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O Boneco do Mal (The Boy – 2016)

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Filmes de terror seguem um conceito básico. Existe algo em um espaço que ameaça uma pessoa. Nos melhores casos, o objeto perseguidor é uma analogia a algo real que perturba a vida do perseguido. Raramente algo novo é realizado, mas este O Boneco do Mal tenta fazer diferente. Não há como saber durante o filme se o que existe no ambiente é uma ameaça ou algo diferente.

Greta Evans (Lauren Cohan) é uma americana que aceita o emprego de cuidadora de uma criança de família rica na Inglaterra enquanto os pais viajam. Quando chega lá descobre que o garoto, Brahms, é um boneco. Ela fica na casa durante a viagem dos patrões, mas aos poucos começa a perceber que coisas estranhas acontecem, como objetos que mudam de lugar e uma estranha movimentação de Brahms, que é um substituto para um garoto real que morreu décadas antes.

O Boneco do Mal é um filme de terror com base no suspense e no mistério. Afinal de contas, é Brahms o responsável pelas coisas que acontecem na casa ou existe alguma força diferente? A ideia é criar medo através da sugestão e não de sustos. Pode ser ou não que Greta está em perigo.

de olho
Vigiada pelo retrato do verdadeiro Brahms. Será que Greta corre risco?

Se existe originalidade na forma como o filme revela uma versão diferente do horror comum, na realização ele é, em diversos aspectos, mais do mesmo. Desde o mundo monocromático que indica uma fotografia preguiçosa, passa pelo mundo de regras rígidas da família de Brahms feito quase que exclusivamente para intimidar a protagonista, até a mansão de madeira carregada de tons escuros que salientam as sombras.

Apesar dos defeitos da fotografia, é preciso dar destaque para duas características da mesma. Primeiro quando existe destaque para o rosto de Brahms. O boneco é imóvel e incapaz de mudar as expressões, mas movimentos com os jogos de luz alteram o que o rosto dele apresenta em closes que criam noção de perturbação. A outra qualidade se encontra nos enquadramentos, que fazem do casarão onde a história se passa um lugar bizarro. Escondem partes do cenário durante a cena para que o espectador não tenha noção de onde uma ameaça possa estar escondida. Mais à frente na produção, quando Greta passa a considerar que existe vida no boneco, ele deixa de ficar escondido para ser enquadrado como personagens humanos normalmente são.

Ao contrário da forma como é filmado, o roteiro do filme sofre com acúmulos de defeitos. Existem diálogos expositivos em que Greta conversa com um interesse romântico local e fala para ele tudo o que pensa. O problema escala porque as respostas dele normalmente são para convencê-la de que nada acontece na casa. Depois de um evento em que as forças misteriosas da casa forçam Greta a dormir no sótão e ela claramente escuta passos pelos cômodos, ela esclarece para Malcolm (Rupert Evans) sobre como acha que talvez veja e escute coisas que não estão lá. Ele diz que a escada para o sótão solta e prende aleatoriamente e que a casa faz barulhos porque é velha e venta na região. São clichês bobos que servem para que ela se mantenha no ambiente de terror mas que causam desconforto no espectador que já está de saco cheio dessas desculpas bobas.

hora de nanar
Papai e mamãe. Família exageradamente perturbadora.

A única grande qualidade do texto é o fato de que ele se foca no suspense sugerido e não em sustos. O filme como um todo possui duas cenas com barulhos surpresas e ambas envolvem pesadelos fora de contexto. No mundo da história, porém, nunca se mostra Brahms em movimento, mas vê-se sombras e escuta-se pegadas e vozes.  É inteligente não revelar demais. Até o momento da grande reviravolta final, onde o suspense acaba e até o subgênero de horror muda. Se o diretor William Brent Bell manteve bem o terror até esta parte. Na nova linguagem ele não se sustenta. Com o texto mal escrito da Stacey Menear, fica ainda pior.

Os dois atores principais, e praticamente os únicos da produção, são bons. Lauren Cohan sabe passar entre os sentimentos de Greta com naturalidade. Seja a estranheza de conhecer pais que tratam um boneco como uma criança, seja no passado que a assombra e a impele a aceitar o boneco como receptáculo de um espírito. Evans não é mal ator, mas os péssimos diálogos e falas dele não permitem que ele possa revelar uma interpretação realmente boa.

Não é um grande filme de terror, mas é melhor que o que a maioria das produções do gênero oferecem com frequência. Também ganha pontos por tratar o horror como uma potencialidade e não como uma certeza. Nas mãos de roteiristas mais eficientes, poderia ser uma obra-prima.

 

FANTASTIC…

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