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No Olho do Tornado

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Tem um tipo de filme bem específico que eu acredito que deveria estrear pelo menos uma vez por ano. São filmes clichês, bregas, com temas ultrapassados e muitas cenas de comédia involuntária. Mas os próprios criadores não sabem disso e o fazem levando a sério. O resultado são filmes extraordinariamente divertidos. É o caso deste No Olho do Tornado.

Uma equipe de caçadores de tornados, um vice-diretor escolar e seus dois filhos tem seu dia transtornado quando duas tempestades gigantes de tornado acertam a cidade onde se encontram.
No Olho do Tornado é um filme catástrofe. Do tipo mais clássico possível. Uma ameaça natural coloca grupo de pessoas em perigo e os problemas que presenciam refletem algumas críticas. Tudo, é claro, temperado com os efeitos especiais espetaculosos que servem para divertir quem gosta de ver uma boa e velha destruição em larga escala.
Qual o grande problema com esta proposta? Ela corresponde a uma moda cinematográfica que já ficou ultrapassada. A era do cinema catástrofe gerou pérolas como Inferno na Torre, O Destino de Poseidon e Terremoto. Todos com grandes efeitos práticos, na época não se usava computação gráfica, grandes astros e exatamente a mesma proposta de No Olho do Tornado. Então, por que não se fazem mais filmes do estilo? Porque o estilo envelheceu mal. Por mais que os três filmes citados da época tenham sua importância histórica, nenhum deles tem um roteiro que funcionaria nos dias de hoje. Os discursos conservadores soariam piegas e muitas das situações abordadas são tão absurdas que ninguém levaria a sério.
O que não impede alguns diretores de tentar retomar. O Roland Emmerich tentou com 2012 e O Dia Depois de Amanhã e agora o diretor Steven Quale o fez com esta pérola. Se Emmerich peca pela megalomania e por sua má direção de atores, Quale tenta fazer de seu suspense uma diversão mais rápida e passageira. O que funciona bem com a ideia de diversão escapista.
O roteirista John Swetnam pega basicamente o mesmo roteiro de Inferno na Torre, troca um prédio em chamas por tornados e diminui a trama o máximo possível. Tem um personagem com poder hierárquico maior que o do protagonista tomando escolhas ruins, adolescentes presos em perigo, gente brigando por falhas técnicas e até uma cena em que duas pessoas discutem quem é o culpado pela morte de uma terceira. Tudo soa piegas e absurdo. O que é ótimo.
Quale e Swetnam ou não sabem o besteirol que estão realizando, ou sabem e fazem algo genial. Os dois mostram algum talento na parte em que constroem o primeiro ato. A exposição das relações dos personagens e seus conflitos é feita através de câmeras documentais que tem explicação na história. Os caçadores de tempestade estão fazendo um documentário. Os dois filhos do vice-diretor estão fazendo um vídeo “cápsula do tempo” para uma formatura de alunos da escola. As câmeras continuam com eles até o final da produção, mas o filme nunca usa o recurso para virar um mockumentary. Com frequência ele foge dessa linguagem para o estilo tradicional para manter alguma lógica.
O negócio é que todos os conflitos soam tolos e telegrafam para finais felizes óbvios. O protagonista masculino é um pai viúvo. A protagonista feminina é uma mãe solteira. Um adolescente tem interesse numa garota linda, inteligente e inatingível, então passa o resto do filme sendo amável para ela. Um carro feito para sobreviver a tornados é apresentado cuidadosamente. Por aí vai. Tem até um chefe chato e babaca feito exclusivamente para fazer o espectador vibrar com sua morte. Algumas mortes bastante explícitas fazem parte do pacote de diversão catastrófica. A melhor se dá com um tornado em chamas e é uma das mortes mais divertidas que eu já assisti em um filme. Não poderia esperar menos do diretor de Premonição 5. Cenas de ação cuidadosamente planejadas e construídas que se reduzem a piadas acidentais.

into-the-storm-stills-imagesTornado de fogo. Melhor momento do filme.

Essa mesma obviedade e comédia involuntárias são mantidas através da narrativa. Gente que é levada pelos tornados quando é conveniente, mulheres que viram mocinhas em perigo nas horas certas, tentativas de construir tensão com contagem regressiva para salvar as pessoas na última hora. O vice-diretor protagonista não tem tempo nem para conversar com os filhos, mas é extremamente musculoso. O ápice é um momento em que este mesmo protagonista fica com a bunda presa em um bueiro gritando a palavra “não” desesperadamente. Além das piadas que surgem entre quem assiste ao filme, descobrir depois que o ator é o mesmo que interpretou um personagem chamado de escudo de carvalho só aumenta o ridículo do filme.
Este ator é o Richard Armitage, que é muito diferente da figura da trilogia O Hobbit. A mocinha é a Sarah Wayne Clarke, com a mesma relevância de suas participações nas séries de TV Prison Break e The Walkind Dead. Ou seja, esquecível. Armitage e o resto do elenco se esforça apesar dos péssimos diálogos que precisam proferir. Alguns são melhores e outros piores, mas ninguém se destaca. Apenas estão corretos de acordo com a proposta e a diversão.

into_the_storm_2014_images_hd_wallpapers_Elenco afinado observa os efeitos digitais.

É preciso dar destaque para os ótimos efeitos especiais. Na cena mais exagerada, um tornado gigante levanta vários aviões de um aeroporto apenas para demonstrar como o funil de vento final é grande e poderoso. Impressiona porque parecem aviões de verdade sendo sugados por um mega tornado.
No Olho do Tornado é divertido, rápido e vale o ingresso. Porém, pelos motivos que o espectador não está esperando. É uma comédia involuntária na qual se ri das tentativas de ser sério. Ainda diverte com a destruição bem conduzida. Recomendadíssimo.
 
GERÔNIMOOOOOOOOO…

1 comentário em “No Olho do Tornado

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