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O Homem que Sabia Demais (1934)

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O Homem que Sabia Demais é um exemplo do estilo clássico de filme do Hitchcock. O MacGuffin é uma informação, mais abstrato impossível, mas a trama é sobre um casal tentando salvar seu rebento. O problema dessa versão inglesa foi explicado pelo próprio Hitchcock. É um filme feito por um “amador de talento”.

É uma trama de espionagem complicadíssima e cheia de reviravoltas com menos de 80 minutos de duração. Então tudo o que acontece é de uma pressa absurda. Um casal está na Suíça numa competição olímpica, de repente a mulher tá dançando com um francês, rola um tiro, tem uma mensagem escondida no pincel, a criança foi sequestrada e xablau. Isso com menos de cinco minutos de filme.
Como muitos filmes antigos, a versão inglesa de O Homem que Sabia Demais vale de uma certa inocência em sua construção. O mundo é cômico demais, as pessoas confiam demais, é tudo fantasioso demais. O diretor era jovem ainda e não tinha todo o conhecimento que viria a ter com seus clássicos maiores. Para lidar com essa falha de construção, usa de um misto de suspense com humor o tempo inteiro.
A família Lawrence é apresentada como um grupo de ingleses divertidos demais. Contam piadas o tempo inteiro e praticamente não possuem personalidade. Quando a trama os atinge e precisam escolher entre salvar a própria filha ou a vida de um político qualquer, começam a resolver as intrigas com o mesmo humor de antes. Causando risos involuntários eventualmente.

A mãe em sua busca para salvar a filha.
A mãe em sua busca para salvar a filha. Riso involuntário.

Não sei como a cena da luta com as cadeiras dentro da igreja não se tornou clássica. Em certo ponto, o protagonista se vê cercado pelos inimigos e, desarmado, começa uma guerra de arremesso de cadeiras com os vilões. E por dois minutos desenrola-se uma cena constrangedora, onde é impossível não rir dos móveis acertando todo o elenco presente e se desfazendo com os choques.
É uma característica negativa, mas que dá um certo charme à produção. Ela não se leva a sério demais, apenas o suficiente para ter diversos momentos de um bom suspense. O desenvolver do roteiro é até bom. Cada pista leva para algum evento lógico que os aproxima cada vez mais de rever a filha. Até que estamos no Albert Hall em Londres e a famosa cena do címbalo e do tiro acontecem.
Hitchcock fez uma composição com elementos que viu no seu dia a dia. Transformar a jornada do instrumentista de apenas uma nota em um contador para um assassinato é uma ótima forma de criar suspense. Aqui e ali ele faz umas brincadeiras como colocar uns frames rápidos de movimento durante um desmaio ou uma imagem de um trem para representar um golpe.
O tiroteio no final é inspirado em um evento real, no qual Churchill teve participação. Parece ridículo no filme, mas aparentemente foi daquele jeito na vida real, quando a polícia inglesa não tinha permissão para porte de armas.
Como um bom exemplo de filme da época da falta de cores, o filme segue a risca o padrão de fotografia do período. Usa a luz para diferenciar os personagens do cenário e todas essas trucagens.
Os atores brincam bem com seus estereótipos, com destaque para o Peter Lorre. Recém saído de O Vampiro de Düsseldorf, foi a estreia do lendário ator em um filme de língua inglesa. Ele compõe um vilão do estilo “champagne” maravilhosamente. Não precisa sair do estereótipo, basta fazer um excelente personagem estereotipado.
Peter Lorre. Vilão "champagne".
Peter Lorre. Vilão “champagne”.

Faltou uma construção mais adequada da trama, erro que o diretor corrigiu no remake que ele mesmo dirigiu em 1956. Ainda assim, é uma sessão bastante divertida, seja pelo bom suspense ou pelas comédias voluntárias e involuntárias.
 
GERÔNIMOOOOOOO…

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