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O Lado Bom da Vida.

THE SILVER LININGS PLAYBOOK
David O. Russell está de volta. Em 1999 ele surpreendeu todo mundo com seu Três Reis, ficou apagado com Huckabees e voltou aos holofotes mais de dez anos depois com O Vencedor. Mas a verdade é que o filme chamou a atenção mesmo pelo desempenho arrebatador do Christian Bale e pela história poderosa. Russell apenas fez tudo certinho e o filme deu conta de si mesmo. Depois foi a polêmica envolvendo a adaptação de Uncharted, da qual se desvencilhou porque queria fazer esse O Lado Bom da Vida.

O filme acompanha o relacionamento de Pat e Tiffany. Ambos tiveram algum tipo de colapso mental após uma crise em seus casamentos. Ele descobriu ser bipolar quando pegou a esposa o traindo. Ela caiu em depressão e fez sexo com todas as pessoas de seu antigo emprego quando o marido morreu. Pat acaba de sair do hospício e faz um acordo com Tiffany, ela entrega uma carta escrita por ele para a ex-mulher e ele será o par dela em um torneio de dança.
É uma comédia romântica, mas a proposta muda um pouco. Não estamos apenas torcendo para que os dois fiquem juntos numa linda história de amor. Estamos também acompanhando a rotina de pessoas com problemas sérios e reais com sinceridade e sutileza.
Adoro que o filme comece com os dois depois de superar os traumas e estarem na fase de reintrodução em ambiente social. Porque os dois tiveram que criar suas estratégias e graças a elas vêem a vida com um otimismo invejável. Otimismo que os coloca em situações complicadas com outras pessoas. Em um jantar, Tiffany é honesta e avisa que quer ir embora por estar cansada antes da comida ser posta. Não é por querer magoar a irmã ou por falta de respeito. Ela o faz porque precisa ser sincera devido à sua estratégia para lidar com a vida.
Quando se conhecem, Pat e Tiffany conseguem conversar sobre seus problemas de igual para igual por conhecerem assuntos relacionados. Discutem medicações, filosofias, comparam problemas, brigam e se entendem. Ela aceita instantaneamente que quer ficar com ele. Ele ainda pretende voltar para a esposa. Por isso Tiffany começa a manipular tanto ele quanto as situações para que tenham mais contato e quem sabe, ele acabe resolvendo ficar com ela.
Parece idiota, e em certo nível é, mas nada disso nunca é dito. Sabemos dessas coisas pelas interpretações. Jennifer Lawrence e Bradley Cooper estão tão incríveis que compreendemos seus problemas e suas emoções imediatamente, por mais incomuns que sejam. Ambos têm que lidar com preconceito, momentos difíceis de suas respectivas condições e com a falta de compreensão das pessoas mais próximas. Por sinal, chamou a atenção a participação rápida, hilária e tocante do Chris Tucker como ex-colega de Pat no hospício. Ele também os entende e consegue dialogar com o casal melhor que o resto dos personagens.
O elenco de apoio também está de parabéns. Robert De Niro entrega uma performance linda de um pai desajeitado e instável que não sabe como demonstrar sua preocupação com o filho. Jacki Weaver é a mãe que entende o sofrimento e entende suas ações, mas que não sabe se comunicar. Por sinal, ela tem alguns momentos lindos sempre que se fala de Pat dançando. Todo mundo faz seus papéis com eficiência e honestidade.
E O. Russell dirige bem. A história se passa em Filadélfia, e ele constrói um ambiente urbano palpável. Dá pra sentir a cidade viva através do filme. As pessoas, as rotinas, o clima. Mas o valor da direção está mesmo em como nos faz sentir próximos de Pat. A câmera sempre está próxima das pessoas, se movimentando, na altura do ombro. Temos a impressão de que estamos lá, juntos. Quando o personagem do De Niro abraça o filho pela primeira vez após a internação, temos a impressão de que seremos os próximos a abraçá-lo, como se fôssemos convidados na casa, conhecidos de todos.
Quando Pat é apresentado a uma situação nova, a câmera gira ao seu redor, deixando-nos confusos assim como ele provavelmente está diante das novidades. Quando ele tem algum problema, a câmera se afasta e nós o abandonamos. É muito sutil e é um ótimo trabalho. Queremos ajudar Pat o tempo inteiro e ficamos com a sensação de impotência.
Outro grande mérito de O. Russell é contar a história através de imagens. Pat volta pra casa e vemos uma parede com o quadro do irmão pendurado. O dele está no chão. Não precisa dizer que os pais amam mais o outro filho, as imagens contam isso. O diretor enquadra Pat com alguma coisa separando os pais dele, mesmo que estejam no mesmo ambiente. Sentimos a distância apenas ao olhar a cena.
A coisa de que mais gostei é que a maioria das situações constrangedoras e incomuns surgem não apenas porque Pat, Tiffany ou Danny (personagem do Chris Tucker) falam ou agem de forma incomum. Todos têm problemas sérios. Seja o pai de Pat, que tem problemas de controle de raiva e algum grau de transtorno obssessivo compulsivo. A mãe, que não sabe se comunicar com ninguém. O melhor amigo, que tem um casamento em frangalhos. O policial, que talvez seja o personagem mais preconceituoso. Alguns problemas apenas são mais públicos que outros.
Infelizmente o roteiro desanda um pouco no final. Fica claro que Tiffany é muito egoísta, controladora e não se importa muito com os outros. Todo o carísma da personagem se sustenta pela interpretação arrasadora de Lawrence. O romance entre os dois não convence, principalmente porque é pautado naquela velha história de “eu soube que te amo no momento em que te vi pela primeira vez.” É bonito, é romântico, houveram suspiros de mulheres na sala quando aconteceu, mas destoa do resto do filme e fica apenas bobo.
Como termina assim, passa a impressão de se tratar apenas de mais uma comédia romântica besta. Apesar de ser um ótimo filme, não creio que mereça Oscar de melhor filme ou direção. Mas Cooper e Lawrence são arrebatadores e merecem toda a atenção que vêm reunindo.
 
GERÔNIMOOOOOOOOOO…

4 comentários em “O Lado Bom da Vida.

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