do poderoso final.

É preciso destacar a excelente trilha sonora que usa de blues e jazz para dar o tom de melancolia da narrativa de Jenkins. E, acima de tudo, ao ótimo trabalho do elenco principal. É possível ver como os personagens se agarram aos momentos de alegria quase como uma forma de aguentar as tristezas interiores.

A veterana Regina King, por exemplo, tem uma cena belíssima em que a personagem se arruma para um encontro importante para o futuro dos filhos. Ela pausa um momento para se permitir colocar os sentimentos para fora antes de seguir adiante com firmeza.

Infelizmente, deve passar apagado na temporada de premiações devido ao baixo número de indicações no Oscar. Mesmo que não seja o melhor filme do período deste ano, ainda é um bom drama com uma função honesta e necessária.

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