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Obsessão (Greta – 2018)

Na história recente do cinema americano, várias injustiças acometem diretores importantíssimos para a arte naquele país. Entre realizadores de clássicos, Neil Jordan se destaca com uma carreira diversificada com filmes de drama e suspense. Por isso, a nova produção dele, Obsessão, não surpreende pelo gênero.

Quando ele conta a história de Frances McCullen (Chloë Grace Moretz), uma jovem adulta que tenta a vida em Nova Iorque, Jordan não se acanha em abraçar abertamente os perigos que ela encontra ao devolver uma bolsa perdida para Greta (Isabelle Huppert). Ela é uma francesa mais velha que vive sozinha na cidade. Aos poucos, a mulher revela intenções mais sinistras que vão perturbar a garota.

Simples assim, Jordan e o parceiro de roteiro Ray Wright criam um suspense rápido de perseguição de uma pessoa perigosa atrás de outra inocente com um ritmo que acelera aos poucos à medida em que a tensão aumenta.

Frances e Greta se conhecem. Amizade que se torna algo sinistro.

Simplicidade é a palavra mais importante aqui. Os realizadores não procuram criar complexidades narrativas ou tramas paralelas. Se algo aparece na história, terá importância para as interações entre as duas. Com isso, pequenas representações se tornam mais naturais, como o fato de que os homens não têm ação nos eventos. Ou quando têm, são ineficientes. É um filme sobre as mulheres e entre elas.

Com essa mesma simplicidade, Jordan revela a segurança de um diretor experiente no gênero. Os enquadramentos dele fazem movimentos sutis para acompanhar as ações das cenas. Em certo ponto, Frances prepara um chá no micro-ondas. A transição de plano aberto para um close na máquina indica onde os próximos eventos ocorrerão.

Por um lado, tem um problema de criar expectativa e até anunciar antes da hora o que vai acontecer. O que não é bom para um suspense. Por outro, Jordan segue o estilo do grande mestre Hitchcock, ao fazer com que o espectador saiba do perigo vindouro. Assim, fica o medo de como o personagem sairá da situação. No entanto, nem sempre Jordan consegue esconder os desfechos da cena.

Movimentos de câmera contam a história e constroem suspense.

Se Jordan acerta na direção, erra no texto. Às vezes Frances salta entre sentimentos e tensões. Se o medo dela escala aos poucos, ela subitamente fica calma e aceita situações absurdas a favor de que a trama siga em frente. Os saltos de lógica eventuais podem remover o espectador do filme.

Porém, as adversidades são contornadas também pelo extraordinário elenco. Moretz sempre se revelou um talento bruto em interpretação, mas assume aqui uma postura vulnerável como poucas vezes conseguiu convencer na carreira. Acompanhada pela inteligente Huppert, que transita facilmente da calma e simpatia de Greta para a violência e a perturbação, a dupla conseguiria sustentar um filme inteiro apenas de diálogos.

Ainda são acompanhados de coadjuvantes de luxo, como a eclética Maika Monroe, e o parceiro antigo de Jordan, Stephen Rea. Jordan sabe dar destaque para os trunfos do filme, como a ambientação eficiente para o suspense e o ótimo elenco. Infelizmente, os defeitos de roteiro incomodam apesar dos esforços técnicos do diretor.

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