Postado em: Reviews

Orgulho e Preconceito e Zumbis (Pride and Prejudice and Zombies – 2016)

 

lizzie e darcy.jpg

Só de ouvir falar no trambique do autor de livros Seth Grahame-Smith ocorre um desgaste mental. Sem ideia de como misturar textos com zumbis, procurou uma obra que era domínio público para brincar. O resultado foi sucesso instantâneo. Seguindo a linha, ele cometeu Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros e virou roteirista no horroroso Sombras da Noite. Agora o primeiro livro de Grahame-Smith ganha o cinema.

Depois de uma epidemia de mortos-vivos, a Inglaterra aprendeu a viver com a invasão zumbi. Dois amigos ricos se mudam para a cidade de Hertfordshire. Com a novidade, a família Bennet movimenta as cinco filhas para conhecê-los. Elizabeth (Lily James) se interessa imediatamente pelo coronel Darcy (Sam Riley), mas tanto o orgulho e o preconceito dos dois impedirão que a relação desenvolva.

Não é preciso ir muito longe para saber qual é a desse filme. Basta ler o título. Reimaginação da obra clássica de Jane Austen com os famosos monstros da cultura de terror. O filme cria humor com a mistura do linguajar rebuscado com a violência usual de obras dos mortos-vivos.

Power Rangers
As garotas Bennet. Prontas pra ação.

A brincadeira, por incrível que pareça, funciona muito bem. Principalmente porque a trama costura os dois elementos tão diferentes entre si com muita elegância. É, inclusive, mais divertido para quem já conhece a história original de Austen. Porque o filme segue as reviravoltas do amor entre Elizabeth e Darcy com fidelidade, mas com a invasão de zumbis ao fundo. Quando os dois se conhecem no baile do começo, ele percebe os encantos dela enquanto ela mata um grupo dos monstrengos. A fala dele é quase a mesma do livro de Austen, com algumas características acerca das habilidades de luta a mais.

Existe um contraste óbvio que gera graça. E tudo na produção trabalha a este favor. Desde o design de produção que reproduz nos mínimos detalhes e com muita riqueza os estilos de época até os atores que mantêm a seriedade dos sentimentos durante a ação. Na cena em que Darcy se declara pela primeira vez para Elizabeth, a raiva contida dos dois vira uma briga de estilos. Enquanto o diálogo clássico se mantém e ela explicita como ele foi inconveniente na vida dela, os dois destroem o cômodo entre golpes e estancadas. O mesmo estilo se repete para retratar as relações das irmãs Bennet. As cinco são treinadas em artes marciais e treinam juntas. As formas como interagem nas batalhas representam as relações. Elizabeth e Jane (Bella Heathcote) se compreendem, se respeitam e se equiparam. As irmãs mais “amorais” usam de truques para acertar as mais velhas escondidas. Isso entre um longo diálogo no qual elas discutem festividades e como se relacionar com os homens.

Sam Riley como Darcy
Darcy de estatura e porte estranhos.

Outra boa sacada do roteiro do também diretor Burr Steers é transformar as educações em artes marciais em contextos a mais dos preconceitos de classe discutidos na obra de Austen. Os pobres treinam kung-fu, os ricos esgrima japonesa. Esse é o nível de detalhamento com o qual a parte de zumbi do filme é feita. Existe toda uma história sobre o avanço no mapa das criaturas. Porém, quando o filme se aprofunda demais nessa parte, ele destoa. Entre tanto humor bom e ótimos momentos que nascem apenas porque o texto da Jane Austen é tão bom, a seriedade de horror parece apenas fora de lugar. Também é um problema quando tanto detalhamento é feito em textos desnecessariamente expositivos e que não se equiparam à qualidade dos diálogos de Austen.

Piora ainda mais com a direção de ação, estilo que toma conta da segunda metade da produção. É possível ver que existe uma coreografia bem feita e realizada pessoalmente pelos atores, mas Steers filma com enquadramentos muito próximos que permitem apenas ver as reações individuais e não os golpes e movimentos. O trabalho físico simplesmente não é capturado.

Pastor Collins
Matt Smith rouba a cena.

Lily James é uma boa atriz e faz Elizabeth bem. Digna até de uma versão do Orgulho e Preconceito original. O mesmo valeria para o Darcy de Sam Riley se ele tivesse a postura correta. Os dois, porém, não fazem um grande trabalho, apenas estão corretos. No elenco inteiro, o único destaque é Matt Smith como o pastor Collins. Se o personagem já é ridículo no livro de Austen, aqui ele vira abertamente um alívio cômico. E Smith o faz com os trejeitos comuns dele. É hilário. O talento de Smith se torna ainda mais evidente quando a Lena Headey tenta fazer uma interpretação parecida como a Lady Catherine de Bourgh e apenas parece falsa. Diante dele, então, ela passa vergonha.

Orgulho e Preconceito e Zumbis surpreende por não se perder em uma zombaria exagerada e desleixada. Muito pelo contrário, a seriedade com que trabalha a parte técnica e as boas soluções do roteiro apenas fazem com que a piada seja mais engraçado. O ridículo é exacerbado e a história continua bem escrita. Existe uma barriga no terceiro ato, mas ela passa rápido e a piada não perde a graça.

 

ALLONS-YYYYYYYYYYY…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.