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Nicolas Widing Refn e a masculinidade

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Meu pai descreve Drive como o filme violento mais monótono que ele já viu, assim como o filme monótono mais violento. Acredito que é uma das definições mais interessantes do cinema de Widing Refn. Violência é uma constante e a lentidão típica do cinema mais “artístico” também. Talvez sejam as duas características mais visíveis do cinema do diretor, mas certamente não são as mais importantes.

Talvez a grande constante no cinema do diretor seja a retratação do masculino. Seus intérpretes são atores com grande capacidades dramáticas e muita presença. De Mads Mikkelsen (com quem trabalhou em Pusher e O Guerreiro Silencioso), passando por Tom Hardy (Bronson), até o Ryan Gosling (protagonista de Drive e Só Deus Perdoa).
Os três são truculentos, seja normalmente ou apenas para os filmes em que trabalharam com Widing Refn. Mas o fato é que a masculinidade é um assunto que deve ser muito querido para o dinamarquês. Tal qual o Sergio Leone se preocupava em repetir certos tipos de homens, é possível ver uma frequência nos heróis de Refn.
Colocando O Guerreiro Silencioso e Drive em paralelo, nota-se que os dois protagonistas possuem variações das mesmas características. O Caolho de O Guerreiro Silencioso tem alguns poderes sobrenaturais que fazem dele um lutador superior a qualquer outro, ele é mudo, tem aquele olhar de um homem que chega a um lugar e observa coisas que os outros não analisam quando chegam em um ambiente. Da mesma forma, o Motorista de Drive possui habilidades especiais com carros e com violência que lhe permitem ser um lutador intimidador. Ele fala apenas quando é extremamente necessário e também carrega o mesmo olhar de quem vê o que os outros não.
Mas eis a característica mais interessante dos dois. Ambos vivem em mundos cruéis, sujos e terríveis, mas ainda decidem quebrar seu padrão de comportamento quando encontram alguém que acreditam merecer proteção. Caolho vai, inclusive, contra representantes de todas as religiões para garantir uma chance de sobrevivência de uma criança. O Motorista vai contra as regras que seguia e se coloca em perigos extremos para garantir que uma mulher inocente possa viver em paz com seu filho.
Em contraste, o personagem de Bronson é falastrão e sem talentos. Até certo nível é possível até dizer que ele é um grande exemplo de ideal masculino perdido em um mundo feio. Justamente por ser o cara perdido, ele precisa falar constantemente para revelar como o mundo o trata mal. E com a excelente eloquência do Tom Hardy, fica ainda mais interessante ouvir o que ele tem a dizer.
Em todos os filmes também existem os homens que não seguem o ideal retratado por Refn. Em Drive temos um vilão tão truculento que compreende completamente o protagonista, mas que prefere fazer parte do mundo sujo e feio que ter os padrões dele. Até certo nível é a única pessoa de quem o Motorista tem medo. Não é a toa que Refn buscou um grande ator como o Albert Brooks para fazê-lo. Diga-se de passagem, o personagem reflete muito o vilão do Peter Fonda em Era Uma Vez no Oeste.
Já em O Guerreiro Silencioso, o homem truculento com valores opostos é religioso. E dentro de sua visão de mundo, ele se torna maluco e até vilão. A diferença é que, neste caso, o Caolho nunca demonstra ter medo de ninguém.
Eu poderia ir longe nessa discussão, mas para fazê-lo acabaria escrevendo uma tese de mestrado (quem sabe eu consigo uma). Acho muito válido assistir aos filmes de Refn para conseguir fazer essa comparação entre seus heróis.
 
ALLONS-YYYYYYYYYY…

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