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Nerve: Um Jogo Sem Regras (Nerve – 2016)

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Nerve é um filme curioso. Chegou sem chamar a atenção com duas estrelas de cinema que também são conhecidas por serem parentes de outras celebridades (Emma Roberts, sobrinha da Julia Roberts, e Dave Franco, irmão mais novo do James Franco). As cores azuis e rosa dominavam o material de divulgação com os nomes da dupla estampados. Parecia um longa de linguagem jovem sem muito a acrescentar. Vale lembrar do velho ditado: nunca julgue um livro pela capa.

Ela, Vee (Emma Roberts), está próxima do fim do ensino médio e se sente apagada entre os amigos. Para provar para eles e para si mesma que tem personalidade e coragem para se destacar, ela aceita participar de um jogo online chamado Nerve. Trata-se de um reality show via aplicativo no qual os jogadores fazem desafios enviados pela audiência. Logo no primeiro, ela conhece Ian (Dave Franco), com quem tem que fazer dupla para realizar tarefas de vida ou morte durante a noite.

Nerve se encaixa em uma categoria interessante de filmes. Nos anos 1980 o Schwarzenegger protagonizou uma adaptação de conto do Stephen King chamada O Sobrevivente. Mais recentemente, uma franquia desconhecida chamada Jogos Vorazes também tratou do tema. O diferencial aqui, é que a trama deixa de falar apenas sobre televisão, ibope e manipulação midiática. O foco é a internet, onde deixa de existir um veículo entre os receptores e os personagens expostos.

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Ian e Vee. Riscos para ganhar fama e dinheiro.

Ninguém melhor para fazer um suspense que questiona a linguagem de internet que a dupla de diretores Henry Joost e Ariel Schulman, que criaram o documentário Catfish, no qual questionam as relações construídas na internet. Os diretores sabem criar ambientação do universo jovem ligado a tecnologia e fazer uso dos recursos de cinema para que a linguagem se assemelhe.

As imagens são filmadas de todos os ângulos, das câmeras dos celulares, de dentro da tela e por aí vai. A estrutura visual criada para acompanhar as estripulias de Vee e Ian são semelhantes a soluções de navegação de computador. Sejam pontos que os acompanham como se fossem identificações em um mapa digital, seja a montagem acelerada que simula a velocidade de vídeos feitos para a internet. Até o uso de grande angulares refletem o uso das câmeras GoPro para filmagem de situações limites.

O grande problema de Nerve não é como a história é filmada, mas a própria história. O roteiro, a partir do final do segundo ato, começa a tratar dos temas pelos quais o filme foi feito. O texto de Jessica Sharzer, adaptado do livro homônimo de Jeanne Ryan, tem diálogos adequados ao universo adolescente e faz analogias interessantes sobre a internet. Mas ele abre mão da coerência em função dessas analogias. Por exemplo, são estabelecidas regras para os desafios que serão propostos aos jogadores de Nerve, mas elas não se adequam a todos os personagens. Vee os recebe em sequência porque o filme precisa que haja um ritmo de suspense enquanto a amiga dela é deixada de lado porque a história precisa que ela seja coadjuvante.

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Romance inesperado. Desafios desenfreados para os heróis porque são os heróis.

O maior defeito, porém, são os vilões. Quando se descobre que eles existem e quem eles são. Existe uma espécie de consciência ilógica que age contra os protagonistas. Quando se para para pensar em como ela existe, é tão sem sentido que toda a estrutura da trama perde a credibilidade. Especialmente o terceiro ato, que simplesmente é absurdo. Por outro lado, o conceito desse “antagonista” é feito pelo bem da mensagem principal.

Existe uma crítica direta ao pensamento de multidão que surge na internet. Ele pode ser visto claramente em comentários de vídeos e de sites de notícia. O anonimato e o distanciamento permite que pessoas se sintam empoderadas a cometer maldades. No caso de Nerve isso é levado a um limite impossível, por mais que interessante e passível de levantar discussões.

Franco e Roberts estão ótimos e emprestam simpatia para Ian e Vee. Os dois são destaques medianos em um elenco mediano. Não comprometem, mas não aprimoram. É até triste ver a Juliette Lewis em um papel tão fraco quanto a mãe ignorante da protagonista.

Nerve é um filme divertido e que prende até o final porque tem uma premissa interessante com muito suspense. Ele dialoga bem com o público alvo e faz críticas relevantes. Infelizmente, os problemas de roteiro fazem com que o que poderia ser uma pérola seja um suspense muito bom, mas esquecível.

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