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Na Nuvem – Quatro Irmãos

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Não dá pra acreditar que os quatro indivíduos da foto acima interpretam irmãos, mas é o que acontece no filme de 2005 do John Singleton. Se prestarem atenção três deles são os rappers Marky Mark, Tyrese e André 3000. O outro carinha é o Garrett Hedlund, um ex-modelo transformado em ator que, ironicamente, é quem mais faz sucesso hoje em dia. Não parecem irmãos a primeira vista, mas antes mesmo do meio do filme vai ficar a certeza de que eles são família.

Singleton é um diretor inteligente e capaz, apesar de ter filmes questionáveis em seu currículo. Fez um western em tempos modernos, mudou o desértico oeste estadunidense do final do século dezenove para o inverno fechado da Detroit atual. Ao invés das cidades abertas e sem lei, um cenário urbano, mas ainda injusto.
Uma senhora idosa é morta em assalto a uma lojinha. Seus quatro filhos adotivos se reúnem para o funeral e para investigar sua morte. Ela era uma benfeitora que ajudava crianças orfãs carentes a encontrarem famílias adotivas. Quatro dessas crianças nunca foram aceitas por serem difíceis demais, então ela os adotou e criou. Os quatro tiveram diversos problemas durante suas vidas, mas todos sabem que estariam muito pior sem ela.
São quatro homens que viveram fora da lei e agora são cidadãos responsáveis. A morte da mãe é o empurrão necessário para voltarem a pegar armas e partir para as ruas, seja contra gangues, máfias, polícia ou o que estiver no caminho. É uma trama niilista de vingança, daquelas que normalmente descambam para o mau gosto e o lugar comum. Mas Singleton se preocupa em fazer dela um drama e um policial também.
As investigações do grupo os levam a uma cadeia de conspiração e cada pista faz sentido. Nesse aspecto o roteiro é um primor. Por outro lado, os quatro sofrem a perda da mãe cada um a sua maneira. Sentem falta do carinho, da compreensão e até das repreensões da mulher. E Singleton faz isso de forma inteligente. Mostra os quatro lembrando dela, lidando com a partilha da herança, cuidando da casa.
Na melhor cena, os quatro comem juntos na casa onde cresceram e enquanto comem, vão lembrando aos poucos dos momentos na mesa com ela. Cada um lembra de um momento específico que os marcou. Tudo isso em silêncio por parte dos quatro, e com a voz dela sempre presente. É bonito e sensível.
O diretor sabe misturar os dois estilos com cuidado. Quando os quatro buscam vingança através da violência, entendemos porque entendemos também o amor deles por ela. Por sinal, as cenas de violência são impressionantes. Os cenários são pequenos, sem grandes exageros. Um apartamento com um cachorro, dois carros descendo uma rua, uma casa. Singleton constrói o suspense sem precisar de grandes explosões e momentos grandiosos por parte dos personagens.
O que mais incomoda mesmo é o niilismo. Os quatro irmãos chegam a estar acima da lei. A polícia é ineficiente e a criminalidade controla a cidade. Pode ser até uma analogia. Por mais que os Estados Unidos tenham evoluído daquela época cruel e violenta, ele continua sem lei em determinadas regiões.
Surpreende mesmo é a ambientação. Os atores falam como as pessoas da região, as roupas os caracterizam, o clima é visivelmente urbano. A melhor parte é a rotina dos quatro. Compartilham banheiros, fazem piadas um com o outro, brigam. É uma relação muito bem construída. Por mais diferentes que eles sejam, eles parecem família de verdade.
É um filme típico de vingança, mas com a originalidade de fazer um western moderno, com humanidade e inteligência.
Via Netflix.
 
GERÔNIMOOOOOO…

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