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Na sala – Guardiões da Galáxia

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Ir ao cinema com frequência acaba criando alguns problemas em exibições mais ocorrentes que com pessoas que não vão muito assistir filmes. Já ocorreu de ver película derretendo. Mais de uma vez o filme sequer começar por conta de problemas com os rolos. Com o cinema digital, já ocorreu de HDs estarem travados, placas de vídeo pifar e por aí vai. Mas, nunca é motivo para você gritar na sala de cinema. Não seja ignorante.

Na quinta em que Guardiões da Galáxia estreou, fui rever o filme com alguns amigos e a namorada. Parte porque queria ver a cena pós-créditos, que não foi exibida na cabine, e parte porque queria ver a reação deles ao filme que havia me agradado tanto. Fomos ao cinema do shopping JK, um cinema novo de Brasília. É um dos melhores cinemas do Distrito Federal, com a melhor imagem e quatro salas com definição de 4k. Infelizmente, acabamos comprando o ingresso para uma das salas que não tinham maior quantidade de pixels.
Entramos na sala animados e um pouco atrasados. Pelo menos o suficiente para perder os trailers. Quando chegamos, uma daquelas animações sobre segurança e as regras do cinema estava passando. Imediatamente, percebi um problema. A imagem estava distorcida. Esticada, para ser mais específico. Porém, como era apenas a animação de segurança do cinema, não fiquei preocupado. Corrigir o defeito em projetores digitais é demorado. E o efeito na animação não significava que o mesmo estaria no filme.
Então começou a tocar a música I’m Not In Love nas caixas de som enquanto os títulos “Earth 1988” tomavam a tela. O problema, as letras estavam esticadas tal qual a animação anterior. Então o primeiro enquadramento de Guardiões da Galáxia preencheu a tela com o defeito. Eu tentei ficar calmo esperando que a imagem melhorasse rapidamente. Mas ela não mudava.
Então, após alguns momentos desse desespero, as primeiras falas do filme foram ditas. E junto com elas não vieram as legendas. O motivo para as legendas não aparecerem na tela é bem simples de explicar. Como a imagem estava esticada verticalmente, ela estava vazando para cima e para baixo dos limites da tela. E a parte que estava vazando abaixo da tela era a parte na qual se encontrava a legenda. Perder a legenda era um problema menor comparado com a imagem problemática.
Porém, foi quando aconteceu a grande surpresa. De repente as outras pessoas da sala ficaram indignadas com a falta de legenda. Eu percebi então, completamente estarrecido, que ninguém havia percebido o problema da imagem. Ninguém. O único problema para eles era a legenda. Para piorar, percebi que eles não estavam apenas gritando de indignação. Eles estavam gritando na direção da sala de projeção. Então, conhecendo os processos de salas de exibição, levantei-me e saí para alertar algum dos funcionários do lado de fora.
O funcionário respondeu apenas que estava ciente dos problemas e que eles já estavam resolvendo. Então voltei para o meu lugar e esperei. Mas o filme não parava, passou muito tempo com aquela qualidade horrorosa. Eu sabia que eventualmente eles iriam reiniciar o filme, mas estava preocupado com como meus amigos estavam recebendo cenas iniciais importantes. Durante essa espera, o restante da sala continuava esbravejando contra a janela da sala de projeção. Alguns ficavam de pé e xingavam desesperadamente. Até que um indivíduo gritou “Para aí, filho da puta!” no exato momento em que o filme finalmente parou. O resto da sala o aclamou como se fosse ele o responsável pelos esforços dos funcionários.
Ainda assim, quando o filme reiniciou, o defeito continuou. Então o filme foi parado novamente. O funcionário da projeção entrou na sala e explicou para o público. Eles não seriam capazes de passar o filme da forma correta por conta de um problema com o arquivo legendado. Então eles passariam uma cópia dublada e dariam uma cortesia para cada pessoa no cinema. Obviamente, eu e metade dos meus amigos nos levantamos e fomos embora. Enquanto 80% das pessoas permaneceram na sala para assistir ao filme dublado.
Quanto aos problemas do cinema, isso não me incomodou muito. Acontece. Esses problemas não são culpa dos funcionários do cinema ou da rede, foi algum erro humano ou de máquina na hora de transpor o filme para o HD. O que mais me incomodou foi a ignorância do público.
Primeiro porque o motivo pelo qual estávamos vendo Guardiões da Galáxia na sala menor era porque era uma sessão legendada. Taguatinga, a cidade onde o JK se encontra, retém um público que, em sua maioria, odeia filmes legendados. O cinema colocou aquela sessão na sala menor porque sabia que não tinha público para as salas maiores em um filme legendado. E o fato de que a maioria das pessoas ficaram na sala tranquilamente quando a cópia dublada começou apenas demonstra que quem se encontrava na sala só pegou aquela sessão porque foi a que sobrou no horário, não porque era legendada.
Outra coisa. Gritar com a janela da sala de projeção não funciona. Os aparelhos de cinema fazem muito barulho. Para que esse barulho não arruíne as sessões, as salas de projeção são isoladas acusticamente. Ou seja, gritar com a janela é a mesma coisa que gritar com uma parede.
Terceiro porque as pessoas não estavam nem um pouco incomodadas com a imagem esticada. O que denota um problema sério com o público brasileiro. E neste caso é só com o brasileiro, que é o único público que não percebe quando o filme está desfocado, como aconteceu durante a exibição de Jogos Vorazes – Em Chamas em que assisti ao filme. Algum funcionário não percebeu que a lente do projetor estava desfocada e fui obrigado a assistir ao filme fora de foco sem que mais ninguém na sala demonstrasse o menor desconforto. E isso não é um problema apenas meu. Já ouvi história de críticos e cineastas que saíram do país apenas porque reclamaram uma vez do mesmo problema e receberam crítica das outras pessoas da sala onde se encontravam.
Fui embora do JK triste porque o público que se encontrava no cinema não era digno de um cinema daquela qualidade. A verdade é que o público padrão brasileiro não é digno de grande parte das boas salas de cinema que temos aqui. Principalmente no caso dos dois cinemas de Taguatinga, que são recebidos por um público que os deixa imundos e força as redes a passar apenas filmes dublados, o que diminui muito a qualidade de som das obras.
 
GERÔNIMOOOOOOOO…

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