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O Impossível.

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A maioria das pessoas lembra do evento em 2004 no qual um tsunami atingiu o litoral da Tailândia e passou destruindo tudo o que havia pelo caminho. Clint Eastwood já havia feito uma demonstração cinematográfica do fenônemo nos primeiros e assombrosos minutos de Além da Vida. Agora o desastre volta às telas, desta vez tomando toda a duração e a temática do filme O Impossível.

Uma família britânica vivendo no Japão resolve passar o natal na Tailândia. Alguns dias depois da celebração, enquanto brincam na piscina, um tsunami varre o hotel onde se encontram. O filme acompanha a partir daí as agruras dos membros da família tentando se reencontrar e se manter seguros e saudáveis.
Adoro filmes catástofres. Eles servem normalmente para tratar de temas relacionados às atitudes humanas em seus momentos de desespero. Quem se sacrifica pelos desconhecidos, quem abandona a todos para se salvar, quantos começarão a ver outros como inimigos?
Recentemente filmes vêm mostrando um lado mais pessimista. São sempre grupos de pessoas se isolando e deixando de confiar em quem quer que seja. Passam a noção de que não podemos confiar em ninguém e que estamos completamente sozinhos nesse mundo. O Impossível segue o caminho oposto.
Enquanto no filme de Eastwood existe um esforço visível para realizar uma cena grandiosa através de efeitos especiais espetaculares, aqui o diretor Juan Antonio Bayona segue momentos mais individuais. Quando seguimos os momentos da onda, acompanhamos a visão da mãe, interpretada pela Naomi Watts. Depois, cada parte é acompanhada do ponto de vista de algum personagem específico.

A família antes da tragédia.
A família antes da tragédia.

Impressiona porque é baseado em fatos reais. O que acontece com os personagens aconteceu de verdade com uma família por lá. E Bayona se aprofunda nas experiências pessoais sem deixar de revelar no fundo ou através dos próprios esforços dos personagens todas as dificuldades e os problemas que surgem em situações como aquela.
Enquanto o filho mais velho procura ajudar as pessoas no hospital onde se encontra, vemos pessoas desesperadas atrás de seus entes queridos. Quando o pai, Ewan McGregor, procura pelos hospitais pelos filhos e pela esposa vemos ao fundo o inferno pelo qual as milhares de pessoas atingidas passaram. Enquanto o menino conforta pessoas desconhecidas apenas para passar o tempo, testemunhamos a falta de estrutura para lidar com o número de feridos precisando de hospitais.
É grande porque o evento foi grande em escala. Mas as cenas são simples e focadas em coisas menores, o que aumenta o realismo e a tensão. A primeira coisa que aparece após a cena das ondas chegando é a mãe abraçada contra uma árvore no meio das correntezas chorando. Compreendemos imediatamente o desespero e o escopo da situação. Somos lançados no que é estar tão perdidos, tristes, cansados, doloridos, sozinhos e desesperados.
E mesmo no meio de todo aquele inferno e sofrimento vemos a esperança. Maria e Lucas, a mãe e o filho mais velho, escutam o choro de um bebê e começam a discutir. Lucas quer ir em busca de segurança, Maria quer ajudar a criança. Ele argumenta que se ajudarem o menino, vão correr risco de morte, ela responde apenas “nem que seja a última coisa que nós fizermos”. Daí pra frente o que acontece são pessoas se ajudando. Mesmo quando não têm porque.
Maria e Lucas esperam por ajuda no topo de uma árvore e recebem socorro imediatamente quando são encontrados. As pessoas não questionam, não se preocupam com seus problemas primeiro, apenas ajudam umas às outras. Henry, o pai, compreende porque as pessoas não compartilham seus celulares e se abre com outro pai de família solitário. O estranho não só lhe permite fazer uma ligação como parte junto com ele para buscar sua família. Além disso, durante a ligação Henry recebe o apoio de praticamente todos os desconhecidos ao seu redor.
Essa cena por sinal, é a grande cena do filme. Nada mais que um monólogo de McGregor com um celular no ouvido. O ator protagoniza a cena mais emotiva do filme, de encher os olhos de lágrimas. Outro que rouba as cenas em que aparece é o menino Tom Holland, que faz o Lucas. Ele tem a própria jornada a seguir, e o ator mirim carrega essas cenas nas costas com aparente facilidade.
Bayona busca criar um grande suspense. De repente um personagem lembra de um parente e nós ficamos preocupados juntos com eles. O que é uma qualidade e um defeito ao mesmo tempo.
Assim que a onda gigante bate logo no começo do filme, partimos na jornada de Maria e Lucas. Por uma grande parte do filme ficamos juntos com eles, sem saber se o pai e os irmãos estão mortos, ainda mais preocupados com as feridas terríveis da mãe.
O problema é que o material exige divulgação do fato de que o pai e os irmãos estão vivos. Seja pela venda do filme, pelo nome do Ewan McGregor ou pelas críticas do filme. Assim sendo, uma grande parte do suspense morre antes mesmo do filme começar.
Maria e Lucas, suas preocupações são as nossas.
Maria e Lucas, suas preocupações são as nossas.

O diretor espanhol não é explícito. Não vemos mutilações nem cenas fortes, apenas uma que ocorre com Maria em um corte rápido mais porque é importante para a história que para chocar. Ele sabe que o importante é o sofrimento e a esperança, não o visual e os choques.
E Bayona recorre tanto ao suspense que se perde em alguns momentos. Como no final, em que cria uma cena com tantas coincidências que chega a ser cômica de tão absurda, por mais que seja emocionante.
O que achei mais interessante foi o recurso sonoro. A trilha se divide em três, momentos de suspense rápido, momentos lentos de pura emoção e momentos sensoriais. A trilha mistura efeitos de água e instrumentos fazendo barulhos mistos. É um recurso sensorial complexo. Em um ponto vemos a Naomi Watts emergindo da água em câmera lenta com essa trilha representando o triunfo da sobrevivência, em outra ela toca com a chegada das águas do tsunami representando o terror do choque prestes a acontecer.
O roteiro tem diversos momentos mal resolvidos e a montagem derrapa aqui e ali. Mas no geral é uma experiência extremamente positiva e emocionante.
Fica a mensagem lindíssima de esperança e as emoções de todo o sofrimento da jornada daquelas pessoas. No começo são uma família de renda alta pensando em salário e empregos, em questão de segundos emprego e dinheiro deixam de ser problemas sérios. Coloca as coisas em perspectivas. A vida e a companhia das pessoas queridas são as coisas mais importantes.
 
GERÔNIMOOOOOOOO…

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