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O Escândalo (Bombshell – 2019)

Crítica por Marcela Rodrigues

O filme que fez Margot Robbie e Charlize Theron serem indicadas ao Oscar nas categorias de melhor atriz coadjuvante e melhor atriz respectivamente, retrata período em que jornalistas do canal de TV conservador Fox News se unem para denunciar os assédios sexuais que sofreram nas mãos do CEO Roger Ailes.

Com Nicole Kidman integrando esse elenco de peso, uma história envolvente e várias indicações em diversas premiações, eu criei uma certa expectativa com esse filme. No entanto, saí da sala de cinema decepcionada, me perguntando: como não pude me emocionar com um produto em que, como mulher, sou o principal público alvo?

Então, um dos primeiros pensamentos que tive foi: será que teve alguma mulher envolvida na direção ou no roteiro? Quando fui conferir, boom! Apenas homens. E aí todos os defeitos do filme começaram a fazer mais sentido, e o que tinha todo o potencial de ser um dos filmes mais impactantes do ano, não passa de mais um “oscar-bait” (tipo de filme que foi produzido com o único objetivo de receber indicações para o Oscar).

Charlize Theron chama a atenção da audiência pela indicação de melhor atriz.

O problema de não ter nenhuma mulher em posição de destaque na produção de um filme que aborda assédio sexual, é que nenhum homem realmente entende o que é passar por esse tipo de situação, e isso fica evidente no filme, ao apresentar o tema de forma extremamente superficial com cenas e diálogos rasos que não vão além da ponta do iceberg.

Uma das personagens mais interessantes do filme é vivida por Nicole Kidman, apresentada como uma mulher forte, que é a primeira a falar publicamente sobre os assédios que sofreu. Porém, quando é chegado o momento de aprofundar sua personagem, ela se torna apenas aquela que conduz a trama de um ponto para o outro, sem qualquer conflito ou motivação sendo levados em consideração. Na verdade, isso se repete até mesmo com os papeis de Charlize Theron e de Margot Robbie.

A primeira vive a jornalista Megyn Kelly, que na vida real foi uma figura muito importante para dar embasamento às acusações, mas no filme há uma constante cobrança por ela não ter feito mais pela causa ou não ter se manifestado antes, refletindo o famoso ato de colocar a culpa na vítima. Já Robbie vive a personagem fictícia Kayla, que nada mais é do que um estereótipo cheio de clichês da garota inocente e ingênua que quer crescer na carreira.

Nicole Kidman começa como uma das melhores personagens e se perde no filme.

O filme não entrega todo o potencial que a história tem, seguindo o lado mais seguro apenas para causar o burburinho em Hollywood e assim, quem sabe, receber alguns louros. A sensação que fica é que mais uma vez as mulheres estão falando, mas não estão sendo ouvidas, o que era para ser a última coisa que uma mulher deveria sentir ao assisti-lo.

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