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Porco Rosso

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Porco Rosso é, talvez, o filme mais descompromissado de Hayao Miyazaki. O posto fica ao lado de O Serviço de Entregas de Kiki, mas com um resultado final muito superior. Não apenas pelo clima de diversão, mas pelo ritmo e envolvimento que a obra cria. Talvez Porco Rosso seja, por conta de tudo isso, o filme mais acessível do diretor.

Em uma região fictícia do mar Adriático antes da Segunda Guerra Mundial, os piratas usam aviões no lugar de embarcações marítimas para realizar pilhagens. Porco Rosso é um caçador de aluguel que sofreu um feitiço após a Primeira Guerra e agora tem o rosto de um porco no lugar das feições humanas. Os piratas, constantemente impedidos por Rosso, contratam o serviço de um grande piloto americano para desafiar o caçador em um duelo aéreo, mas o avião do herói está defeituoso e precisa de reparos. Para o conserto, Rosso é forçado a viajar junto com a bela mecânica menor de idade, Fio.

Porco Rosso é, como todos os protagonistas dos filmes de Miyazaki, uma representação das crenças do diretor. Como é possível ver em diversos textos acerca do filme, é uma representação de um romantismo que não volta mais. O personagem age como um exemplo de cavalheirismo e a forma como o diretor o retrata pode ser facilmente comparada com o ideal masculino do Sergio Leone.

resize-PorcoRosso2Porco Rosso. Ideais românticos.

Adaptação de um mangá, o filme segue o estilo de criação do diretor até o limite. Inspirado nos designs originais e na trama, Miyazaki criou a história a medida em que desenhava a animação. Quando o filme estava próximo da duração de uma hora e meia, colocou um clímax que dialoga com seus ideais e termina o filme. Assim, sem resolver todos os conflitos. Inclusive, o final da história é apresentado em ilustrações entre os créditos finais. Este desapego com a estrutura narrativa tradicional gera problemas de ritmo em todos os filmes de Miyazaki (com exceção de A Viagem de Chihiro). Aqui este problema é contornado com um humor que surge da delicadeza entre as relações deste homem honrado até o último instante e as pessoas adoráveis ao seu redor.

A abertura do filme já deixa isso claro. Um grupo de piratas sequestra uma classe de meninas muito novas, quase bebês, para cobrar resgate. Rosso é contratado para ir atrás dos bandidos. Entre a ação e violência da perseguição, as meninas ditam o humor ao aloprar e eventualmente conquistar os bandidos e depois repetir a façanha quando o herói as leva de volta. É hilário em grande parte pela fofura do desenho das crianças misturado com a situação inusitada, que faz parecer com que aqueles montes de homens rivais são, na verdade, colegas que se admiram mutuamente.

Esse clima de descontração se repete quando Rosso descobre que não poderá continuar na oficina de seu mecânico de longa data para o conserto do avião e precisará levar a filha do amigo consigo por algum tempo para que ela termine os reparos. Surge entre os dois uma atração óbvia. A menina de 17 não consegue evitar a admiração pelo grande ideal de comportamento masculino e ele lida com a beleza dela que conquista a atenção de todos os homens que acabam por encontrar. Miyazaki não tem dó nem tenta ser sutil com isso. A atração é real e gera piadas o tempo inteiro, mas ela serve principalmente para aumentar a idolatria ao comportamento do personagem. A interação entre os dois é sutil, delicada e adorável.

1331045261_2788Fio com os piratas. Mesmo os cretinos são adoráveis.

É nesse clima, em que tudo é adorável, que o filme segue até o final. Os desenhos e designs dos aviões e do mundo são extraordinários e parecem relativamente fofos com o estilo redondo das formas. A maneira como anima o mundo que passa rapidamente pelo avião impressiona. Para realizar algo do tipo é preciso muito trabalho e esforço, e no filme é feito sem perder a beleza do traçado de Miyazaki. É um domínio técnico admirável.

Bonito, divertido e envolvente. É possível rir do começo ao final, ficar impressionado com a inacreditável beleza das imagens e simplesmente adorar aquele mundo em que, mesmo que algumas pessoas sejam detestáveis, todos são adoráveis e conquistam o carinho do espectador. Caso você nunca tenha visto algo do diretor, comece por Porco Rosso.

 

GERÔNIMOOOOOOO…

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