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Perdido em Marte (The Martian – 2015)

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Em entrevista, Russell Crowe admitiu que gosta de trabalhar com o diretor Ridley Scott porque ele é eficiente. A reflexão de Crowe vai contra a parte mais positiva da carreira do realizador. Scott é o diretor do clássico de ficção e terror, Alien. Um filme que ia além do gênero para tratar de temas mais complexos escondidos nas entrelinhas. Hoje ele parece mais interessado em entregar os filmes o mais rápido possível.

Seis integrantes de uma missão tripulada enviada para Marte são forçados a abortar a viagem em meio a uma tempestade. Enquanto fogem, Mark Watney (Matt Damon) é atingido por um destroço e dado como morto. Mas ele sobrevive e precisa usar todos os conhecimentos de química, física e biologia que possui para se manter até que alguma ajuda possa ser enviada.

Enquanto o filme ganhou comparações gratuitas com Gravidade e Interestelar (que são muito diferentes um do outro), a ideia que vem mais forte à mente é Náufrago. Perdido em Marte é, na verdade, um drama misturado com suspense sobre um homem que luta contra adversidades grandiosas. É mais que a ciência ou o espaço. Mark quer viver, e parece que o planeta onde se encontra discorda fortemente.

O roteirista Drew Goddard adapta o livro de Andy Weir com fidelidade. De acordo com quem leu a obra original, é quase idêntico. Daí surge um problema muito sério. No livro existe todo um trecho de diversos capítulos no qual a trama deixa de focar em Mark e passa para a Terra onde os cientistas da NASA tentam descobrir meios de salvá-lo. Esses capítulos são traduzidos em uns vinte minutos nos quais o protagonista e os conflitos somem de cena.

1E2FE3ADA tripulação antes do acidente. Grande elenco sobra sem ter o que fazer.

Isso acontece justamente quando o filme alcança o final do segundo ato. O resultado é uma explicação longa e desnecessária sobre os conceitos científicos que conduzirão ao clímax. Depois de tanto tempo sem muitas emoções, o que deveria ser o ápice não empolga mais. Todo o ritmo ficou pausado uns quarenta minutos antes.

O ritmo de produção recente de Ridley Scott não dialoga bem com esse problema na estrutura do roteiro. Rápido e eficiente, o diretor realizou e entregou este filme em menos de um ano do lançamento do trabalho anterior, Êxodo (que estreou por aqui em dezembro do ano passado). Parece que Scott não se preocupa mais em criar significados com os enquadramentos que planeja. Ele apenas faz uma ambientação o mais rápido possível e segue adiante. Funciona muitíssimo bem para o drama e suspense de Mark no planeta vermelho. Trava de vez quando a superexposição começa antes do terceiro ato.

Os efeitos especiais são primorosos. Nada parece falso ou irreal. O 3D é muito bom tecnicamente, mas é inexpressivo. Não conta a história e não faz com que a profundidade seja sentida de maneira mais potente. Scott pegou o jeito de dirigir com efeitos e computação gráfica e a equipe técnica não decepciona.

Captura de Tela 2015-09-27 às 16.30.00Plantação de emergência. Ciência para sobreviver.

Matt Damon carrega o filme nas costas. Por isso mesmo o ritmo perde fôlego quando ele fica vinte minutos sem aparecer na tela. Infelizmente o personagem dele não tem nenhuma construção ou personalidade. Ele apenas é resiliente. O elenco de apoio conta com Jessica Chastain, Kate Mara, Jeff Daniels, Chiwetel Ejiofor, Sean Bean, Kristen Wiig, Michael Peña, Mackenzie Davies e Donald Glover. Todos desperdiçados em papéis fracos. Não possuem espaço para construir os personagens e não fazem muito em cena.

Perdido em Marte é muito bom como representação científica, suspense e drama de situação extrema. O problema é quando o ritmo diminui quando deveria acelerar. Nas mãos do Robert Zemeckis (diretor de Náufrago) haveria uma construção mais detalhada e preocupada com a linguagem que apenas filmar as cenas com eficiência.

Vídeo crítica com minha participação no site Portal Crítico. [youtube=https://www.youtube.com/watch?v=218jmWjOiW8]

GERÔNIMOOOOOOOO…

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