Postado em: Reviews

Um retrato absurdo (ou não) do mundo contemporâneo (Porta dos Fundos: Contrato Vitalício – 2016)

todo o elenco com cara de piada

Rodrigo é o protagonista de um filme que Miguel dirige. Juntos, ganham um prêmio em Cannes pelo trabalho. Em um momento de empolgação, regado a álcool e outras substâncias, o ator redige, em um guardanapo, um contrato vitalício, que consta a presença obrigatória dele em qualquer filme que o diretor fizer, com a ameaça de processo caso o documento não seja respeitado. No entanto, quando chegam no hotel, depois da festa de ganhadores do festival, Rodrigo dorme. Ao acordar, percebe que Miguel desapareceu. Até 10 anos depois, quando ele reaparece com a ideia de um filme nada convencional.

Contrato Vitalício é um filme do coletivo de humor Porta dos Fundos, dirigido por Ian SBF. O roteiro foi escrito por Gabriel Esteves e Fábio Porchat, que também atua no longa-metragem, como o ator Rodrigo. Gregório Duvivier interpreta o reaparecido Miguel; Thati Lopes faz Fernanda, a namorada de Rodrigo. Também estão presentes Luis Lobianco (Ulisses), Antonio Tabet (Otacílio), João Vicente de Castro (Luciano), Júlia Rabello (Denise), Marcos Veras (Lorenzo), Rafael Portugal (Paulo) e Gabriel Totoro (Totoro). Xuxa Meneghel e Marília Gabriela fazem participações como elas mesmas.

Por ser o primeiro filme do Porta dos Fundos, pode haver certo temor relativo ao uso de um novo formato, visto que o grupo trabalha principalmente com esquetes. No entanto, Contrato Vitalício consegue manter uma estrutura coesa. O que não anula o fato de que o longa-metragem pode ser cansativo, a depender do espectador. O humor às vezes convence, mas em outras parece forçado.

porchat ferido
Porchat em cena. Promessas do passado que retornam.

A produção, como é usual do Porta dos Fundos, é uma crítica ao mundo do entretenimento. Esse é um aspecto interessante do coletivo: satirizarem um meio em que eles próprios estão inseridos. Talvez uns dos principais exemplos dessa sátira são os personagens Fernanda e Ulisses. Ela é uma blogueira fitness, daquelas que publicam praticamente tudo que acontece na própria vida, até a cicatrização das cirurgias plásticas que fez. Ele é o agente de Rodrigo, que não consegue abandonar as redes sociais e viver em uma realidade não virtual. Quando a bateria do celular dele acaba, Ulisses entra à beira de um ataque de nervos.

Diversas referências ao mundo artístico são feitas no filme, principalmente por Ulisses, que cita vários artistas brasileiros (ele é até babá por um dia dos filhos de Angélica e Luciano Huck) e critica alguns de forma humorística, como um comentário sobre o nariz da cantora Anitta. Há também uma satirização do sensacionalismo jornalístico, com o personagem Lorenzo, inicialmente repórter da revista Tititi e depois assessor de imprensa, contratado para trabalhar durante a produção do novo filme de Miguel. Em uma cena na qual o jornalista entrevista Rodrigo, em Cannes, ele cria reações que o entrevistado nem sentia de verdade.

Totoro e Porchat se beijam
Totoro e Porchat se beijam. Ator em apuros.

O novo filme de Miguel, que ele diz tratar sobre o que aconteceu nos dez anos em que esteve desaparecido, pode destruir a carreira de Rodrigo, agora um ator consagrado. O enredo gira em torno da abdução do diretor por alienígenas no centro da Terra e a luta por sobrevivência, principalmente contra o vilão Takahashi. Este é interpretado por Paulo, que conta com a ajuda da bizarra preparadora de elenco Denise, que faz com que o intérprete realmente não se sinta mais como um humano. A história é completamente viajante, mas só Rodrigo parece ser são o suficiente para achar isso.

O personagem louco de Gregório Duvivier tem a capacidade de realmente irritar o espectador. Contudo, mesmo assim, Miguel e Rodrigo talvez sejam as pessoas menos alienadas presentes no longa-metragem. Contrato Vitalício mostra a superficialidade presente na cena contemporânea. E, apesar de muitas vezes forçar humor e ser cansativo, o filme retrata bem o mundo superficial, fútil e dependente de tecnologias pós-moderno (por mais absurdo e irritante que ele pareça).

1 comentário em “Um retrato absurdo (ou não) do mundo contemporâneo (Porta dos Fundos: Contrato Vitalício – 2016)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.