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Notre Dame (2019)

Notre Dame é um nome evocativo. Marco da que talvez seja a capital mais reconhecida da Europa. No centro de uma das cidades com maior influência cultural no mundo. Também é uma catedral de história fascinante. Desde a construção que levou mais de século, até a forma como sobreviveu a desastres e tragédias históricas. Mas ela não é o tema desta produção que carrega o nome dela.

Como o metrô de Paris receberá uma extensão até a praça diante da catedral de Notre Dame, a prefeitura da cidade inicia um concurso para arquitetos locais criarem projetos de revitalização do espaço. Maud Crayon (Valérie Donzelli) ganha o projeto e precisa liderar a construção logo quando descobre que está grávida do terceiro bebê, enquanto tenta expulsar o ex-marido de casa, e reencontra um antigo amor da juventude.

Valérie, que também é diretora e co-roteirista de Notre Dame, conta uma crônica urbana leve e bem humorada sobre as dificuldades da rotina para uma mulher parisiense nos tempos atuais. Nesse período da vida de Maud, busca abordar os amores, o trabalho e as pressões sociais que mulheres enfrentam.

Episódios em um único filme

Se a ideia é interessante, a concepção é falha em diversos níveis. Junto com o roteirista Benjamin Charbit, Valérie escreve uma história incompleta e episódica. Em certo momento, é sobre o encanto com o romance de juventude Bacchus Renard (Pierre Deladonchamps). De repente, com um corte para outra cena, é sobre um processo judicial.

Para piorar, é revelado que Maud e Renard começaram a namorar neste corte entre cenas. O que deixa o espectador mais confuso. Isso depois de uma montagem que revela muito do que aconteceu no projeto para a praça. Enquanto essas cenas passam com algumas piadas pastelões, uma voz subitamente narra eventos importantes para a trama.

Parece que os roteiristas quiseram pegar todas as regras básicas de roteiro e tentaram subvertê-las uma por uma. Ao invés de mostrar os acontecimentos, eles contam. Sem se importar em narrar uma história com princípio, meio e fim, acompanham tramas paralelas que não se relacionam e, assim, geram cenas que não se encaixam no estilo da produção.

Cena musical fora de lugar.

Por exemplo, há um único momento musical que ocorre depois de mais de uma hora de filme, sem que nada na ambientação desse a entender que o tipo de cena seria natural ali. Então, Notre Dame remove o espectador do universo retratado de novo e de novo.

Protagonista passiva

Mas, o que é pior, Maud não tem ação na história que protagoniza. Ela não se inscreve no concurso da prefeitura. É uma chuva mágica que leva a maquete do projeto para lá. Depois, quando não quer aceitar o trabalho, apenas leva adiante porque colegas falam para ela fazer. O namorado claramente não gosta de que o ex-marido ainda viva com ela, mas a personagem não tem coragem de mandá-lo embora.

Com isso, Valérie, por mais que seja boa atriz, não consegue construir empatia pela personagem. Para compensar isso, ela faz com que ela seja um estereótipo da mulher moderna “desconjuntada” de comédias. Ela desmaia ao encontrar o suposto amor da vida dela, força um colega de trabalho a dormir na casa para ver se o ex-marido vai embora, mas acaba tendo que dividir a cama a três. Mesmo engraçados, esses momentos reforçam a falta de ação da personagem.

Valérie também tenta criar uma noção de fantasia para a capital francesa. Há uma onda de estapeamentos aleatórios nas ruas que geram cenas hilárias. Com alguma frequência, a diretora retrata os sonhos e a imaginação de Maud. Mas ela muda de forma e de estilo em diferentes pontos da narrativa, o que vira um problema de ritmo.

Cada cena “diferentona” é um show à parte.

No entanto, essa inventividade tem seus momentos. Cada cena “diferentona” é um pequeno show à parte. E os atores demonstram uma desenvoltura para participar dessas brincadeiras que é impressionante. Mesmo nos momentos mais absurdos ou bobos, eles mantêm o nível de interpretação e sustentam os papéis.

Na perspectiva de fazer aquele humor voltado para a mulher moderna, Notre Dame se perde e acaba tão “desconjuntado” quanto tenta fazer a personagem parecer. E os poucos 88 minutos de duração parecem bem mais longos.

Notre Dame (2019)

Prós

  • Boas interpretações
  • Eventuais momentos divertidos

Contras

  • Roteiro episódico e sem foco
  • Protagonista desinteressante

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