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O Protetor

Você já tentou escrever uma história? Tipo um livro ou um conto. Você tem aquela ideia maneira, fica super empolgado, começa a escrever aqueles diálogos super interessantes, apresenta os personagens, o conflito. Tudo lindo e bem feito. Mas então chega a parte do desenvolvimento da trama.

Você se desgasta arrumando reviravoltas e situações inusitadas até que chega, finalmente, no clímax. Mas, neste ponto, você está tão desgastado de escrever essa porcaria de história, que acaba fazendo o final de qualquer jeito.

O Protetor deixa a impressão de que o roteirista e o diretor passaram exatamente por este processo.

Robert McCall (Washington) é um homem que leva uma vida simples e regrada com um trabalho pequeno nos bastidores de uma loja de departamentos. Tem uma amiga de ocasião chamada Teri (Moretz). Ela é uma prostituta menor de idade cujo ponto fica diante da lanchonete em que Robert toma chá todas as noites. Quando descobre que ela foi espancada por seus cafetões, ele resolve tomar algumas providências.

O Protetor é uma adaptação de uma série da década de 1980. O show era uma cópia óbvia da franquia Desejo de Matar. Nele, um ex-agente virava uma espécie de vigilante que trazia justiça para pessoas com problemas e dificuldades com o crime. Como toda adaptação de séries daquela época, o filme se propõe a explicar como ele chegou a ser o vigilante do material original.

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Teri e Robert conversam. Diálogos metafóricos.

O roteirista Richard Wenk fez sua carreira com filmes de ação oitentistas. É o que ele faz aqui. Uma traminha de homem habilidoso que trava guerra contra alguma máfia/gangue para salvar alguma vítima inocente. Bem clichê, a sacada está na construção. Wenk faz do protagonista, Robert, um homem tão meticuloso que beira o transtorno obsessivo compulsivo. Em suas noites na lanchonete, ele lê obras como Dom Quixote e O Velho e o Mar. Diversas analogias relacionam o velho perdido no mar aberto com Robert. Diálogos entre ele, seus colegas de trabalho e até com a prostituta são bastante significativos, elaborados e introspectivos.

Nessa primeira parte, o diretor Antoine Fuqua revela como pode ser um grande diretor. Usa de fotografia para contar a história. Cria excelentes movimentos de câmera e enquadramentos e faz um drama pungente sobre um homem com um passado obscuro e que o forçou àquela vida de solidão. Principalmente explorando a ideia de um homem obsessivo compulsivo que vive com a ideia de ter as mãos sujas de sangue.

O problema começa quando O Protetor vira um filme de ação. Robert, com sua meticulosidade, não comete erros. Ele é um monstro. Literalmente, no final do filme ele começa a matar capangas como se eles fossem baratas. Com exceção da primeira cena em que ele enfrenta alguns bandidos, nunca se tem a impressão de que ele está realmente em perigo. A diversão nessas partes fica apenas em ver como ele vai matar o próximo inimigo. Seja com uma furadeira na nuca, abrindo uma cabeça com um copo de drink ou usando arame farpado para enforcar alguém.

Mas o filme se demora nisso, com mais de metade da duração focada nessa ação. Robert, sozinho, mata toda a máfia russa do país. Não sobra um. Ele praticamente acabou com metade do crime organizado dos Estados Unidos no final do filme. Fica uma repetição de violência gratuita sem suspense até chegar ao final.

Como em todo epílogo de filme, Robert e Teri voltam para sua vida comum. Porém, sem metade da inspiração dos diálogos e analogias do primeiro ato. Vira uma espécie de final piegas e tosco de sessão da tarde.

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O vilão psicopata. Uma das melhores coisas do filme.

Denzel Washington é um grande ator. Em cada cena, ele constrói os sentimentos e emoções de Robert com pequenos movimentos e trejeitos mínimos. Principalmente na retratação do transtorno. A Chloë Moretz lutou por este papel e realmente se entrega para criar essa prostituta sofrida que odeia a vida que leva.

Outro que está muito bem é o Marton Csokas. O neozelandês tem uma daquelas caras que você lembra de ter visto em outros lugares. Aqui ele faz um psicopata super eficiente e inteligente. É uma das melhores coisas do filme.

Quando O Protetor termina, fica a impressão de que o filme largou todo o potencial no meio para agradar aos fãs da série original e os fãs de filmes de ação. Ainda assim, aquele primeiro ato é excepcional.

2 comentários em “O Protetor

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