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Pai em Dose Dupla (Daddy’s Home – 2015)

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O Mark Wahlberg é um bom ator e já provou que consegue fazer comédia. Infelizmente, o ex-rapper parece ter um mau gosto assustador. Depois de afirmar sinceramente que acha Transformers 4 um grande filme e que o Michael Bay é um grande diretor de comédia, resolveu retomar a parceria em cena com o excelente comediante Will Ferrell. A premissa de Pai em Dose Dupla, porém, cheira a algo repetitivo e sem graça.

Brad Whitaker (Will Ferrell) sempre sonhou ser pai, mas não é capaz fisicamente. Felizmente, ele conhece e se casa com Sara (Linda Cardellini), que tem dois filhos de um casamento anterior. Depois de alguns meses juntos, eles recebem a ligação e a visita de Dusty Mayron (Mark Wahlberg), o ex-marido de Sara e pai das crianças. O que deveria ser uma estadia de uma semana rapidamente se revela uma tentativa de Dusty de recuperar a família.

Pai em Dose Dupla é uma comédia sobre duas pessoas em uma situação supostamente rotineira na qual geralmente surgem conflitos para determinar quem vai ficar mais próximo de um alguém querido. Todo o humor surge do contraste de personalidades que se metem em situações engraçadas para se provarem mais dignas do relacionamento que ambicionam.

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Dusty se mete entre Brad e Sara.

O problema de comédias com esta ambição é que os confrontos dos personagens escalam desnecessariamente para o exagerado e ambos, na obsessão, perdem a simpatia do espectador. Para a tristeza de quem for assistir a Pai em Dose Dupla, esses são justamente os primeiros passos pelos quais a trama e o humor do filme permeiam. Na primeira tentativa de se apresentar diante de Dusty, Brad finge que sabe dirigir motos e quando vai mexer na do concorrente, atravessa a casa, fica preso em uma parede e arrebenta o próprio carro. Com o apoio de um efeito digital mal realizado. Já é uma extrapolação da realidade que o filme apresentou até então. Remove o espectador do universo do filme e não faz rir.

A partir daí, tudo é forçado. Dusty consegue fazer com que um desconhecido (inclusive dele) venha morar na casa. Adota sem pedir permissão a ninguém um cachorro irritado e cego. E não fica apenas nas situações, mas nos personagens também. Will Ferrell é um grande ator de personagens inocentes. Tanto para comédia quanto para dramas. Brad é um homem que leva todas as ações de Dusty na esportiva, mesmo depois de ser chamado de racista, padrasto malvado e tudo o mais. Essa inocência exagerada apenas o leva a repetir os mesmos erros até que o personagem deixe de ser simpático. Enquanto isso, Dusty é um estereótipo bizarro de cool guy. Como ele é um babaca que já abandonou a família antes e aparentemente tudo o que faz parece um tipo de maldade para Brad, não tem como gostar dele. Ainda assim, todos os outros personagens o adoram porque, como eles dizem, ele é bonitão, forte e não é um perdedor, como Brad.

Mas o pior personagem é de longe Sara, a mulher por quem os dois brigam tanto. Eventualmente fica tão óbvio que os dois brigam por ela que a inatividade dela é quase como um estímulo para os conflitos idiotas diante das crianças. O único personagem que se salva é Griff, o homem que passa a morar na casa. Isso porque o comediante Hannibal Buress aparece pontualmente para fazer comentários cômicos sobre os absurdos que acontecem. Ele quase dá voz para o pensamento do espectador e a inexpressividade do ator enquanto o faz apenas o torna mais engraçado.

GriffHannibal Buress, a única coisa boa do filme.

Como grande parte das comédias, Pai em Dose Dupla abre mão de qualquer elaboração técnica em nome do humor. A fotografia apenas deixa as coisas visíveis, a direção de arte deixa Dusty com o padrão calça jeans e roupas escuras enquanto Brad usa tudo colorido e levemente infantilizado. A montagem sequer tenta fazer com que os cortes indiquem continuidade de movimento e também, por conta disso, frequentemente remove o espectador do universo do filme.

Pai em Dose Dupla é apenas mais um erro dos dois atores principais. O que é triste quando se considera que ambos já fizeram bons filmes e são talentosos. Quando se considera que Wahlberg aparentemente tem muito mal gosto, não é tão surpreendente, mas Ferrell merece mais bons papéis como no extraordinário Mais Estranho que a Ficção.

 

ALLONS-YYYYYYYYYY…

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