Postado em: Reviews

O Guerreiro Silencioso

morten-sc3b8borg-vahalla-rising
Lá pelos idos de 2009, antes deste filme ser lançado, assisti ao trailer internacional de algo chamado de Valhalla Rising. O motivo pelo qual fiquei interessado foi o ator Mads Mikkelsen, que estava começando a chamar minha atenção com suas participações primorosas em alguns filmes da época. Não fazia ideia de que as cenas que via eram as minhas primeiras do diretor Nicolas Widing Refn.

Um guerreiro mudo com poderes sobrenaturais é mantido como escravo por um grupo de vikings nos anos 1000 D.C. Ele se liberta do aprisionamento e foge com um garoto até encontrar um grupo de vikings cristãos que lhe prometem riqueza e paz religiosa caso os siga até as terras santas.
Até 2009 Widing Refn era reconhecido como um diretor de uma tal de trilogia Pusher e por Bronson. Hoje ele é bem mais famoso pela parceria com o ator Ryan Gosling nos filmes Drive e Só Deus Perdoa. Além disso, a fama adquirida do ator Tom Hardy fez com que muitas pessoas procurassem Bronson. Então Widing Refn entrou no radar popular internacional. Minha vontade de assistir Valhalla Rising (o nome original de O Guerreiro Silencioso) apenas aumentou, principalmente após ter curtido tanto Drive e Bronson. Foi quando a mostra Visões do Novo Cinema Dinamarquês se apresentou.
Meu pai descreve Drive como o filme violento mais monótono que ele já viu, assim como o filme monótono mais violento. Acredito que é uma das definições mais interessantes do cinema de Widing Refn. Violência é uma constante e a lentidão típica do cinema mais “artístico” também. É o estilo utilizado neste O Guerreiro Silencioso, mas aqui os dois lados são mais elevados que no resto da filmografia de Refn. A violência é tão explícita que a palavra gore se adequa perfeitamente. Ao mesmo tempo, os longuíssimos planos sem diálogos e com o cenário em profusão garantem uma lentidão pesadíssima.

valhalla03-bigO guerreiro e sua visão sobrenatural.

Refn retrata o guerreiro mudo como o Sergio Leone retrata seus heróis. O diretor dinamarquês coloca imagens dos cenários cheios de marcas e relevos para logo em seguida mostrar os rostos fixos de seus cidadãos também cheios de marcas. É uma demonstração visual de que aquelas pessoas são parte daquela terra. Grande parte dos enquadramentos são tão bonitos dentro dessa composição que poderiam ser emoldurados e pendurados numa parede. Tudo isso remete à estética do clássico diretor italiano. Além disso, a temática da discussão do masculino também se repete em toda a obra de Refn. O motorista monossilábico de Gosling em Drive é tanto uma referência ao pistoleiro sem nome quanto o nórdico sobrenatural de O Guerreiro Silencioso.
Filmado quase todo na Escócia, o filme usa de uma fotografia linda para apresentar o mundo das highlands medievais através de suas esplendorosas planícies sobrepujadas por uma neblina quase sobrenatural. O guerreiro, que fica conhecido como Caolho, é mudo e tem um passado misterioso. A princípio ele parece ser apenas mais um dentre os nórdicos, mas sua origem é questionada para outro personagem e a resposta é que ele veio do inferno. Ironicamente, é justamente quando embarca com os novos católicos que ele e o novo grupo chegam a um local novo que reconhecem apenas como o próprio inferno.
Dentre os ensinamentos das duas culturas e de suas religiões, Caolho está erguido acima das respostas que todos tentam encontrar. Justamente por não tentar guiar, ensinar ou qualquer das coisas que as religiões buscam que ele é o único que sabe as soluções para as situações. Ele é silencioso, calmo e correto.

urlO menino que acompanha Caolho.

O menino que o segue também é a única pessoa que consegue perceber os valores do personagem. Talvez porque ele seja o único sem religião pré definida ou por conta de sua inocência (por mais que veja coisas grotescas através da jornada). Ele chega até a ser o único que consegue ouvir a voz do protagonista, que nunca é ouvida pelo espectador. Considerando todos os elementos além da explicação física, será uma mensagem do diretor ou apenas uma estratégia narrativa.
Acredito que é justamente o oposto. Refn está dizendo claramente que o espectador é tão sujo e terrível quanto os nórdicos. Que as religiões e a malícia atuais são quase medievais e ultrapassados. Vale lembrar que o nome do filme original pode ser traduzido para Valhalla se ergue. Para quem não sabe, Valhalla é um evento da mitologia nórdica no qual os espíritos dos guerreiros valiosos se juntam aos deuses para a batalha do fim do mundo. Considerando o aspecto sombrio criado pelas neblinas das montanhas, será que todo o filme se passa num pós-vida e a única pessoa que realmente sabe o que está acontecendo é o Caolho?
É um filme extremamente complexo em sua composição, mas com trama extremamente simples. Daqueles em que o que realmente importa não é a história, mas o que seus longos enquadramentos e pequenos momentos significam. Justamente por isso, não é um dos filmes mais fáceis de se ver, mas cujo esforço é satisfatório.
 
ALLONS-YYYYYYY…

7 comentários em “O Guerreiro Silencioso

  1. Você saca a imbecilidade das pessoas quando julgam que um filme é ruim porque o animalzinho não entendeu. E olha que hoje em dia praticamente todo mundo tem acesso a internet para pesquisar. Mas claro que é mais fácil o burro dizer que algo não presta do que pesquisar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.