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Rir e chorar

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Existe um comentário comum quando pessoas fazem críticas positivas de alguns filmes umas para as outras. A frase “O filme faz rir e faz chorar” é muito adequada de diversas formas a muitos filmes. O que nem sempre significa que o filme é bom de verdade, sequer indica que tem bons momentos.

Se a capacidade de um filme de fazer rir ou chorar não é suficiente para indicar suas qualidades, nunca se pode criticar quem expressa essas emoções. Conheço pessoas que sentem vergonha de fazer qualquer um dos dois em uma sala de cinema. Até compreendo, mas acho que é uma tolice. Se impedir de expressar é se impedir de sentir. E, na minha opinião, a capacidade da arte de fazer sentir é justamente uma das coisas mais belas da criação.
Uma das poucas coisas que gosto no filme O Libertino é a resposta que o personagem do Johnny Depp dá quando perguntam porque o teatro é tão importante para ele. “Porque o teatro me permite sentir coisas que não sinto na vida real”. O caso de O Libertino é extremo. O personagem beira a psicopatia. Mas, na realidade, uma construção dramática de eventos fictícios permite aos usuários sentir coisas de experiências pelas quais talvez nunca passem em suas vidas.
Obviamente, a experiência ao assistir um filme é significativamente irrelevante diante da experiência real. A ideia é apenas permitir um gosto. Algo que pode até levantar a vontade de experimentar melhor a vida. Ou no caso do personagem de O Libertino, se focar apenas na arte e deixar os sentimentos para os outros.
Por conta desse pequeno gostinho que a arte nos permite sentir da realidade é que filmes, livros e outras obras se tornam tão importantes emocionalmente para as pessoas. Impedir a si mesmo de rir ou chorar é até, em certo nível, atrapalhar a possibilidade da arte agir como deveria.
Também ocorrem os momentos em que os filmes fazem chorar ou rir além das construções típicas. Como em filmes ruins, que viram comédias involuntárias e fazem rir às vezes quando querem fazer chorar. Já escrevi um pouco sobre o assunto na crítica de Possessão. Mas o caso sobre o qual eu realmente gostaria de falar é um oposto. Quando um filme faz chorar não porque a cena constrói para uma tristeza específica, mas porque ela nos leva a lugares que nos tocam profundamente.
Passei por isso quando fui assistir a Como Treinar o seu Dragão 2. Sou um grande fã do primeiro filme. Quanto mais eu o analiso e revejo, mais amo aquele negócio. Chegando ao extremo de ter passado uma tarde assistindo ao filme três vezes seguidas. Uma das coisas que mais amo no filme é a cena chamada Test Drive, na qual Soluço e Banguela aprendem a voar juntos. Tudo naquela cena é perfeito. A trilha, a forma como representa a amizade dos personagens e a força da união dos dois, os enquadramentos, até o 3D funciona melhor. A sensação da liberdade de voar quase pode ser sentida pelo espectador.
Essa cena nunca me cansa. Então, assistindo à continuação, o filme mostra como a amizade de Banguela e Soluço evoluiu revelando como eles evoluíram suas habilidades de voo em conjunto. A excelente música do primeiro filme voltou renovada e eles estavam em um outro momento perfeitinho, tal qual no primeiro filme. Então percebi que estava vendo uma cena de voo nova com aquele mesmo sentimento e me peguei chorando de emoção por estar tendo uma nova sensação da liberdade de voar com Soluço e Banguela.
Eu poderia sentir vergonha disso, mas acho que é apenas parte da beleza do cinema. Principalmente porque eu estava rindo e chorando ao mesmo tempo. Então, neste caso em específico, acho que uma crítica justa a Como Treinar o seu Dragão é que ele faz rir e faz chorar. E este é um caso bem específico no qual a crítica é justa à narrativa, e não apenas a momentos isolados.
 
GERÔNIMOOOOOOO…

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